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[Marcelo Miranda: sua vitória tende a restabelecer o jogo democrático no Estado do Tocantins]

Sandoval Cardoso é um preposto de Eduardo Siqueira Campos. Se for eleito, este, e não aquele, será o governador de fato do Estado

Euler de França Belém

Os livros de história registram que Siqueira Campos aliou-se ao ministro do Exército, Sylvio Frota, na década de 1970, com o objetivo de derrubar o presidente Ernesto Geisel e impedir a Distensão. O general Frota, com o apoio do “coronel” Siqueira Campos na Câmara dos Deputados, e a Linha Dura das Forças Armadas planejavam travar a Abertura política que havia sido planejada por Geisel e pelo ministro Golbery do Couto e Silva.

Porém, como era politicamente mais hábil do que o general Castello Branco, Geisel reagiu rápido e demitiu Frota, desarticulando o golpe militar. Siqueira Campos “escondeu-se” nos corredores da Câmara dos Deputados e, durante algum tempo, ficou quieto. Mas nunca deixou de “odiar” a democracia e aqueles que a defendem.

Na democracia, a mesma que queria dinamitar, Siqueira Campos — o anticomunista feroz que homenageou Luiz Carlos Prestes, do Partido Comunista Brasileiro — cresceu e se tornou governador do Tocantins.

Uma vez no poder, como governador do Tocantins, tornou-se uma espécie de ditador sem farda. Ele contaminou algumas instituições do Tocantins, tornando-se uma espécie de poderoso chefão, com um poder inimaginável na democracia. Nestas instituições, é certo, há indivíduos independentes e íntegros. Mas há também aqueles que servem ao encanecido político. Resulta disto que adversários do coronel sem farda são processados várias vezes, com o objetivo de deixá-los “enrolados”. É tudo muito articulado, mas não parece. Porém, se os processos forem examinados com atenção, se verá que não têm sustentação alguma. Mas atingem o alvo, que é fundamentalmente “enrolar” adversários, prejudicando suas carreiras políticas. O candidato a governador do Tocantins pelo PMDB, Marcelo Miranda, é uma vítima expressa deste tipo de jogo político disfarçado de jogo judicial, quer dizer, parece tudo legal, mas, no fundo, o legal está apenas encobrindo o ilegal, a barbárie brutal promovida pelo Siqueirismo.

Na eleição deste ano para governador, na impossibilidade de bancar o filho, Eduardo Siqueira Campos, sem dúvida o político mais desgastado do Estado, ao lado do pai, José Wilson Siqueira Campos decidiu lançar um preposto, Sandoval Cardoso, do Solidariedade, para governador. Numa espécie de chicana jurídica, ainda que constitucional, Sandoval, que era presidente da Assembleia Legislativa, se tornou governador, com a renúncia de Siqueira Campos e de seu vice. Trata-se de uma movimentação rara na política brasileira. Controlada e pressionada, a imprensa do Tocantins não pôde (parte nem quis) denunciar com a devida ênfase a trama.

Por que Sandoval Cardoso foi escolhido para assumir o governo e, daí, disputar a reeleição? Porque não tem autonomia, voz própria. Ele está no governo, mas o poder ainda está nas mãos de Siqueira Campos e, sobretudo, de seu filho, Eduardo Siqueira Campos. Sandoval, que alguns adversários e, até, aliados chamam de “Sandomal”, é um mero instrumento do Siqueirismo. Comenta-se, nos bastidores do Palácio Araguaia, que, quando vão pedir-lhe que tome alguma decisão, imediatamente Sandoval pede ao chefe de gabinete para ligar para Eduardo Siqueira Campos. Sandoval é o governador formal, mas o governador informal, o que manda de fato, a eminência parda, é mesmo Eduardo Siqueira Campos. Enquanto Eduardo Siqueira Campos não é encontrado, sobretudo quando o assunto tem a ver com pagamentos para empreiteiros, a decisão não sai. Não à toa Sandoval chamada Eduardo Siqueira Campos de “chefe”.

Há alguma possibilidade de Sandoval ser eleito? As pesquisas de intenção de voto dizem que não. Entretanto, se tivesse chance de ser eleito, o líder do Solidariedade não seria o governador de fato. No dia seguinte à posse, Eduardo Siqueira Campos seria nomeado para a Secretaria de Governo, ou para a Secretaria da Fazenda, e, na prática, se tornaria o governador de fato. A “sorte”, se se pode dizer assim, é que o único candidato que tem mesmo chance de ser eleito é Marcelo Miranda. E, eleito, o peemedebista vai abrir a “caixa preta” do governo de Siqueira Campos-Sandoval. A resistência à sua candidatura tem a ver com o fato de que é praticamente impossível derrotá-lo — a população quer mesmo elegê-lo, como se estivesse reparando uma injustiça — e, possivelmente, tem a ver com o fato de que o Siqueirismo não quer deixar à mostra as possíveis irregularidades que cometeu em quatro anos de desmandos.

Jovem e pacífico, Marcelo Miranda tem sido vítima de uma campanha sórdida. Tentaram, de todas as maneiras, evitar que fosse candidato. Não conseguiram. A Lei bancou a candidatura do peemedebista. Como ele lidera todas as pesquisas de intenção de voto, a turma liderada por Eduardo Siqueira Campos decidiu partir para uma segunda etapa: o ataque direto, a desqualificação. Ainda assim, com todas as jogadas possíveis e com apoio de uma imprensa sórdida (não toda, é claro) e financiada pelos cofres estaduais, Marcelo Miranda continua em primeiro lugar.

Por que, apesar de todo o chumbo da artilharia do “coronel” Eduardo Siqueira Campos e do “sargento” Sandoval, o jovem Marcelo Miranda continua liderando as pesquisas de intenção de voto? Porque o povo do Tocantins é sábio. Os eleitores querem, com a eleição do peemedebista para governador, que o Estado volte a seguir pela trilha democrática e que as instituições decidam com base exclusiva nas leis, e não devido a pressões externas, de políticos.

Uma vitória de Marcelo Miranda significa o enterro definitivo do Siqueirismo — que, sim, se tornou um Sistema temível, que age com violência contra adversários políticos e, mesmo, integrantes das instituições do Estado (teme-se mais do que se respeita o Siqueirismo). O enterro do Siqueirismo significa a retomada da democracia — a dos governos de Moisés Avelino e de Marcelo Miranda. É a volta do império da lei, do primado da paz.

Folclore político

A maldade dos Siqueira Campos é tão grande que, nas ruas, o povo espalha o seguinte folclore político: “Deus criou Siqueira Campos e o Diabo, com inveja e raiva, criou Eduardo Siqueira Campos”.