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Wilder Morais, Adriano Rocha Lima, Ismael Alexandrino e Valéria Torres não são intocáveis. Governo está avaliando ações do secretariado e do segundo escalão

Ronaldo Caiado: governador de Goiás | Foto: Divulgação

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), pretende fazer uma reforma do secretariado e do segundo escalão entre setembro e dezembro. A mudança usará como base um balanço das ações do secretariado que está sendo coordenado pelo vice-governador Lincoln Tejota. O que se tem constatado é que as principais “travas” estão nos escalões ditos inferiores — superintendentes, gerentes e diretores. As mudanças devem ocorrer basicamente nos chamados “escalões intermediários” — que são os que mais travam as ações do governo.

Uma pesquisa com auxiliares de Ronaldo Caiado revela quem deve ficar e quem deve sair, até o fim do ano, no primeiro escalão. Trata-se de uma lista rígida? Não. Porque vai depender do desempenho de cada auxiliar. Pois considera-se que alguns melhoraram e outros só conversam e reclamam. O governador pode até reclamar dos equívocos dos governos anteriores, mas não lhe agrada secretários e demais auxiliares que nada fazem e passam o tempo culpando os ex-governadores Marconi Perillo e José Eliton. Caiado aprecia basicamente aqueles que trabalham, apresentam resultados e reclamam quase nada.

O secretário de Administração, Pedro Sales, vai ficar na Codego — tida como “antro” de corrupção pelo caiadismo. Ele mencionado como uma espécie de “coringa” do governo. “Pedro é decente e competente. Vai ‘limpar’ a Codego”, afirma. Marcos Camarotta está chegando para ajudar na operação da máquina — ser uma ponte entre os secretários e o governador — e dar mais liberdade para Ronaldo Caiado articular politicamente no e fora do governo. Saneada, a Goinfra deverá ser repassada para a gestão de profissionais do ramo.

Quem sai

Wilder Morais — Se quiser, continua na Secretaria de Indústria e Comércio. Mas pode sair para disputar a Prefeitura de Goiânia. É um secretário forte e prestigiado por Ronaldo Caiado. Mas sua visão não coaduna, em linhas gerais, com o projeto do gestor estadual e, sobretudo, da secretaria da Economia, Cristiane Schmidt. Ele é mais pró-empresário, sempre avaliando que os incentivos fiscais são responsáveis pela atração de novos negócios. Já Cristiane Schmidt não gosta nem de ouvir as palavras incentivos fiscais, fica-se com a impressão de que soam, aos seus ouvidos, como “malandros fiscais”, ou como “sonegação fiscal”. Há uma questão que enerva Wilder Morais: ele sabe que não terá o apoio de Caiado para disputar a prefeitura. O governador prefere subir no palanque de Iris Rezende, porque avalia que, embora seja um bom nome, o ex-senador não tem cacife eleitoral.

Adriano Rocha Lima — O secretário de Desenvolvimento e Inovação é visto como um “avião”, mas teórico, e pouco prático. Pode ser afastado ou transferido para outra área. Há quem sugira que sua equipe é composta por “amadores”. Mas um auxiliar de Caiado discorda: “Adriano é bem-intencionado, tem boas ideias. O que lhe falta é experiência administrativa. Ele tende a ficar quatro anos falando de teorias, todas maravilhosas, mas sem apresentar resultados. Porque não canalizar sua criatividade”. Não chega a ser uma decepção, porque é decente e sério. Mas precisa entender, de maneira mais adequada, como funciona o setor público.

Ismael Alexandrino — Secretário da Saúde. Diga-se que Caiado gosta de Alexandrino. “Mas, se é bom para elaborar projetos, deveria ser contratado como autor de projetos, não como secretário da Saúde”, afirma um médico que é muito próximo do governador. “Talvez lhe coubesse, de maneira mais adequada, uma superintendência.” Ele é isto como um secretário que “não rouba”. Mas deixa a imagem de que o secretário de fato é Caiado. Ele já esteve mais bem avaliado. O problema é que não consegue deslanchar. Está praticamente repetindo o governo anterior. Sairá em setembro? Talvez não. Há quem acredite que está sobrecarregado, talvez por ser centralizador.

Fátima Gavioli — Secretária da Educação. O seu estilo paz, amor e abraço funcionou no início, mas cansou. A avaliação fica por conta de um caiadista: “Como veio sozinha para Goiás, está trabalhando basicamente com a equipe que colaborava com a ex-secretária Raquel Teixeira e está sendo ‘dominada’ por ela. É a pasta mais politizada do governo — os subsecretários foram indicados por políticos —, e não exatamente por causa de Fátima. Dificilmente dará certo. Caiado exige que os alunos saem bem em português, matemática e língua estrangeira, mas até agora a secretária investiu escassa energia para atendê-lo. Um de seus problemas é que quer ficar bem com todo mundo. Ela só teve coragem de enfrentar Manoel Barbosa, superintendente que estava trabalhando para ser deputado, mas há outros problemas, e ela prefere empurrá-los com a barriga”. Na secretaria, depois de o deputado José Nelto apelidá-la de “Polyana do Cerrado”, os funcionários começam a nominá-la de Fátima “Saidoli”.

Valéria Torres — Secretária de Comunicação. No governo há um consenso: a antropóloga é expert em leitura de pesquisa, mas entende pouco de comunicação. Ela não se relaciona com editores, repórteres e proprietários de jornais — exceto com os eternos “aduladores” de governo. Não aprecia imprensa crítica. Inquirida sobre o motivo de não se relacionar com o mercado, teria dito que os jornais “x” e “y” são contra o governo. São? Na verdade, não. São críticos. É provável que a secretária pense que os jornais “querem” dinheiro. Talvez queiram, no geral, informações precisas. O governo de Caiado não tem um porta-voz, o que desgasta o governador. É comum jornalistas ligarem para vários secretários para que discutam um tema apresentado por deputados, inclusive da situação, e não encontrarem um interlocutor apto a prestar as informações, a fazer o contraponto.

Muito ligada a Gracinha Caiado, a primeira-dama, Valéria Torres é competente, mas talvez esteja no lugar errado (ou talvez o momento seja errado). Pode ser remanejada? Pode. Mas, se ficar, precisa estabelecer uma política de comunicação para o governo. Precisa ficar mais próxima do governo como um todo, e menos de familiares do governador. Não se tata de uma técnica incompetente. O que lhe falta é conhecimento da mídia em Goiás. A falta de conhecimento leva-a a ser envenenada por jornalistas-assessores que, por um motivo ou outro, não gostam do jornal “x” ou do jornal “y”. Pode estar sendo iludida na sua boa vontade de acolher versões que, a rigor, às vezes nada têm a ver com fatos.

Quem fica

Andrea Vulcanis, secretária de Meia Ambiente | Foto Fernando Leite/Jornal Opção

Andrea Vulcanis — A secretária de Meio Ambiente é apontada, pelos auxiliares de Caiado e pelo empresariado, como uma das melhores dirigentes estaduais. É vista como a secretária que destrava o governo e os negócios dos empresários. “Trata-se de uma assessora eficiente e chegou a ser boicotada por servidores que não querem que as coisas andem”, frisa um caiadista. Ela é avaliada como a “melhor” secretária do governo. Porque joga o tempo inteiro para o governo e para Goiás, não para as plateias…

Cristiane Schmidt — A secretária da Economia tem vontade de sair, mas não quer sair antes de ajustar o governo. O problema é que foi “comercializada” como sendo indicação do ministro da Economia, Paulo Guedes, e por isso “ajudaria” a resolver os problemas de Goiás. A visão, simplista, desconsidera que as questões institucionais não se resolvem por amizade ou num toque de mágica. Tanto que, apesar de amiga do Posto Ipiranga, não conseguiu destravar nada para o governo de Caiado. Frise-se que a jovem economista nunca “se vendeu” como formuladora de soluções mágicas e não disse que, devido aos relacionamentos pessoais, os assuntos do governo goiano seriam tratados como prioridade. Se alguém vendeu tal ideia não foi ela.

Conhecida como “Dama do Não” e, até, “Madame Mao do Cerrado”, Cristiane Schmidt não é uma coisa nem outra. É, na verdade, uma monetarista, como Paulo Guedes. Quer o Estado arrecadando mais e gastando menos, ou melhor, gastando em setores necessários, mas não financiando empresários, por exemplo. “Caiado aprecia a energia e a capacidade de Cristiane de dizer ‘não’ quando é preciso dizer ‘não’, e sem salamaleques. Ela não aprecia demagogia e tapinhas nas costas. Defende, claramente, que os incentivos fiscais precisam ter um controle rigoroso. Se abrir o Daia 2, em Anápolis, às 8 horas da manhã, quando for às 18 horas não haverá mais espaço. Porque há vários empresas querendo se instalar em Anápolis. Governos sérios não vendem dificuldades públicas para conquistar facilidades individuais. O que se deve dizer, portanto, é que Cristiane, permanecendo no governo, é garantia de crescimento econômico sério e sustentado, sem esquemas”, afirma um auxiliar de Caiado. “Acrescento que empresários que planejam se instalar em Goiás não reclamam de impostos, porque sabem que é uma obrigação nacional. Eles reclamam, isto sim, da má qualidade da energia elétrica no Estado. A Enel está contribuindo para retardar a instalação de novos projetos industriais em Goiás.” O principal gargalo não é imposto, e sim energia elétrica.

A história de que teve uma briga estrondosa com Ronaldo Caiado não procede. Os dois discordam eventualmente e ambos têm estopim curto, mas se respeitam e nunca se agrediram verbalmente. É o que apurou os repórteres do jornal.

Renato Brum — O comandante da Polícia Militar, embora não seja midiático, é apontado como eficiente. Ele resolve as coisas. Ataca os problemas de frente e de maneira planejada.

Odair José — O delegado-geral é apontado como discreto e altamente eficiente. A Polícia Civil, com o apoio da PM, está prendendo grandes quadrilhas. Por isso o roubo e furtos de automóveis encolheu em sete meses.

Ricardo José Soavinski — O presidente da Saneago quase não aparece. Mas é tido como eficiente, sobretudo por não querer inventar a roda. Ele retomou as obras paradas e está procurando conclui-las. “Sem alarde, pilota projetos de investimentos no valor de meio bilhão de reais, sobretudo no Entorno de Brasília. Trabalha e não faz política — o que agrada o governador Ronaldo Caiado.”

Ernesto Roller — O secretário de Governo é um político experimentado. Culpá-lo pela má articulação do governo é não entender como funciona a política. Deputados querem nomear e recursos financeiros para os municípios que representam. Se isto não é possível, ficam contra o governo, afetando uma oposição que é mais retórica. Roller não tem como resolver determinados problemas, pois o governo nem sempre quer aderir à velha política. Se ele for retirado do cargo, o substituto igualmente se queimará. Ele precisa ser o que o governo de Caiado não tem: um porta-voz. Precisa se manifestar mais, na imprensa, a respeito das coisas do governo. A secretária da Economia exala mau humor e, por isso, não tem como ser porta-voz. Valéria Torres passa a impressão de que não acompanha todos os meandros do governo. Por isso cabe a Roller o papel de porta-voz. Ele é eficiente, mas precisa ser municiado de informações de qualidade.

Marcos Roberto Silva — O presidente do Detran seria, do ponto de vista dos caiadistas, o responsável por algumas das melhores notícias do governo. Primeiro, desmontou a máfia que agia no Detran e que parecia invencível. É ligadíssimo ao governador Ronaldo Caiado. As retiradas de determinadas taxas são vistas como um verdadeiro programa social.

Marcos Cabral — O secretário de Desenvolvimento Social, na avaliação dos caiadistas, “moralizou as compras e não paralisou os projetos do governo anterior. Sem parar de pagar, para não travar os programas sociais, está fazendo um recadastramento geral. Havia gente recebendo assistência sem necessidade. Ele está interiorizando o atendimento social e ajustando o pagamento das dívidas, das grandes às pequenas”.

Edival Lourenço — A Secretaria de Cultura não existia, mas a área estava sucateada. “Saem esqueletos de todos os armários da secretaria. A direção anterior não pagava nem coquetel. Os prêmios dos festivais eram concedidos, mas os recursos financeiros não eram repassados.” Edival está prestigiado.