Especialistas dizem que eleitor de Goiânia é maduro e exige político mais gestor do que populista

14 maio 2016 às 11h51

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O Jornal Opção solicitou a um grupo de marqueteiros e pesquisadores que traçassem um perfil básico dos eleitores de Goiânia e, ao mesmo tempo, do candidato que eles avaliam como mais capacitado para governar o município.
Há um consenso, até óbvio, de que não há rigorosamente um tipo básico de eleitor, um modelo único. Os eleitores da capital são diversificados, com interesses variados. Há diferenças até na questão dos bairros: os eleitores de um bairro podem percebê-lo como sua cidade, sem pensar na cidade como um todo, e votar, portanto, naquele candidato que julga representá-lo. Ainda assim, apesar do caráter multifacetado do eleitorado, há características que são comuns entre os eleitores pobres, de classe média e ricos. Há, por assim dizer, um “sentimento” (e/ou uma “razão”) comum entre eles. Curiosamente, por vezes, os pobres têm um grau de sofisticação, ao avaliar os candidatos e seus projetos, equivalente aos eleitores com curso superior e mais abastados.
Primeiro, os eleitores de Goiânia são maduros e não caem no conto do vigário — quer dizer, não são enganáveis e, portanto, sabem avaliar com precisão e senso crítico aquilo que está sendo dito pelos candidatos. Eles desconfiam de propostas mirabolantes e de soluções mágicas. Por que acreditaram quando Iris Rezende disse, na campanha de 2004, que resolveria o problema do transporte coletivo em seis meses? Teriam caído no conto do vigário? O mais provável é que tenham avalizado um político que havia sido governador de Goiás e ministro de Estado, quer dizer, um gestor com experiência e capacidade comprovadas. Erraram? Sim, mas a partir de uma base sólida — quem estava lhe falando sobre um projeto arrojado era um político crível.
Segundo, os eleitores goianienses até avalizam um “candidato-justiceiro”, mesmo se considerá-lo folclórico, para o Parlamento. Do ponto de vista deles, o Legislativo é um lugar no qual se pode fazer experiência e candidatos aparentemente arrojados podem acabar apresentando propostas de modernização das leis — por exemplo, sobre a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Porém, quando se trata do Executivo, embora uma parcela do eleitorado mantenha o apoio ao “justiceiro” — desses que saem atirando com os dedos, como estivessem esquecido o cérebro em casa —, os eleitores se tornam, por assim dizer, mais desconfiados e seletivos. Eles sabem, racionalmente ou por intuição, que o “justiceiro” pode não ter condições de administrar a cidade e, assim, comprometer a qualidade dos serviços públicos. Por isso, não raro, vão com ele até certo ponto, mas podem abandoná-lo no meio do caminho.
Terceiro, os eleitores de Goiânia não apreciam candidatos que apresentam um cartel muito grande de propostas. Eles avaliam que, se têm propostas demais, não vão conseguir colocá-las em prática. Assim, quando se concentrou na proposta de que iria asfaltar toda a cidade, além de resolver o problema do transporte coletivo — o que não fez —, em 2004, Iris Rezende estava certo.
Os eleitores querem que o candidato apresente algumas ideias básicas e objetivas. Por exemplo: para resolver o problema do trânsito, vai fazer “isto” e “aquilo”. Mas a ideia não pode ser vaga. Uma ideia pode até não ser muito boa, mas precisa ser clara e precisa — para que os eleitores possam se posicionar a respeito. Os eleitores de Goiânia não apreciam políticos “palavrosos”, com discursos que lembram os de Fidel Castro — longos, enfadonhos e imprecisos. Os eleitores cobram objetividade. Contenção, com apresentação das ideias com clareza, é bem-vista.
Os especialistas ouvidos pelo Jornal Opção sugerem que o quadro atual esboçado pelas pesquisas quantitativas, que revelam mais conhecimento do que preferência efetiva, pode ser facilmente modificado por um candidato que consiga atingir o coração e o cérebro dos eleitores. Marqueteiros e pesquisadores querem dizer que os candidatos têm de mexer emocional e racionalmente com os eleitores — precisam provocá-los a ter uma posição, não podem deixá-los indiferentes. Noutras palavras, os eleitores de Goiânia podem mudar de ideia — e de candidato ou candidatos —, mas precisam ser convencidos, por uma exposição dinâmica e crível, de que o postulante “x” é mesmo melhor para a cidade do que o candidato “y”.
A conclusão dos especialistas é que os eleitores de Goiânia são maduros e abertos à novidade — desde que “esta” seja consistente. Candidatos como Francisco Júnior, do PSD, Giuseppe Vecci, do PSDB, Luiz Bittencourt, do PTB, Adriana Acorsi, do PT, e Vanderlan Cardoso, do PSB, com perfil mais técnico do que politiqueiro — se de fato forem examinados pelos eleitores, se suas ideias foram discutidas e assimiladas —, podem acabar retirando do páreo políticos de matiz mais populista como Iris Rezende, do PMDB, e Waldir Delegado Soares, do PR. A palavra a reter é “podem”. Quer dizer, precisam trabalhar muito, apresentar suas ideias com frequência, tanto nos meios de comunicação — que hoje incluem as redes sociais — quanto em encontros diretos com as pessoas. Qualquer avaliação honesta, porém, sugerem os marqueteiros e pesquisadores, deve partir da admissão de que tanto Iris Rezende quanto Waldir Soares são fortíssimos, bem conhecidos e são, até agora, os políticos mais “escrutinados” pelos eleitores. Noutras palavras, apesar de alguma rejeição, não são mal vistos pelos eleitores.