A cidade de Barro Alto, no Norte de Goiás, vive um paradoxo: apesar da abundância mineral e da arrecadação mensal de cerca de R$ 10 milhões, enfrenta sérios desafios sociais, urbanos e ambientais. Em entrevista ao Jornal Opção, o prefeito Álvaro Machado de Freitas (MDB) ressaltou a importância da mineração para o município, mas também criticou a baixa circulação da riqueza local e a dependência quase absoluta do setor.

“Estatisticamente, temos uma das maiores rendas de Goiás, mas é uma pseudo-renda, porque o dinheiro não circula aqui. Estima-se que 70% dos funcionários das mineradoras moram em outras cidades e gastam lá”, afirmou. Segundo ele, o custo de vida elevado e a falta de moradias acessíveis contribuem para a evasão populacional.

A Anglo American, multinacional sul-africana que explora o ferro-níquel em Barro Alto, está em processo de venda para a chinesa MMG, o que preocupa a gestão municipal. “Nos preocupa que obrigações assumidas pela empresa anterior não sejam cumpridas. Ficamos de mãos atadas porque o subsolo pertence à União, mas é a população local que herda os problemas”, destacou o prefeito.

Além do ferro-níquel, o município possui a maior reserva de bauxita do Brasil, considerada a de melhor qualidade do mundo. Ainda assim, a falta de beneficiamento local reduz o impacto positivo da atividade. “Os minérios saem daqui in natura, e quem leva o valor agregado são outras cidades. Precisamos que as empresas invistam em fornos e indústrias em Barro Alto para gerar empregos e arrecadação”, disse.

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“Queremos que o dinheiro circule em Barro Alto e que nossa economia não dependa só da mineração”, diz prefeito Álvaro Machado de Freitas | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Machado também chamou atenção para impactos sociais e ambientais. A poeira e a poluição das mineradoras aumentam doenças respiratórias, há suspeitas de contaminação por metais pesados e a área de extração ameaça nascentes que abastecem a cidade. “Temos riqueza mineral, mas também problemas graves de saúde e infraestrutura. Barro Alto ainda não tem rede de esgoto e depende de fossas sépticas”, pontuou o prefeito.

Apesar das limitações, a atual gestão aposta em investimentos estruturantes e na preparação para o “pós-minério”. Entre as iniciativas, destacam-se a criação de um distrito agroindustrial, programas de incentivo à agricultura familiar, reforma e ampliação da rede hospitalar, asfaltamento integral da cidade e distritos, além de investimentos em educação.

“Queremos que o dinheiro circule em Barro Alto e que nossa economia não dependa só da mineração. Estamos preparando a cidade para o futuro, com mais indústria, agricultura e oportunidades para a população local.”

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