Os problemas do governo de Ronaldo Caiado tendem a favorecer políticos como Daniel Vilela, Alexandre Baldy e Vanderlan Cardoso

Marconi Perillo: retorno depende da absolvição em processos judiciais | Foto: Divulgação

Na Assembleia Legislativa de Goiás, recentemente, cinco deputados estaduais, da situação e da oposição, discutiram, de maneira acerba, sobre as possibilidades de o ex-governador Marconi Perillo retornar ou não à ribalta política do Estado. O grupo caiadista mostrou-se peremptório: “Marconi Perillo acabou, não tem volta. Sua prisão pela Polícia Federal foi a pá de cal”. O grupo marconista contesta: “O desgaste do governador Ronaldo Caiado, que tem dificuldade para administrar, vai reabilitar Marconi, e já para a disputa de 2022”.

O Jornal Opção submeteu a discussão a dois pesquisadores consagrados, que só pediram a omissão de seus nomes, porque fazem pesquisas para vários grupos políticos e não querem se queimar com nenhum deles, e por fim ouviu um cientista político. O que se lerá a seguir é uma síntese do que disseram.

Ronaldo Caiado: desgaste de seu governo ajuda Marconi Perillo, mas não é tudo | Foto: Divulgação

Os entrevistados sugerem que Marconi Perillo não está “morto” politicamente. Frisam que Iris Rezende perdeu o governo em 1998 — e um irmão quase foi preso por causa de denúncias de uso privado de dinheiro da Caixego —, 2010 e 2014, e mesmo assim continua na política. Mas é preciso ressalvar que o prefeito de Goiânia, depois de quatro derrotas — três para o governo e uma para o Senado —, se tornou um político municipal, circunscrito à capital, não mais do Estado.

No fundo do poço da maioria dos políticos não tem molas, pois a a maior parte não retorna, depois de determinadas situações apontadas como graves pelos eleitores. É mais fácil voltar para deputado federal, prefeito — caso de Iris Rezende — e senador, caso de Fernando Collor. Mas, para cargos executivos, é muito difícil retornar.

Alexandre Baldy: proativo, pode ser um dos beneficiários de um provável desgaste do governo de Ronaldo Caiado, em 2022 | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

O desgaste de Ronaldo Caiado, se fizer um governo abaixo das expectativas, pode beneficiar Marconi Perillo? Pode.

Mas os experts sugerem que pode favorecer muito mais outros políticos, que estiverem com imagens mais limpas. Eles citam como possíveis beneficiários o ex-deputado federal Daniel Vilela, do MDB, o senador Vanderlan Cardoso, do PP, e o ex-ministro Alexandre Baldy, do PP. Os entrevistados sugerem que um dos três, como aliados, tende a enfrentar Ronaldo Caiado em 2022. Mas e Marconi Perillo?

Os especialistas sugerem que Marconi Perillo espere um pouco mais — guardando uma espécie de quarentena. Mas, se quiser disputar eleição em 2022, que seja para deputado federal.

Vanderlan Cardoso: o senador planeja disputar o governo de Goiás em 2022 | Foto: Jornal Opção

Na visão dos estudiosos, Marconi Perillo, no lugar de esperar o desgaste de Ronaldo Caiado para se “limpar” — insistem que o desgaste do governador beneficia muito mais outros políticos, que estão presentes e participando do jogo político às claras —, deve buscar outro caminho: batalhar, em tempo integral, para “limpar” sua imagem ante a Justiça.

Se conseguir ser absolvido em todos os processos, notadamente naqueles em que é acusado de corrupção, Marconi Perillo nem precisará apostar no desgaste de Ronaldo Caiado, porque terá em mãos um atestado de “idoneidade moral” e exatamente contra quem o causa de malversar as contas do governo de Goiás, o líder do DEM.

Em suma, segundo os analistas, a “restauração” da imagem de Marconi Perillo depende muito mais dele (e da Justiça, é claro) do que da corrosão da imagem de Ronaldo Caiado. Acrescentam que o somatório do desgaste do governador com a absolvição processual pode tornar a volta do ex-gestor tucano mais rápida. Frisam, porém, que processos judiciais são lentos.

O eleitorado tende a esquecer o desgaste de Marconi Perillo, ante a possibilidade de desgaste de outro político, como o governador Ronaldo Caiado? Os especialistas acham que não. Agora, sublinham, as informações ficam na internet e, sempre que julgam necessário, os indivíduos localizam arquivos e postam os problemas. Resulta que os políticos com problema estão sempre na berlinda — sem escapatória. Os eleitores estão cada vez mais atentos a respeito da história dos políticos. Com um toque, a partir de um site de pesquisa, como o Google, terão acesso a informações detalhadas sobre quem eles quiserem. A memória dos eleitores, portanto, é “alimentada” permanentemente — inclusive nas redes sociais.

Daniel Vilela, aposta do MDB para 2022 | Foto: Jornal Opção

Codego, demissões e falta de transparência

Os estudiosos destacam que o governador Ronaldo Caiado tem a imagem de político decente e responsável. Mas assinalam que recente problema acontecido na Codego, com a demissão de seu principal dirigente, não foi tratado com a devida transparência. Por que, exatamente, o presidente da Codego foi demitido? Por que, se não servia para a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás, foi nomeado para outro cargo? Por que Nailton Oliveira (indicado pelo prefeito Iris Rezende), que denunciou problemas diretamente para o governador, teria sido impedido de esclarecer os fatos diretamente para a imprensa? É consenso que Ronaldo Caiado não rouba e não quer deixar roubar. Mas os fatos, como a queda de quase toda a direção da Codego, precisam ser mais bem esclarecidos.

Nailton Oliveira: por que foi proibido de esclarecer os fatos da Codego diretamente à imprensa? | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

A Codego se tornou um ponto cego do governo, que precisa entender que a sociedade tem o direito de saber o que realmente aconteceu e está acontecendo. Pode não ter ocorrido corrupção na Companhia. Mas a impressão que se tem, ante a falta de informação precisa, é que houve um escorregão feio e que, de alguma forma, está sendo abafado. Não é do feitio de Ronaldo Caiado “encobrir” problemas. Por isso, convém que se manifeste, de maneira mais ampla, a respeito do que aconteceu. As demissões sugerem algo mais.

Mesmo que o gestor seja comprovadamente decente, o governo de Ronaldo Caiado começa a oferecer dossiê para seus adversários. É o que a história da Codego sugere. A comunicação moderna — ao menos a eficiente — sugere que governantes se antecipem e esclareçam aquilo que acontece nas suas gestões. A melhor defesa é o esclarecimento amplo — não o ataque àqueles que denunciam o fato.