Com o PT fora do poder, e com o objetivo de reduzir sua pena, o publicitário abre o jogo e diz ter informações exclusivas para revelar ao Ministério Público de Minas e ao Ministério Público Federal

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O que Sérgio Machado está dizendo, na sua delação premiada, é que a corrupção é generalizada: atinge PMDB, PT e PSDB — além de outros partidos. Campanhas caras e o desejo de se enriquecer facilmente estão por trás da corrupção investigada pela Operação Lava Jato. Por isso, e é provável que Sérgio Machado não está mentindo, não vai sobrar quase ninguém incólume das cúpulas dos partidos. Veja-se o caso do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Há quem acredite que o mineiro é uma invenção do PT, quando, na verdade, é uma invenção do PSDB de Minas Gerais. O que o PT fez foi ampliar os negócios de Marcos Valério e este ampliou os negócios do PT, no caso que ficou conhecido como mensalão. Condenado e preso, Marcos Valério calou-se. Os motivos? Primeiro, sabendo do caso do prefeito Celso Daniel, de Santo André, por medo de morrer. Segundo, porque teria sido subornado pelo PT, para ficar calado, com pelo menos 110 milhões de reais (teria pedido acima de 200 milhões a Paulo Okamoto, considerado como a pessoa mais próxima de Lula da Silva). Terceiro, porque, com o PT no poder, temia novas ações contra ele e sua família, em vários campos. Agora, com o PT fora do governo federal, com tentáculos menores, decidiu falar, e ele tem o que falar. Resta saber se, além da palavra, tem provas materiais. Mas, mesmo sem documentos, podem apontar os caminhos das pedras e, claro, dos cofres.

Marcos Valério e Eduardo Azeredo get_img

Marcos Valério abriu diálogo com procuradores federais e promotores estaduais. Ele começa a abrir o jogo. Se tiver o que dizer, se acrescentar informações novas, poderá obter os benefícios gerados pela delação premiada. Ao Ministério Público de Minas Gerais, o publicitário afiançou que tem informações exclusivas, ainda não divulgadas, sobre o chamado “mensalão mineiro”, bancado por tucanos e aliados.

Num documento protocolado na 17ª Promotoria de Patrimônio Público da Comarca de Belo Horizonte, ele se oferece para fazer delação premiada. Seu advogado, Jean Robert Kobayashi, confirmou ao jornal “Tempo” que o documento é autêntico. “O que posso dizer é que a sociedade vai se escandalizar com o que o Marcos Valério vai revelar”, afirma o advogado. Há mesmo fatos novos contundentes? O representante do publicitário garante que sim. O “mensalão mineiro” tem a ver com o uso de caixa 2 na campanha do ex-governador Eduardo Azeredo.

Marcos Valério e Delúbio Soares marcos_valerio_delubio_soares-1010879

O publicitário também negocia um acordo com o Ministério Público Federal para abrir o jogo sobre sua aliança com o PT (em conluio com o goiano Delúbio Soares). Marcos Valério, agora sem receio do governo do PT, contou aos procuradores que poderá explicar como foi feita a maquiagem das contas do Banco Rural e como sumiram documentos da CPI dos Correios. Este desaparecimento foi útil para evitar a denúncia e consequente condenação de políticos poderosos.

Condenado a mais de 37 anos de prisão por corrupção ativa, peculato, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Marcos Valério quer obter algumas regalias, ao colaborar com o Ministério Público de Minas Gerais e com o Ministério Público Federal. Primeiro, quer ser transferido para a APAC de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Segundo, é claro, quer reduzir sua pena e, até, cumpri-la o que resta dela em liberdade.

A delação premiada de Marcos Valério vai repor Eduardo Azeredo no centro do mensalão mineiro — além, é provável, de Clésio Andrade e Walfrido Mares Guia — e o ex-presidente Lula da Silva, além de José Dirceu e Delúbio Soares, como protagonista do mensalão formulado pelo PT.

Artur Wascheck, de Goiânia

Lucas Figueiredo capa do livro O Operador ea09b397-22ca-4a9a-9de8-55ce693d123c

Se quiser saber um pouco mais sobre os esquemas montados por Marcos Valério, em aliança com o PSDB e o PT, o leitor deve ler o livro “O Operador — Como (e a Mando de Quem) Marcos Valério Irrigou os Cofres do PSDB e do PT” (Record, 250 páginas), do jornalista Lucas Figueiredo. As informações estão agrupadas e permite ter uma visão do “conjunto da obra” gestado tanto por tucanos quanto por petistas.

Leia um trecho do livro (página 15): “Artur Wascheck Neto era um sujeito curioso. Amava história e literatura, matérias que lecionara durante seis anos em escolas de sua cidade natal, Goiânia. Mas foi em Brasília, para onde se mudara a convite de um amigo, que acabou por descobrir sua verdadeira vocação: atuar no fascinante mundo das licitações públicas. Sócio em quatro empresas (Comam, Vetor, Agenda Brasília e Agenda Turismo), Wascheck não fabricava nada, mas vendia quase tudo. Para as Forças Armadas fornecia botas, tênis, sandálias, calções, sungas, malhas para ginástica e o que mais aparecesse pela frente. Com os Correios, negociava cofres e capas de chuva, entre outros itens”.