Rogério Cruz precisa se fortalecer como prefeito e robustecer o Republicanos para 2022

21 março 2021 às 00h00

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O objetivo do prefeito de Goiânia é muito mais fortalecer sua gestão e sua persona do que enfraquecer o MDB e Daniel Vilela
O prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, do partido Republicanos, assumiu o comando do Paço Municipal em circunstâncias difíceis — dada a morte do prefeito eleito, Maguito Vilela, do MDB. Ante o clima de comoção, a montagem de seu secretariado contemplou basicamente o MDB. Por dois motivos. Primeiro, os indicados seriam os secretários do gestor falecido. Segundo, eram técnicos, no geral, experimentados.

Quase três meses depois, Rogério Cruz, que continuava como uma espécie de vice, bateu na mesa e, finalmente, se tornou prefeito — ao defenestrar auxiliares que, emedebistas, pareciam não entender que a gestão tinha de ser — e será cada vez mais — rogerista.
Se não fizer mudanças, Rogério Cruz terá problemas com a governabilidade, pois a Câmara Municipal se tornará, não apenas sua “adversária” — será praticamente uma espécie de “inimiga”. Parte dos vereadores, notadamente aqueles que colaboraram na campanha vitoriosa da aliança MDB-Republicanos, quer participar da gestão municipal. Noutras palavras, planeja indicar auxiliares para a equipe do prefeito. Entretanto, com a maioria dos cargos importantes ocupados por emedebistas e aliados de emedebistas, não há (ou não havia) espaço para a articulação política.
Por isso, Rogério Cruz sinalizou com as mudanças. Mas a pelo menos três políticos o prefeito disse, na semana passada, que não pretende “enfraquecer” o presidente do MDB, Daniel Vilela, que percebe como “aliado”. “Desestabilizar Daniel é o mesmo que enfraquecer o prefeito”, afirma um aliado do gestor municipal. Por isso, novas mudanças serão feitas, mas a conta-gotas. Sobretudo, o líder do Republicanos não quer que as mudanças transpareçam como uma tentativa de “esvaziar” tanto o MDB quanto o presidente do partido.

A crise entre rogeristas e emedebistas, que era “quente”, se tornou “fria”. Ou seja, não acabou. Continua. Mas Rogério Cruz pretende agir como diplomata e não pretende romper com Daniel Vilela. Menos mudanças no primeiro escalão podem resultar, por exemplo, em mais mudanças no segundo escalão.
Segunda posse: Rogério Cruz assume de fato
“Mas que fique claro: Rogério Cruz, como prefeito, pelos próximos quatro anos, têm o direito de trabalhar com a equipe que quiser. Por isso, quem quiser permanecer ao seu lado precisa, acima de tudo, ser leal ao seu projeto administrativo e político”, afirma um aliado. “O prefeito é humilde, mas é observador e perspicaz. Ele está ‘chamando’ a administração para si, quer ter o controle da máquina. É o seu recado para todos. Quem entender talvez continue na equipe. Quem não entender, como Andrey Azeredo, terá de sair. A Bic do prefeito, a que nomeia e contrata, está cheia, com tinta fresquinha.”

As mudanças, ainda que poucas, surtiram efeito. Aqueles que achavam que Daniel Vilela era uma espécie de primeiro-ministro finalmente entenderam que quem contrata e demite é Rogério Cruz. O prefeito, com escassas mudanças, ficou mais forte. Numa semana, ele assumiu a prefeitura de fato, e não apenas de direito.
Fala-se muito em pressão da Igreja Universal, da TV Record e do Republicanos. Tais pressões podem ser factuais. Mas não se deve subestimar Rogério Cruz — que, insista-se, quis dar e deu o recado de que manda. E o prefeito é mais inteligente e atento do que imagina a filosofia dos incautos que se julgam sábios. Ele foi vereador e não era, na Igreja Universal do Reino de Deus, digamos assim, um mero pastor. Era um executivo qualificado.
E é por mandar que Rogério Cruz quer e vai ampliar o espaço do Republicanos na prefeitura. Goiás terá eleições para governador, senador, deputado federal e deputado estadual daqui a um ano e seis meses. O partido tem como objetivo lançar um candidato a senador, o deputado João Campos (presidente do Republicanos em Goiás e membro da Igreja Assembleia de Deus), e eleger pelo menos dois deputados federais (a cúpula nacional está pedindo empenho neste sentido). Um deles é o pastor Jefferson Rodrigues — hoje deputado estadual. A Prefeitura de Goiânia pode se tornar o principal “cabo eleitoral” dos Republicanos na batalha para ampliar sua participação na Câmara dos Deputados. Para tanto, o partido precisa, de fato, ocupar o Paço Municipal. Não inteiramente, porque, dada a questão da governabilidade, o prefeito precisa compor com outros partidos, notadamente o MDB, e deve atender à liderança dos vereadores.

De resto, vale ressaltar a maturidade de Daniel Vilela. É possível que setores do MDB tenham tentado “pilhá-lo” contra Rogério Cruz. Porém, mostrando racionalismo, entendeu que, entre perder os dedos e os anéis, é mais saudável, politicamente, ficar sem os últimos. Não só. O líder emedebista sabe que, até para fortalecer a gestão, Rogério Cruz precisa assumir de vez o poder — não pode e não deve ficar no meio do caminho. Fortalecer o prefeito é o mesmo que fortalecer seus aliados — entre eles os emedebistas. Daniel Vilela entendeu isto e suas relações com Rogério Cruz permanecem “positivas”.
Há quem afiance que as reformas cessaram. Pode parar por alguns dias, até meses. Mas, para assenhorar-se do governo — do poder —, muito provavelmente Rogério Cruz fará outras mudanças, em áreas estratégicas. Fala-se, por exemplo, que João Campos vai indicar o presidente da Comurg.
Há uma questão pouco notada, mas que vale registro. Um grupo de comunicação, outrora poderoso, não quer mudança na Secretaria de Comunicação. Ora, não é função da mídia “demitir” ou “escolher” secretários. A função é do prefeito Rogério Cruz. Que tenha o direito de redefinir sua equipe como quiser — esquivando-se dos lobbies jornalísticos.