Um estudo publicado na revista Nature apontou que grandes emissores de gases de efeito estufa, entre eles as brasileiras Petrobras e Vale, tiveram participação na intensificação de ondas de calor extremo registradas entre 2000 e 2023. Os autores analisaram 213 episódios e atribuíram parte de sua ocorrência às emissões das 180 maiores empresas de combustíveis fósseis e cimento do mundo, conhecidas como “carbon majors”, responsáveis por cerca de metade do aumento na severidade desses eventos desde a era pré-industrial.

Segundo os pesquisadores, algumas companhias emitiram tanto carbono que podem ser associadas individualmente a dezenas de episódios extremos. O levantamento estima que cada uma das 14 maiores petrolíferas do planeta, grupo que inclui a Petrobras, teria contribuído sozinha para cerca de 50 ondas de calor. A Vale aparece na lista devido à antiga atividade de mineração de carvão, encerrada pela empresa em 2022.

A Vale afirmou, em nota, que “reconhece a relevância de estudos como este” e destacou estar comprometida com a redução de emissões, informando já ter diminuído em 27% os gases de efeito estufa de escopos 1 e 2 desde 2017. A Petrobras não se manifestou até a publicação da reportagem. Para os autores do estudo, mesmo os menores emissores entre os “carbon majors” contribuíram de forma significativa para os eventos analisados.

O trabalho destaca o avanço da chamada ciência de atribuição climática, que permite calcular o quanto emissores específicos influenciam em eventos extremos. “Essa ciência emergente está mostrando que não é verdade que a contribuição de cada empresa é muito pequena para causar impactos específicos”, disse Chris Callahan, pesquisador da Universidade de Indiana, à Associated Press.

As conclusões surgem em um momento em que cresce o debate jurídico sobre a responsabilização de grandes poluidores. Em julho, a Corte Internacional de Justiça reconheceu que os Estados têm a obrigação legal de proteger o sistema climático. Já em maio, um tribunal de Hamm, na Alemanha, decidiu que empresas podem ser obrigadas a pagar proporcionalmente pelos prejuízos causados por suas emissões de CO2.

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