Políticos apresentam cenários possíveis para Gustavo Mendanha

15 agosto 2021 às 00h00

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O emedebista pode ficar na prefeitura e pode disputar o governo do Estado ou mandato de deputado federal
O Jornal Opção ouviu cinco políticos que conversam frequentemente com o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB), de 38 anos, com o objetivo de extrair “consensos” sobre seus projetos político-eleitorais. O que se lerá a seguir é uma síntese dos diálogos, que um dos entrevistados chamou de “as quatro questões cruciais a respeito de Gustavo”.
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Uma oportunidade “única”
Mendanha tem falado em “timing” e “oportunidade”. Na linguagem mais chã dos políticos tradicionais, o prefeito tem dito aos interlocutores que o cavalo está arreado à sua porta. Ele seria o “novo” na disputa eleitoral de 2022. Mesmo não ganhando, colocaria seu nome na política do Estado, quer dizer, se tornaria um político estadualizado — o que ainda não é. Cristalizaria seu nome para a disputa de 2026 ou 2030.
O que teme Mendanha, se for não candidato em 2022, é perder a oportunidade de se tornar um político “goiano” — hoje é, no máximo, um político “aparecidense”. “Gustavo não se perdoará se não for candidato agora”, postula um emedebista.
Os adeptos da tese da “oportunidade única” são o ex-governador Marconi Perillo, o empresário Sandro Mendez (conhecido também como Sandro Mabel) e o próprio Mendanha.
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O carimbo de “traidor”
O que mais teme Mendanha? Que fique com um carimbo na testa de “traidor”, pois, se for candidato, atropelando o presidente do MDB, Daniel Vilela, de 37 anos — e provável vice do governador Ronaldo Caiado (DEM), em 2022 —, estará desconsiderando um aliado de longa data.

Em 2016, o então prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, do MDB, pretendia lançar Euler Morais, ex-deputado federal e doutor em Economia pela Universidade de Lancaster, na Inglaterra, para sua sucessão. O gestor municipal alegava que, depois de oito anos, havia colocado Aparecida num patamar de crescimento e desenvolvimento bem alto e era preciso mantê-lo e ampliá-lo. Dada a experiência de Morais, na avaliação de Maguito Vilela, isto seria possível.
No entanto, o então deputado federal Daniel Vilela havia se tornado amigo de Mendanha e avaliou que representava o “novo”, além de ser um político local e ter prestígio entre os vereadores e demais líderes municipais. O jovem emedebista convenceu o pai de que era hora de investir no novo e num político que, se não tinha nenhuma experiência administrativa, tinha potencial. Maguito Vilela acabou aquiescendo, até por considerar que a prefeitura estava ajustada e com recursos para deslanchar.
Daniel Vilela estava certo: o tímido Mendanha era um observador nato e avaliou corretamente os “segredos” de Maguito Vilela para se tornar um administrador eficiente. Primeiro, era um gestor atento. Segundo, apostava em planejamento. Terceiro, dado seu espírito diplomático, sabia os caminhos adequados para buscar recursos em Brasília. Com um professor de primeira linha, Mendanha se consagrou, sendo reeleito em 2020.
“Se Maguito Vilela fosse vivo, o que faria Mendanha: trairia Daniel? Nem pensar”, diz um emedebista. “Sem Maguito, vai ‘atropelar’ Daniel, aliando-se aos adversários históricos do MDB, como o ex-governador Marconi Perillo? Não dá para acreditar”, acrescenta.
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A hipótese da “chapada”
Mendanha é prefeito da segunda maior cidade de Goiás, em termos de eleitores e estrutura econômica. Vai deixá-la, tendo cumprido apenas um ano e três meses de mandato, em 4 de abril de 2022, daqui a sete meses? Há quem acredite que sim. Mas uma prefeitura com o caixa em alta — milhões de reais para investimento — pode ser abandonada ao deus-dará de uma hora para outra?
Se for candidato a governador e for derrotado, Mendanha ficará sem mandato por longo tempo. Em 2024, não poderá ser candidato a prefeito, podendo, no máximo, disputar mandato de vereador. O prefeito avalia que seu conflito com o vice, Vilmarzinho Mariano, está superado, esquecendo que as arestas ficam, às vezes para sempre. Assim que assumir a prefeitura, Vilmarzinho faria uma “limpeza”, retirando os principais auxiliares de Mendanha, trocando-os por seus aliados. Sem contar da possibilidade de, por realismo político-administrativo, passar a apoiar o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Restará a Mendanha, em caso de derrota, a chapada — onde será esquecido como um nome do passado tanto pelos adversários quanto pelos aliados circunstanciais. Em 2026, quando terá 63 anos, Marconi Perillo certamente tentará ser candidato a governador e não abrirá espaço para um político que, na eleição anterior, foi derrotado (se for, é claro).
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Candidato a deputado federal
Há quem postule outro caminho para Mendanha. Até auxiliares do prefeito estariam sugerindo que ele está “cansado” da gestão municipal, porque “não” há mais nada de novo. Portanto, se não disputar o governo do Estado, optando por apoiar a aliança entre o governador Ronaldo Caiado e Daniel Vilela (que seria o vice), ele pode ser candidato a deputado federal.
A lógica é a seguinte: se ficar na prefeitura, seu mandato termina em dezembro de 2024. Mendanha ficaria sem mandato por dois anos, o que o tornaria um político menor. Por isso, há quem esteja propondo que o prefeito renuncie, em 2022, para disputar mandato de deputado federal, o que lhe daria, além de experiência legislativa, mais apoio no interior (o parlamentar tem recursos de emendas para atender os municípios que representa) e destaque na política estadual. Ele seria, possivelmente, um dos deputados mais votados de Goiás. Atuando na política estadual, Mendanha poderia se cacifar para a disputa do governo em 2030, quando terá apenas 48 anos, ou seja, ainda será jovem, e terá a vantagem de ter se tornado um político experimentado, com passagem pelo Executivo e pelo Legislativo.
Se Ronaldo Caiado for reeleito em 2022, com Daniel Vilela na vice, a tendência é que o emedebista assuma o governo, por nove meses, em 2026. Na chefia do governo, a possibilidade de ser candidato à reeleição é enorme, mas em 2030 poderá bancar Mendanha para o governo. Não só. No caso de vitória, ao montar o governo, Mendanha poderia se tornar um de seus principais auxiliares, como secretário da Fazenda ou de Governo.
Enfim, é cedo para dizer o que Mendanha fará. Mas, político atento e moderado, o prefeito está pensando sobre suas possibilidades. E, mais do que tantos outros, inclusive secretários na prefeitura, sabe que quem esquece o passado costuma não ter futuro na política. Até porque ninguém confia em quem trai aquele que, outrora, lhe ajudou.