Wanderlei Barbosa pode se tornar um candidato forte se expurgar carlessismo do governo do Tocantins

24 outubro 2021 às 00h03

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Ronaldo Dimas permanece como favorito porque é o anti-Carlesse. Se Barbosa titubear, evitando o expurgo dos carlessistas, tende a ser derrotado em 2022

Há uma espécie de inconsciente coletivo no Tocantins que as pesquisas de intenção de voto capturaram à perfeição: há uma rejeição consistente a Mauro Carlesse (PSL), de 61 anos, governador recentemente afastado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A rigor, há, no momento, um sentimento dominante entre os tocantinenses. Eles querem que Carlesse seja afastado de vez e, em seguida, preso. Não só. Clama-se também para que o político e seus principais aliados, como um sobrinho, Claudinei Aparecido Quaresemin, devolvam dinheiro ao Erário. Porque processá-los, e até condená-los à prisão, porém deixando-os ricos às custas do dinheiro público seria, na opinião dos Tocantinenses, uma espécie de “prêmio” àqueles que cometeram irregularidades.
Alertado por aliados, durante anos, a respeito das irregularidades, Carlesse aparentemente não dava a mínima. É como se, no fundo, houvesse dois governos. Um que tocava a máquina no dia a dia. E outro que havia privatizado a máquina pública para um grupo reduzido, do qual, aparentemente, o governador defenestrado seria o chefe, segundo a investigação da Polícia Federal.

Os eleitores do Tocantins queriam, a julgar pelas pesquisas, acabar o poder de Carlesse por intermédio do voto. No poder, ele investia maciçamente na mídia, com o objetivo de evitar críticas (quando foi afastado, um blog deu a notícia, mas fez questão de informar que a notícia era do G1. Ora, não era do G1 coisa alguma. Era e é uma informação pública, que estava, inclusive, no site da Polícia federal). A seguir, fazia pesquisas, e os números eram os mesmos ou piorados: a rejeição continuava a subir. Recentemente, num tom de ameaça, anunciou que havia feito uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral sobre a possibilidade de disputar um terceiro mandato. “Jornais amigos” deram a notícia com estardalhaço. Mas era uma pura fake news.
Carlesse costumava anunciar que não iria disputar mandato em 2022, talvez até por saber que seria afastado do governo, com a possibilidade de ficar inelegível. Porém, nos bastidores, operava para disputar mandato de senador, e por isso encomendava pesquisas com frequência. Os resultados eram praticamente os mesmos das demais pesquisas: quando aparecia “bem colocado” figurava em quarto ou quinto lugar — atrás de Professora Dorinha, Marcelo Miranda, Kátia Abreu e Luana Ribeiro.

Ao perceber o afastamento do “aliado” Eduardo Gomes (MDB), o senador do Tratoraço e igualmente investigado pela Polícia Federal, Carlesse começou a divulgar que poderia apoiar seu secretário da Fazenda, Sandro Henrique Armando — misto de “pedra” e “poste” — para o governo do Estado. As ligações entre Carlesse e Eduardo Gomes são fortes e não se sabe se envolvem apenas política e poder. Rico e hábil, o senador diferencia-se do governador afastado por ser diplomático, agregador e não se comportar de maneira arrogante. Porém, a rigor, mesmo com o recente distanciamento, os dois são do mesmo grupo. Jogam no mesmo time. As investigações poderão comprovar a “ligação” entre ambos? Ainda não se sabe, mas é possível.
O fato é que, ao identificar Eduardo Gomes com Carlesse — o senador seria um “prolongamento” do paranaense de Terra Boa —, os eleitores começaram a depreciá-lo. Por isso decidiram colocar o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas, do Podemos, em primeiro lugar nas pesquisas. Eduardo Gomes, espécie de carlessista, aparece em segundo lugar, seguido do petista Paulo Mourão.

O afastamento de Carlesse muda o jogo político. É provável que Eduardo Gomes, sem o apoio do amigo do peito, desista da candidatura, sobretudo porque novas investigações poderão deixá-lo em maus-lençóis. Com o líder do PSL fora do poder, sem condições de fazer ameaças e constranger possíveis testemunhas, novas denúncias devem aparecer. Fala-se, até, numa “central de gravações”. A documentação apreendida, recentemente, poderá sustentar, possivelmente, denúncias mais amplas e envolvendo mais pessoas, inclusive deputados e auxiliares do governo. Há quem ache estranho que o secretário da Fazenda, Sandro Henrique, tenha sido mantido no governo. O STJ deveria rever a questão. Porque, se continuar no governo, num cargo central — aquele que recebe e paga —, Carlesse, de alguma maneira, persistirá como governador.
Wanderlei Barbosa vai expurgar o carlessismo

O vice-governador Wanderlei Barbosa Castro (deve se filiar ao PDT), de 57 anos, é tocantinense de Porto Nacional. Aliados de Carlesse sugerem que o governador afastado não o via como “bons olhos”, porque não pertencia ao “núcleo duro” do carlessismo. Houve tentativa de convencê-lo a não assumir o governo, em abril de 2022, e a disputar mandato de deputado federal. Barbosa ficou quieto, esperando os desenrolar dos acontecimentos.
Com a queda de Carlesse por seis meses — e certamente não voltará ao comando do governo —, Barbosa certamente será candidato a governador em 2022. Não há nada mais que impeça sua candidatura. Agora, ele tem o poder. E, se quiser, pode operar auditorias para complicar ainda mais a situação de Carlesse. Com a máquina nas mãos, poderá se tornar um candidato forte. Poderá até não ganhar, mas tende a disputar de igual com Ronaldo Dimas, Paulo Mourão (PT) e Ataídes Oliveira (Pros). Este, por sinal, foi um dos primeiros a denunciar, de maneira contundente e corajosa, o descalabro da gestão de Mauro Carlesse.

Mas Barbosa só tem uma chance de conquistar o apoio dos eleitores do Tocantins: romper, em definitivo, com o carlessismo. Se deixar no comando a equipe do governador afastado, como o secretário da Fazenda, o governador interino poderá cavar sua própria sepultura política. Os eleitores do Tocantins querem eleger um governo que seja o oposto de Carlesse. É o recado das pesquisas, quer dizer, das ruas.