Lúcio Flávio não percebe que há uma profunda desconexão entre sua gestão e os advogados em geral

14 janeiro 2017 às 12h07

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A agonia de um líder de uma instituição que não entende o poder como passageiro pode ser longa e dolorosa

Há uma crise na OAB-GO. Ao menos até agora, de duas coisas não se pode acusar seu presidente, Lúcio Flávio Siqueira de Paiva: não é corrupto e não é, tecnicamente, incompetente. Mas o jovem advogado, quiçá inebriado pelo poder e pelo elogio fácil dos acólitos — que percebem todas as críticas, inclusive as construtivas, como trabalho de “adversários” e, até, “inimigos” —, parece não compreender que há entre ele e seus auxiliares uma profunda desconexão com os demais advogados.
No momento, ressalvando os que acompanham Lúcio Flávio, por vezes caninamente — são os piores seguidores, porque impedem que a realidade possa ser vista e examinada criticamente —, os advogados, das várias correntes, comentam que a advocacia goiana está funcionando no piloto automático, porque não se sente representada pelo grupo que dirige a OAB. Quando fazem a crítica, os advogados realçam que não se trata de nada pessoal, considerando, sublinham, que Lúcio Flávio “é uma boa pessoa”. Trata-se, isto sim, de uma questão institucional.
Para representar todos os advogados goianos, Lúcio Flávio precisa romper com a ideia de que foi eleito para governar para (e tão-somente com) um grupo, cada vez menor, por sinal. Se continuar assim, se não perceber que é preciso recompor com os advogados — com todos, insista-se; o que não significa aliança político-eleitoral —, a estatura do presidente, que já é pequena, vai ficar cada vez mais reduzida. Liliputiana.
Para recompor com os advogados, para governar com a maioria, e não apenas com guetos, Lúcio Flávio, segundo aqueles que querem ser representados de forma institucional, precisa, com certa urgência, reabrir o diálogo. No momento, a OAB, embora o discurso não seja este, é uma casa fechada, guetizada. Recompor com os advogados significa “guardar” as armas e adotar um discurso pacífico, não bélico, e atrair para a OAB os discursos e posições contrários ao grupo hegemônico. Se fizer isto, longe de perder poder — que é o que temem —, estarão, isto sim, se fortalecendo.
O poeta John Donne escreveu que nenhum homem é ilha e, como tal, não basta a si mesmo. É preciso integrar-se com outros homens, formatando a sociedade. Lúcio Flávio, mesmerizado pelo poder — que é provisório, a única coisa que não é transitória é a OAB, que é eterna, como a poesia de Carlos Drummond de Andrade —, está deixando de perceber a desconexão profunda entre ele e os demais advogados. Fica-se com a impressão de que o jovem presidente da Ordem, um homem decente, está “fora” do tempo e, sobretudo, que perdeu o timing.
O que se faz, neste texto, não é meramente uma crítica, e sim um alerta e um convite à reflexão. Afinal, a eleição passou e Lúcio Flávio precisa descer do palanque para conversar com o povão da advocacia. No momento, há descontentamento e decepção com o presidente da Ordem. O quadro só está piorando. Se continuar assim, em 2018, o presidente terá dizer, ao estilo de Fernando Collor, o de 1992: “Não me deixem só!” Será tarde, pois estará mais solitário do que nunca, acompanhado tão-somente dos interesseiros de sempre, que são “amantes” do poder e não do poderoso em si.
Um advogado, dado a comentários cinematográficos, assinala: “Lúcio Flávio, a agonia é longa quando não se compreende o que se está fazendo”. Faz sentido, como dizem os colunistas sociais.