Recado das urnas para Lissauer: candidato do PP a deputado foi o 9º colocado em Anápolis em 2018

31 agosto 2021 às 16h02

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O candidato bancado por Baldy ficou bem atrás de Valeriano, Rubens Otoni e Delegado Waldir. O candidato bancado por Roberto Naves foi o sexto colocado

A janela partidária — período para os políticos trocarem de partido político — começa e termina em março de 2021. O prazo é de 30 dias. A seis meses das eleições, os deputados federais e estaduais podem mudar de partido político.
O presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira, do PSB, articulou sua filiação ao PSL (esteve com o deputado federal Delegado Waldir Soares) e ao PSD (falou várias vezes com ex-deputado federal Vilmar Rocha) e, por fim, teria se decidido pelo partido Progressistas do ex-ministro Alexandre Baldy.
Porém, a sete meses da janela partidária (o prazo final é 31 de março de 2022, numa quinta-feira), pode-se falar que Lissauer Vieira fechou mesmo com o PP? A oferta para conquistá-lo é mesmo tentadora: o prefeito Roberto Naves (PP), de inegável prestígio, o apoiará para deputado federal em Anápolis. Além disso, o deputado receberá o comando do PP em Rio Verde de porteira fechada.

Há, porém, dois drummonds no meio do caminho da parceria Lissauer Vieira-PP.
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Primeiro, Anápolis é uma cidade relativamente bairrista — a palavra a reter é relativamente. Tanto que, na eleição de 2018, os dois políticos mais votados são de Anápolis: Valeriano Pereira de Abreu (então no Podemos), com 27.536 votos, e Rubens Otoni (PT), com 19.780 votos. O deputado federal Delegado Waldir Soares (PSL), um fenômeno em todo o Estado, ficou em terceiro lugar, com 19.487 votos. Em seguida vieram: Fábio Souza (então no PSDB), com 8.696 votos, João Campos (Republicanos), com 8.328 votos, Jovair Arantes, com 5.791 votos, Major Vitor Hugo (PSL), com 4.821, e Samuel José dos Santos, com 4.635 votos. O candidato do PP, bancado por Alexandre Baldy, foi Adriano do Baldy, com 4.491 votos — o nono colocado. A votação mostra a força do voto evangélico na cidade: João Campos, Fábio Sousa e Samuel José dos Santos (juntos, os postulantes evangélicos obtiveram 21.659 votos). Os candidatos bancados por Roberto Naves (Jovair Arantes) e Alexandre Baldy (Adriano do Baldy) conquistaram apenas, somados, 10.282 votos, ou seja, praticamente a metade dos votos do delegado Waldir.
Não se está dizendo que Anápolis não será importante para Lissauer Vieira, e sim, dadas a atomização do voto do eleitorado e a questão bairrista, o parlamentar pode acabar sendo surpreendido com uma votação aquém do esperado. Então, o que parece “maravilhoso”, ao se observar o número de eleitores — o município tem o terceiro maior eleitorado de Goiás —, pode-se se tornar uma decepção. Ao menos se o cenário de 2022 confirmar o de 2018. Há uma vantagem pró-Lissauer: João Campos e Delegado Waldir, se disputarem mandato de senador, abrirão espaço para outros candidatos.
Portanto, a sete meses da janela partidária, talvez Lissauer Vieira não tenha tomado uma decisão final, e sim uma decisão provisória (com forte possibilidade de se tornar definitiva). Deu um grande passo, e não há dúvida de que se tratou de uma jogada de mestre de Alexandre Baldy, e não tanto do deputado.
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Segundo, Lissauer Vieira sempre disse, inclusive a Vilmar Rocha e Delegado Waldir, que não se filiaria a um partido que se postasse contra o projeto de reeleição de Ronaldo Caiado em 2022. Como se sabe em Rio Verde e na Assembleia Legislativa, o deputado é um político que tem palavra e os prefeitos que o acompanham acreditam nisto (muitos estão ao seu lado devido ao fato de ele apoiar o governador). Ele continua apoiando a reeleição do líder do partido Democratas. A aliança entre os dois, tudo indica, é inquebrantável.
Alexandre Baldy, político hábil, ousado e competente, quer ser candidato a senador, e na chapa do governador Ronaldo Caiado. Por isso, a conquista de Lissauer Vieira é uma forma de pressão (de rara habilidade). Lissauer Vieira quer ser vice de Ronaldo Caiado, mas o projeto do PP não é lhe oferecer a vice, e sim usá-lo para pressionar o governador com o objetivo de conquistar uma vaga na chapa majoritária para Baldy.
Na terça-feira, 31, um deputado ligado a Lissaeur Vieira disse ao Jornal Opção: “Muita água vai passar por debaixo da ponte. De fato, Lissauer está mais próximo do PP e praticamente ‘assinou’ uma carta de intenção com seus líderes. Mas tudo pode mudar em sete meses”.