Entenda por que Tarcísio pode não ser candidato a presidente e Caiado pode se tornar o nome da direita

06 setembro 2025 às 21h00

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Pronto: está definido. O candidato a presidente da República apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL, será o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos. Mas será mesmo?
Há evidências. Nos últimos dias, Tarcísio de Freitas saiu do armário do centro, no qual se escondia, e se colocou na vitrine da direita radical. Passou a se comportar não mais como um político de centro, ou de centro-direita, para aderir quase à extrema direita.
Tarcísio de Freitas, diriam Gógol, Dostoiévski e Kafka, se tornou um duplo?
Na verdade, ao radicalizar o discurso, se posicionando contra o Supremo Tribunal Federal, o que não fazia, e garantindo que, se eleito, indultará Jair Bolsonaro no primeiro dia de governo, Tarcísio de Freitas está querendo o quê mesmo?

O óbvio, dizia o antropólogo Darcy Ribeiro, precisa ser dito — até que se torne óbvio. Então, o que Tarcísio de Freitas quer é o apoio de Jair Bolsonaro? Não. O apoio do ex-presidente, o governador já tem. O que ele quer — e precisa — é do apoio do bolsonarismo, hoje representado mais pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro e pelo vereador Carlos Bolsonaro. São os dois que movimentam e manipulam as hordas bolsonaristas nas redes sociais.
No momento, Tarcísio de Freitas é “o” candidato de Jair Bolsonaro, mas ainda não o é do bolsonarismo.
O bolsonarismo, insuflado pelos hermanos Eduardo e Carlos Bolsonaro, tem dito que não apoia o governador de São Paulo. Porque o bolsonarismo ainda acredita que, sob pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — o confronto com a Venezuela seria mais um lembrete para o Brasil (“estamos aí”, como em 1964) —, Jair Bolsonaro poderá ser candidato a presidente.

Há quem acredite, e se trata de muita gente, que Jair Bolsonaro será candidato. E será mesmo: a presidiário por alguns anos, entre dois e seis anos (mesmo se condenado a uma pena mais alta, não ficará tanto tempo preso).
O fato é que a direita precisa de um candidato, ou de mais candidatos. Por mais que tenha apresentado uma faceta radical, nos últimos 15 dias, aparentemente para ser definido como candidato a presidente, o entusiasmo maior de Tarcísio de Freitas ainda parece pela reeleição em São Paulo.
O governador de São Paulo não é um político que suporta pressões. Por isso, embora seja o “delfim” de Jair Bolsonaro, pode acabar recuando. Tarcísio de Freitas pode acabar permanecendo em São Paulo. Talvez seja o que realmente quer (mas não tem coragem de dizer ao seu padrinho político). Até para não correr risco.

Sem Tarcísio de Freitas — ressalvando que, no momento, é o favorito de Jair Bolsonaro (e até poderá ter Michelle Bolsonaro na vice, embora ela queira senadora pelo Distrito Federal) —, como ficará o quadro político?
Com Tarcísio de Freitas no páreo, ao menos dois pré-candidatos a presidente, Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná, e Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, devem sair do jogo. Os dois tendem a disputar mandato de senador.
Já Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, tende a permanecer no jogo, mesmo tendo de enfrentar Tarcísio de Freitas e, claro, Lula da Silva, do PT.
Ronaldo Caiado é, de todos os pré-candidatos, o que demonstra mais convicção. Há quem postule até que, se a federação União Brasil & pP fechar uma aliança com Tarcísio de Freitas, para indicar o seu vice, o governador goiano poderá migrar para o PRD do deputado federal Paulinho da Força para ser candidato.
O goiano é do tipo de político que não recua, não tem receios. É sempre firme e posicionado. Por isso não será nenhuma surpresa se, na hora agá, o bolsonarismo optar por apoiá-lo.
Sem Tarcísio de Freitas na disputa, há a possibilidade de saírem três candidatos da direita — Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior? Há. Mas é possível que, se Tarcísio de Freitas apoiar Ronaldo Caiado, o mineiro Romeu Zema e o paranaense Ratinho Júnior desistam da disputa. (E.F.B.)