A maioria diz que perdeu o emprego por causa da crise econômica e afirma que tem medo de ser assaltada

Os taxistas reclamam, ficam uma fera, mas o Uber está contribuindo para gerar empregos e, portanto, reduzir o desemprego. Sem contar que é mesmo incontornável.

Na semana passada, dois motoristas do Uber disseram a um repórter do Jornal Opção que trabalhavam na Ciaasa, concessionária de automóveis em Goiânia, e, nos bons tempos, chegavam a vender, cada um, cerca de 16  veículos por mês — o que lhes proporcionava uma renda considerável. Com a crise, ainda não devidamente dimensionada pelos economistas — há indícios de que está se aprofundando —, passaram a vender dez, oito, seis, quatro e, finalmente, dois carros por mês. Resultado: a direção da Ciaasa fechou duas concessionárias e demitiu cerca de 40 funcionários.

Os motoristas disseram que estão ganhando menos no Uber, mas pelo menos estão trabalhando e ganhando algum dinheiro para pagar a feira, comprar o leite e pagar a escola das crianças. “Não está fácil. Tanto que estou procurando emprego, mas não está nada fácil”, relata um dos ex-funcionários da Ciaasa. Ele frisa que, mesmo quando obtiver o emprego, continuará trabalhando no Uber.

Uma mulher jovem e elegante conta que trabalhava com venda de peças — era uma supervisora-executiva —, com uma retirada mensal superior, eventualmente, a dez mil reais. Morava em Brasília. Demitida, não conseguiu sustentar a vida na capital federal, que diz ser muita cara, e mudou-se para Goiânia. É motorista do Uber. “Ganho bem menos, mas pelo menos consigo sustentar a família.”

A dona de um Honda Civic — mãe de três adolescentes, um deles na faculdade — relata que era dona de três lojas, uma delas na Avenida 85, e quebrou (até as economias foram para o espaço). O repórter pergunta: “Quebrou por que a prefeitura decidiu priorizar o transporte coletivo na avenida?” Sua resposta: “Quem diz isto não sabe o que é crise econômica. Na verdade, não estávamos vendendo mesmo antes da implantação do projeto para facilitar o tráfego de ônibus. A crise, e não os ônibus, liquidou minhas lojas”. No momento, o que mais lamenta é colocar seu Civic em algumas ruas esburacadas da capital.

Outra motorista, que trabalha mais de manhã e à tarde, mas às vezes fica até as 22 horas nas ruas — “quando as contas apertam” —, sublinha que só tem medo de uma coisa: “Depois que o Uber passou a aceitar dinheiro, e não mais só o pagamento em cartão de crédito, nós passamos a correr mais riscos. Há poucos dias, três jovens entraram no meu carro, todos no banco de trás, e pediram para que eu seguisse pela BR-153, rumo a Aparecida de Goiânia. Confesso que ‘gelei’, mas felizmente não fui assaltada. Na altura dos motéis, eles pagaram e saíram do carro”.

Um marroquino que mora há alguns anos em Goiânia conta que foi assaltado nas proximidades do shopping Flamboyant. Levou uma coronhada. Os assaltantes queriam o automóvel e dinheiro. Mais tarde, policiais militares abordaram os criminosos. Houve troca de tiros e um dos bandidos ficou ferido. “O lava-jato demorou dois dias para retirar todo o sangue do banco de trás e do piso. O carro ficou com a lateral direita toda amassada. Investi todo o lucro na recuperação do carro.”

Um jovem está dirigindo e guardando o dinheiro para montar um gabinete de dentista. Formado pela Unip, tem 23 anos e conversa muito bem. Ele e todos os demais reclamam o tempo inteiro dos governos do PT, que teriam “quebrado” o país.

O Uber se tornou, portanto, um emprego, fixo ou provisório, para centenas — quiçá milhares — de desempregados. Com a diferença é que o motorista se considera seu próprio patrão.