Prêmio concedido pelo Secovi ao Nexus soa como uma espécie de cinismo, pois obra é investigada pelo MP

28 novembro 2015 às 13h24

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Não há dúvida de que o Secovi é sério. Mas urbanistas e arquitetos criticam o fato de que teria dado um prêmio de sustentabilidade para um empreendimento imobiliário que ainda nem foi construído. Premiou-se a intenção e, ainda assim, uma intenção mignon. Os edificadores do Nexus, obra da Construtora Consciente, de Ilézio Inácio Ferreira, e da JFG Empreendimentos, de Júnior Friboi, garantem que a obra, quando concluída, vai recolher água da chuva, terá vidros especiais e calçada politicamente correta. É pouco, muito pouco.
Como se trata de uma obra gigante, se o Nexus não oferecer estacionamento gratuito, o que certamente não fará, as ruas do entorno ficarão repletas de veículos estacionados, o que vai prejudicar ainda mais a mobilidade urbana dos setores Oeste, Marista e Sul.
Sustentabilidade se tornou uma palavra da moda e, de tanto uso, perdeu seu verdadeiro sentido. O termo, para valer alguma coisa, precisa ter sentido efetivo, amplo, incrustado na realidade. Não é o caso do Nexus, uma obra que vai provocar congestionamentos, caos urbano. A palavra que o define não pode ser outra: insustentável.
O Secovi, ao premiar o Nexus, ignorou, de maneira olímpica, o fato de que um perito constatou que o Estudo de Impacto de Vizinhança pode ter sido falsificado pela Consciente — ou pela empresa contratada pela construtora — e, por isso, Ilézio Inácio Ferreira está sendo investigado pelo Ministério Público.

Em sociedade tudo se permite? É o que está sugerindo o Secovi, ao premiar o Nexus. Pode-se falar que se está criando uma espécie de República do Cinismo em Goiânia? Não fosse o Secovi uma instituição da maior seriedade e competência, de amplos serviços prestados à capital, a conclusão seria inteiramente afirmativa. Agora, a premiação, que soa como uma espécie de desagravo, se não piora a imagem do premiado Nexus — já por demais corroída —, piora sobremaneira a do seminal Secovi.
Há algo de errado no Reino da Dinamarca — diria o bardo britânico William Shakespeare. Mas o Ministério Público — este, sim, de uma seriedade exemplar — vai descobrir o que é e, daí, por certo vai denunciar Ilézio Inácio Ferreira e Júnior Friboi à Justiça.