A grande jogada será tornar as oposições previsíveis e sem força política para enfrentá-lo em 2022

Ronaldo Caiado, governador de Goiás | Foto: Lívia Barbosa / Jornal Opção

Políticos experimentados, que estão no ou passaram pelo Executivo, costumam sugerir que é preciso “temer” a possibilidade do surgimento de uma “incógnita”. Em 1998, há 22 anos, Iris Rezende Machado, então um líder do PMDB nacional, decidiu disputar o governo de Goiás pela terceira vez. As pesquisas mostravam que era favorito. Favoritíssimo. Não havia adversário com coragem suficiente para enfrentá-lo. Tanto que tiveram de ir à cidade de Inhumas buscar o deputado federal Roberto Balestra para que disputasse. Políticos como o então prefeito de Goiânia, Nion Albernaz, e o deputado federal Ronaldo Caiado não aceitavam uma vitória do peemedebista por W. O.

Com mais de 70% das intenções de voto, Iris Rezende já estava “nomeando” secretários e Roberto Balestra patinava com menos de 5%. Mas uma pesquisa “salvadora” mostrou que nem tudo estava perdido. De fato, o decano peemedebista era forte, mas seu desgaste político era evidente. Seu favoritismo decorria mais de o eleitorado não perceber uma alternativa real nas oposições. Aí “inventaram” Marconi Perillo, o político que, de tão desconhecido, tinha de ser apresentado, para ser notado pelos eleitores, como o “moço da camisa azul”. O novo, um jovem de 35 anos, acabou por derrotar Iris Rezende, na época com 65 anos.

Marconi Perillo: ex-governador de Goiás | Foto: Reprodução

O que Iris Rezende não soube fazer ou, mais apropriadamente, não pôde fazer? Dado o favoritismo, acomodou-se e não se preocupou em, de alguma maneira, “escalar” um candidato derrotável. A “gordura” acomodatícia que o poder gera não permitiu que o craque peemedebista percebesse, com a devida nitidez, que havia se tornado “o velho” e que os eleitores buscavam o “novo”.

Na época, se tivesse oferecido uma vaga no Senado para Marconi Perillo, ou para algum de seus aliados, Iris Rezende teria “escalado” como adversário o derrotável Osmar Magalhães, do PT. Mas não soube avaliar, de maneira lógica e racional, os cenários possíveis.

O governador Ronaldo Caiado, do partido Democratas, é um homem culto e que tem amplo conhecimento de história. Por isso, não fica parado, esperando o futuro. Por experiência, e dada sua formação intelectual, sabe que, na construção do futuro, é preciso interferir fortemente no presente.

Ao contrário de outros políticos, como o próprio Iris Rezende, o de 1998, Ronaldo Caiado está se mostrando, no poder, um dos mais hábeis operadores políticos da história de Goiás. Ele está praticamente “escalando” o time — ou times — que vai enfrentá-lo em 2022.

Articulador de primeira linha, conciliador inteligente, Ronaldo Caiado está trabalhando para atrair o MDB para o seu lado — de maneira racional e também porque aprecia de fato o presidente do partido, o ex-deputado federal Daniel Vilela, que percebe como um jovem de valor. Por dois motivos. Primeiro, fortalece a sua chapa, robustecendo sua musculatura. Segundo, porque enfraquece as oposições.

Deste modo, se de fato conquistar o apoio do MDB de Daniel Vilela, Ronaldo Caiado estará escalando para enfrentá-lo, em 2022, o PSDB do ex-governador Marconi Perillo (resta saber se o ex-ministro Alexandre Baldy vai tentar ser o balão de oxigênio do tucanato) e o PT do deputado federal Rubens Otoni. Tanto o tucano quanto o petista não são “incógnitas” e não representam o “novo”. Pelo contrário, são o “velho” do tucanato e do petismo. Sem o MDB, com sua capilaridade no Estado e sua energia jovem — Daniel Vilela e Gustavo Mendanha, para citar apenas dois nomes —, as oposições se tornarão previsíveis. Ao mesmo tempo, o governador se consolida com um operador altamente profissional. Um político que o sociólogo alemão Max Weber apreciaria, tanto por sua responsabilidade com a sociedade — no combate à pandemia mostrou que tem autoridade e que, em definitivo, não é um político que cede ao populismo — quanto por sua visão ampla da política. Seu perfil é de estadista.