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O objetivo do prefeito de Goiânia é muito mais fortalecer sua gestão e sua persona do que enfraquecer o MDB e Daniel Vilela

O prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, do partido Republicanos, assumiu o comando do Paço Municipal em circunstâncias difíceis — dada a morte do prefeito eleito, Maguito Vilela, do MDB. Ante o clima de comoção, a montagem de seu secretariado contemplou basicamente o MDB. Por dois motivos. Primeiro, os indicados seriam os secretários do gestor falecido. Segundo, eram técnicos, no geral, experimentados.

Rogério Cruz: prefeito de Goiânia | Foto: Divulgação do Republicanos

Quase três meses depois, Rogério Cruz, que continuava como uma espécie de vice, bateu na mesa e, finalmente, se tornou prefeito — ao defenestrar auxiliares que, emedebistas, pareciam não entender que a gestão tinha de ser — e será cada vez mais — rogerista.

Se não fizer mudanças, Rogério Cruz terá problemas com a governabilidade, pois a Câmara Municipal se tornará, não apenas sua “adversária” — será praticamente uma espécie de “inimiga”. Parte dos vereadores, notadamente aqueles que colaboraram na campanha vitoriosa da aliança MDB-Republicanos, quer participar da gestão municipal. Noutras palavras, planeja indicar auxiliares para a equipe do prefeito. Entretanto, com a maioria dos cargos importantes ocupados por emedebistas e aliados de emedebistas, não há (ou não havia) espaço para a articulação política.

Por isso, Rogério Cruz sinalizou com as mudanças. Mas a pelo menos três políticos o prefeito disse, na semana passada, que não pretende “enfraquecer” o presidente do MDB, Daniel Vilela, que percebe como “aliado”. “Desestabilizar Daniel é o mesmo que enfraquecer o prefeito”, afirma um aliado do gestor municipal. Por isso, novas mudanças serão feitas, mas a conta-gotas. Sobretudo, o líder do Republicanos não quer que as mudanças transpareçam como uma tentativa de “esvaziar” tanto o MDB quanto o presidente do partido.

Daniel Vilela, presidente do MDB em Goiás  e ex-deputado federal, revelou maturidade e não rompeu com o prefeito de Goiânia | Foto: Divulgação Prefeitura de Goiânia

A crise entre rogeristas e emedebistas, que era “quente”, se tornou “fria”. Ou seja, não acabou. Continua. Mas Rogério Cruz pretende agir como diplomata e não pretende romper com Daniel Vilela. Menos mudanças no primeiro escalão podem resultar, por exemplo, em mais mudanças no segundo escalão.

Segunda posse: Rogério Cruz assume de fato

“Mas que fique claro: Rogério Cruz, como prefeito, pelos próximos quatro anos, têm o direito de trabalhar com a equipe que quiser. Por isso, quem quiser permanecer ao seu lado precisa, acima de tudo, ser leal ao seu projeto administrativo e político”, afirma um aliado. “O prefeito é humilde, mas é observador e perspicaz. Ele está ‘chamando’ a administração para si, quer ter o controle da máquina. É o seu recado para todos. Quem entender talvez continue na equipe. Quem não entender, como Andrey Azeredo, terá de sair. A Bic do prefeito, a que nomeia e contrata, está cheia, com tinta fresquinha.”

João Campos, deputado federal, exige mais espaço para o partido Republicanos — que preside em Goiás — na Prefeitura de Goiânia | Foto: Divulgação

As mudanças, ainda que poucas, surtiram efeito. Aqueles que achavam que Daniel Vilela era uma espécie de primeiro-ministro finalmente entenderam que quem contrata e demite é Rogério Cruz. O prefeito, com escassas mudanças, ficou mais forte. Numa semana, ele assumiu a prefeitura de fato, e não apenas de direito.

Fala-se muito em pressão da Igreja Universal, da TV Record e do Republicanos. Tais pressões podem ser factuais. Mas não se deve subestimar Rogério Cruz — que, insista-se, quis dar e deu o recado de que manda. E o prefeito é mais inteligente e atento do que imagina a filosofia dos incautos que se julgam sábios. Ele foi vereador e não era, na Igreja Universal do Reino de Deus, digamos assim, um mero pastor. Era um executivo qualificado.

E é por mandar que Rogério Cruz quer e vai ampliar o espaço do Republicanos na prefeitura. Goiás terá eleições para governador, senador, deputado federal e deputado estadual daqui a um ano e seis meses. O partido tem como objetivo lançar um candidato a senador, o deputado João Campos (presidente do Republicanos em Goiás e membro da Igreja Assembleia de Deus), e eleger pelo menos dois deputados federais (a cúpula nacional está pedindo empenho neste sentido). Um deles é o pastor Jefferson Rodrigues — hoje deputado estadual. A Prefeitura de Goiânia pode se tornar o principal “cabo eleitoral” dos Republicanos na batalha para ampliar sua participação na Câmara dos Deputados. Para tanto, o partido precisa, de fato, ocupar o Paço Municipal. Não inteiramente, porque, dada a questão da governabilidade, o prefeito precisa compor com outros partidos, notadamente o MDB, e deve atender à liderança dos vereadores.

Jefferson Rodrigues, deputado estadual e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus: o Republicanos quer o “bônus” por ter o prefeito da capital | Foto: Divulgação

De resto, vale ressaltar a maturidade de Daniel Vilela. É possível que setores do MDB tenham tentado “pilhá-lo” contra Rogério Cruz. Porém, mostrando racionalismo, entendeu que, entre perder os dedos e os anéis, é mais saudável, politicamente, ficar sem os últimos. Não só. O líder emedebista sabe que, até para fortalecer a gestão, Rogério Cruz precisa assumir de vez o poder — não pode e não deve ficar no meio do caminho. Fortalecer o prefeito é o mesmo que fortalecer seus aliados — entre eles os emedebistas. Daniel Vilela entendeu isto e suas relações com Rogério Cruz permanecem “positivas”.

Há quem afiance que as reformas cessaram. Pode parar por alguns dias, até meses. Mas, para assenhorar-se do governo — do poder —, muito provavelmente Rogério Cruz fará outras mudanças, em áreas estratégicas. Fala-se, por exemplo, que João Campos vai indicar o presidente da Comurg.

Há uma questão pouco notada, mas que vale registro. Um grupo de comunicação, outrora poderoso, não quer mudança na Secretaria de Comunicação. Ora, não é função da mídia “demitir” ou “escolher” secretários. A função é do prefeito Rogério Cruz. Que tenha o direito de redefinir sua equipe como quiser — esquivando-se dos lobbies jornalísticos.