Filiado ao PSDB, Marconi Perillo foi candidato a governador de Goiás em 1998, 2002, 2010 e 2014. Foi eleito quatro vezes — ficou 16 anos no poder — e planeja disputar o governo em 2026, daqui a nove meses e alguns dias.

Por que Marconi não abriu espaço para uma liderança nova do PSDB? Porque, pelo tanto de vezes que disputou o governo, quis se perpetuar no poder. Nem Hugo Chávez, da Venezuela, ficou tanto tempo no poder. Nicolás Maduro está no poder há 12 anos.

Em 2006, poderia ter bancado o competente médico Leonardo Vilela para governador, mas acabou optando por apoiar Alcides “Cidinho” Rodrigues. Por que qual motivo? Simples: Cidinho não tinha futuro, quer dizer, não era um possível concorrente para Marconi.

Thiago Peixoto: desgastado e escanteado, mudou-se de Goiás | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O PSDB tinha nomes consistentes, como Leonardo Vilela, Raquel Teixeira, Lúcia Vânia, Giuseppe Vecci e José Paulo Loureiro, mas Marconi decidiu não apostar em nenhum deles. Não permitiu sequer que José Paulo Loureiro, uma das revelações de seu governo, como executivo e dotado de popularidade, disputasse a Prefeitura de Goiânia. Temia, por certo, que se tornasse, adiante, um competidor para o governo do Estado. Vilmar Rocha não era do PSDB, mas, filiado ao DEM, era um nome consistente e sério. O tucano-chefe nunca pensou em bancá-lo para o governo ou para senador.

Giuseppe Vecci, uma figura ilustrada do partido e responsável pelos melhores feitos do governo — era um planejador de méritos —, foi empurrado para a disputa de mandato de deputado federal. Quando todos sabem, inclusive Marconi, que sua vocação é executiva.

Educadora de primeira linha, com doutorado por uma universidade dos Estados Unidos, Raquel Teixeira poderia ter sido uma aposta para o governo. Mas Marconi barrou sua ascensão política e ela acabou tendo de se mudar para o Rio Grande do Sul.

Giuseppe Vecci, economista talentoso, nunca pôde disputar o governo | Foto: Jornal Opção

Thiago Peixoto, uma revelação política do MDB, foi “absorvido” por Marconi e colocado na Secretaria da Educação, não para crescer, e sim para se desgastar, o que, de fato, aconteceu. Mais uma vez, o tucano “eliminou” um possível adversário no futuro. O jovem político acabou se mudando para São Paulo e hoje é secretário da Educação de Florianópolis, depois de uma breve passagem por Harvard.

Como pré-candidato a governador em 2026, Marconi Perillo adota o discurso da “renovação” e “alternância de poder”. Mas qual renovação e qual alternância? Um político que ficou 16 anos no poder tem razão ao falar em renovação e alternância de poder? A resposta fica com os (e)leitores.

O homem da UEG e o político dos empreiteiros

A bem da verdade, pode-se dizer que Marconi Perillo foi um governador ruim? Talvez não. Mas é preciso falar em dois Marconis. O dos primeiros mandatos, de 1999-2002 e de 2003-2006, e o dos dois mandatos seguintes, de 2011-2014 e de 2015 a 2015. A rigor, o tema precisa ser mais bem estudado, com uma investigação mais ampla.

Raquel Teixeira: a grande educadora teve ascensão política barrada | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Nos dois primeiros governos — quando ouvia figuras relevantes como Vilmar Rocha, Giuseppe Vecci, Nash Chaul, Rodrigo Zani, Raquel Teixeira — Marconi Perillo deixou um legado: a Universidade Estadual de Goiás (UEG, 1999), a Bolsa Universitária (1999), o Programa Renda Cidadã (1999 — chegou a inspirar o primeiro governo do presidente Lula da Silva), o Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer, 2002) e o Centro Cultural Oscar Niemeyer (2006). Acrescente-se que seu primeiro governo incentivou os professores do Estado a terem curso superior.

Nos outros governos, não deixou de fazer algumas coisas, como o Hugol, de 2015. Mas deixou obras inconclusas, como um célebre hospital do Entorno de Brasília e o Hospital Regional de Uruaçu. No geral, os governos de Marconi perderam qualidade. Por quê?

José Paulo Loureiro: barrado na disputa pela Prefeitura de Goiânia | Foto: Divulgação

Só uma investigação mais detalhada poderá dizer. Mas, de acordo com avaliações de alguns tucanos — que só falam em off —, Marconi de repente deu uma guinada na sua equipe de governo e afastou-se dos aliados e amigos mais leais. Não soube dar o salto qualitativo.

Giuseppe Vecci e Raquel Teixeira, para citar dois exemplos, foram escanteados. Assim como José Paulo Loureiro. Por quê?

De acordo com um veterano tucano, que diz ter apreço pelo ex-governador, Marconi, ao “deitar-se nos braços dos empreiteiros” (os milionários dos vinhos de 16 mil reais e dos hotéis de 5 mil euros a diária), foi deixando os companheiros de jornada de lado. Até Goiás foi “abandonado” pelas viagens frequentes a São Paulo e ao exterior.

Em busca de la dolce vita, Marconi, frisa o tucano, foi se afastando dos amigos goianos — exceto dos empreiteiros — e dos auxiliares competentes.

Leonardo Vilela: barrado no “baile” em 2006 | Foto Fernando Leite/Jornal Opção

Saíram os formuladores — aqueles que sabiam planejar e colocar em prática as ideias — e entram os amigos-empreiteiros. E, como se sabe, empreiteiros são amigos não de pessoas, mas de dinheiro. Circular com eles se torna temerário — até porque a maioria não tem limite.

No limbo, mesmo morando em São Paulo, a serviço da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Marconi afirma que será candidato a governador. Isolado politicamente, tenta, no momento, retomar contatos com a velha guarda do PSDB.

Aava Santiago: sem chance de disputar o governo | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

A velha guarda — Helio de Sousa, Itamar Leão, Giuseppe Vecci, Afrêni Gonçalves — está decidida a apoiá-lo. Mas com entusiasmo? Marconi Perillo colocou Giuseppe Vecci numa das vices-presidências do PSDB nacional. Mas por que só agora?

Por que, se fala em renovação, Marconi não coloca a vereadora Aava Santiago como candidata a governadora? Pelo mesmo motivo que não abriu espaço para Raquel Teixeira, José Paulo Loureiro e Giuseppe Vecci. Porque no seu projeto político só cabe ele. O PSDB de Goiás é o PSDB do M. (E.F.B.)