Cora será fundamental para tratar crianças com câncer. Ninguém tem o direito de ficar contra

26 novembro 2023 às 00h24

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O duplo é uma figura recorrente literatura — do americano Edgar Allan Poe aos russos Nicolai Gógol e Fiódor Dostoiévski. Digamos, portanto, que Marconi Ferreira Perillo Júnior, de 60 anos, é um duplo. De um lado, Marconi Perillo, a faceta mais conhecida, e, de outro, Ferreira Júnior, menos conhecido.
Como se sabe, Marconi Perillo, quando governador, construiu o Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo, o Crer, e o Hugol, o segundo hospital de urgências de Goiânia.
Imagine se na época da construção do Crer (foi inaugurado em 2002), Ferreira Júnior, comportando-se como se fosse um duplo — similar ao da história de William Wilson, de Poe —, contestasse Marconi Perillo, com o objetivo de impedir ou retardar a feitura da obra.
Se tivesse conseguido impedir a construção do Crer e do Hugol (inaugurado em 2015), Ferreira Júnior, o duplo, estaria prejudicando muito menos Marconi Perillo e muito mais os goianos — aliás, os brasileiros (porque as duas unidades não tratam apenas de pessoas nascidas em Goiás).
Porém, Marconi Perillo não enfrentou problemas político-eleitorais. Ferreira Júnior, por sorte, não prejudicou a construção do Crer e do Hugol. O duplo não entrou em contato com o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e o Ministério Público para tentar impedir a edificação e a administração das unidades de saúde. Todos entenderam que eram benéficas para a sociedade — notadamente para os mais pobres, aqueles que, em geral, não têm plano de saúde.
Portanto, sorte de Marconi Perillo que Ferreira Júnior, seu duplo, não era, por assim dizer, Caim. Era Abel.

Corre a informação de que Marconi Perillo, quiçá como vingança por causa de duas derrotas eleitorais — ambas para o Senado — e por que está se aproximando a eleição de 2026, quando, de acordo com aliados, planeja disputar o governo do Estado, opera, repassando críticas para jornais e tentando influenciar o Tribunal de Contas do Estado, senão para impedir, ao menos para retardar a construção e o funcionamento do Cora — o hospital que vai tratar de crianças — e, em seguida, de adultos — com câncer. Gratuitamente. Muitos goianos não terão de percorrer o país — por exemplo, esperando na fila em Barretos — em busca de tratamento contra o câncer, um doença que, se o paciente não tiver plano de saúde e se não conseguir atendimento numa unidade pública de saúde, pode levar as famílias à falência.
Portanto, ao construir o Cora, o governador Ronaldo Caiado está pensando em duas questões. Primeiro, óbvio, tratar as pessoas com alta qualidade — salvando vidas. Segundo, o tratamento mais rápido, com médicos altamente gabaritados, tem alto índice de sucesso.
Por que, então, operar contra a construção do Cora? O duplo Ferreira Júnior decidiu aparecer e agir contra o próprio Marconi Perillo?
Veja-se a questão técnica. A Assembleia Legislativa aprovou a formatação jurídica que possibilita a implantação do Cora — via uma Organização da Sociedade Civil (OSC) —, sem quaisquer resistências, por entender que se trata de cuidar da saúde pública. A aprovação se deu em 3 de novembro de 2022 — há um ano.
Pela Lei nº 21.642, o governo de Goiás foi autorizado a implantar uma unidade de saúde semelhante, em qualidade, ao Hospital de Amor de Barretos (SP).
Pela lei, o Estado está autorizando a repassar recursos financeiros para implantar a unidade de saúde. A Lei Federal 13.019/2014 embasa a ação do governo goiano — repita-se, com projeto aprovado pelos 41 deputados da Assembleia Legislativa —, que, assim, poderá operar por intermédio de uma parceria social, na modalidade colaboração.
A parceria é com a Fundação Pio XII, que tem expertise na área de atendimento de pacientes em tratamento oncológico. Para implementar o Cora, a Secretaria de Saúde firmou, com a Agência de Infraestrutura e Transportes e a Fundação Pio XII, um Termo de Colaboração — cujo objetivo é implementar o Cora… para, insista-se, salvar vidas o mais rápido possível.
O atendimento será 100% pelo sistema SUS. Quer dizer, os pacientes não pagam — o atendimento é gratuito. E dizer isto é importante, é decisivo. Porque não se pode impedir que se trate, de maneira gratuita, aqueles que têm câncer. Não se pode impedir os pobres de serem atendidos e, sobretudo, de viver…
A Procuradoria-Geral do Estado debateu o modelo jurídico com os poderes estaduais. Não houve questionamento. O Ministério Público, que é sempre exigente, não viu nenhum problema na celebração de parceria com uma organização idônea, como a Fundação Pio XII, da sociedade civil. O TCE, por certo, irá pelo mesmo caminho. Frise-se que o atual presidente do órgão, Edson Ferrari, é muito preocupado com a saúde das crianças.
Finalizando, oxalá Ferreira Júnior, o encosto, deixe Marconi Perillo, aquele que construiu o Crer e o Hugol, em paz. As crianças que sofrem com câncer, ao lado de seus pais, torcem para que Ferreira Júnior, o mau, deixe o “inocente” Marconi Perillo pensar na saúde dos que padecem. Parte da imprensa precisa ficar atenta para não aderir, digamos assim, ao irracionalismo niilista dos tempos pós-modernos. (E.F.B.)