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O ex-governador e advogado José Eliton foi membro do Democratas (DEM) e, como tal, seu discurso era de direita. Nas suas entrevistas aos jornais, é fácil encontrar posicionamentos que nada têm de esquerdista. Era, e talvez continue, liberal. Até neoliberal, o que sempre desagradou o PT.

Entretanto, ao se aproximar do vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, José Eliton alinhou-se à esquerda. Pergunta-se: quem mudou — José Eliton ou a esquerda?

É provável que, por realismo político, os dois tenham mudado. Porém, José Eliton parece ter mudado mais. Porque se tornou um esquerdista de direita, algo surpreendente e ainda não analisado pelos cientistas políticos. É provável que dirão que migrou para a centro-esquerda. E isto é mesmo possível.

Ligado à Opus Dei, da direita católica, Geraldo Alckmin é de direita. Porém, ao se alinhar com o PT do presidente Lula da Silva e se filiar ao PSB, se tornou um político de centro-esquerda (ou centro-direita). Não muito diferente, portanto, de José Eliton, também filiado ao PSB.

Lula da Silva e Jorge Kajuru: o primeiro o quer na chapa para o Senado | Foto: Divulgação

No momento, a esquerda, notadamente a petista e parte do PSB (uma corrente substantiva, a de Elias Vaz, quer apoiar o pré-candidato do MDB para governador, Daniel Vilela), planeja lançar José Eliton para governador. O vice poderá ser do PV ou do Cidadania. O PT tende a lançar o ex-deputado Luis Cesar Bueno para senador. O senador Jorge Kajuru, se for à reeleição, pode ser seu companheiro de chapa. É filiado ao PSB.

Quem conversa com Kajuru diz que não vê entusiasmo algum. Há quem postule que irá para deputado federal. Porém, um membro do PSB — partido que está dividido em Goiás — sugere que não há escapatória: “Kajuru irá a senador”. As pesquisas de intenção de voto mostram fragilidade do senador, que aparece bem atrás dos pré-candidatos Gracinha Caiado, do União Brasil, Gustavo Gayer, do PL, Vanderlan Cardoso e Gustavo Mendanha, ambos do PSD.

Para o governador, no momento, o postulante apoiado pelo PT, numa articulação nacional, é mesmo José Eliton. Sobretudo porque ele quer. E não há outros que querem, nem mesmo no PT, que sempre lançou candidatos a governador, mesmo que só para “marcar” posição.

Luis Cesar Bueno: nome mais cotado para o Senado | Foto: Leoiran/Jornal Opção

O objetivo do PT nem é ganhar o governo do Estado, e sim criar um palanque, relativamente consistente, para o presidente Lula da Silva, do PT, em Goiás.

Petistas dizem ao Jornal Opção, em off, que o “candidato ideal” da centro-esquerda a governador seria Marconi Perillo, do PSDB. No entanto, o tucano, que agora se apresenta como político de direita — circulava antes na centro-esquerda —, não quer compor com a esquerda. Porque teme a rejeição do bolsonarismo, ou seja, do eleitorado da direita. Ocorre, porém, que a direita bolsonarista em Goiás, representada pelo senador Wilder Morais e pelo deputado federal Gustavo Gayer, ambos do PL, não quer composição com o líder tucano.

Em Goiás é assim: Marconi Perillo ama a direita bolsonarista, mas não é amado pela direita bolsonarista, e sim pelo PT. Mas ele quer se casar com o bolsonarismo e não com a “noiva” que o quer — o petismo de Adriana Accorsi, Rubens Otoni, Luis Cesar Bueno, Delúbio Soares, Edward Madureira, Kátia Maria, Fabrício Rosa, Mauro Rubem, Bia Lima. Como se vê, o amor muitas vezes é imperfeito.

Noutras palavras, se quiser, sobretudo se o PSB permitir, José Eliton, ex-líder da direita — foi indicado para vice de Marconi Perillo pelo DEM, quando Ronaldo Caiado era seu presidente — será o candidato da esquerda em Goiás.

O que quer, de fato, o PT? Primeiro, um candidato a governador. Segundo, um palanque de centro-direita que banque Lula da Silva em Goiás. Terceiro, busca-se o apoio de um eleitorado mais conservador, tal como José Eliton. Se nada der certo, pelo menos se terá um palanque para Lula da Silva em Goiás.

Um tucano perguntou para um repórter do Jornal Opção: “Já pensou na hipótese de Marconi Perillo apoiar José Eliton para governador e compor a chapa majoritária como postulante a uma vaga no Senado? E se ele for candidato a deputado federal? E Olavo Noleto, do PT, for apresentado como vice de Marconi?”

Pois bem: o Jornal Opção ouviu cinco tucanos e todos disseram a mesma coisa: “Marconi será candidato a governador”. (E.F.B.)