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O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ter derrubado a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para presidente da República.

Primeiro, Tarcísio de Freitas até aceita disputar, dada a insistência do ex-presidente Jair Bolsonaro, que o considera “controlável”. Mas o governador não quer e prefere disputar a reeleição. Seu principal orientador político, o secretário Gilberto Kassab, não opera com a possibilidade de uma candidatura nacional.

Tarcísio de Freitas e Alexandre de Moraes: ainda é o preferido de Jair Bolsonaro | Foto: Agência Brasil

Segundo, na questão do tarifaço, inicialmente, meio perdido, Tarcísio de Freitas alinhou-se com Donald Trump. Ao perceber que todo o país, notadamente São Paulo, seria prejudicado, o governador recuou. Mas era tarde. Ficou com a imagem de não ser “nacionalista” e de ser anti-Brasil. Numa campanha nacional, isto seria explorado de maneira intensiva.

Terceiro, o recuo em relação ao tarifaço, pegou mal entre os bolsonaristas. O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro, o filho mais polêmico de Jair Bolsonaro — chamado por políticos de “estafeta” de Donald Trump —, chegou a atacá-lo de maneira veemente.

Quarto, de todos os pré-candidatos, Tarcísio de Freitas é o que parece ter mais receio de enfrentar o presidente Lula da Silva, do PT. Nos bastidores, comenta que o petista é um profissional da política muito difícil de ser superado.

Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior: os três estão no jogo | Foto: Divulgação

Se Tarcísio de Freitas — repita-se: ainda o favorito de Jair Bolsonaro — sair do páreo, optando pela disputa da reeleição, quais nomes da direita ficarão no jogo?

Eduardo Bolsonaro não tem a mínima condição de disputar. Se voltar ao Brasil, será preso. Adiante, dependendo do que acontecer, não poderá nem mesmo sair dos Estados Unidos. Porque poderá ser preso em outro país.

Jair Bolsonaro nem aceita discutir a possibilidade de Michelle Bolsonaro disputar a Presidência. Porque sabe que, sob ataque — os políticos não têm pudores em campanhas eleitorais —, sua mulher poderá desmoronar durante a campanha. Por isso, o líder do PL tomou uma decisão: a ex-primeira-dama será candidata a senadora no Distrito Federal. Figura, desde já, em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, como uma divulgada pelo instituto Paraná Pesquisas.

Michelle Bolsonaro foto da Agência Brasil
Michelle Bolsonaro será candidata a senadora no Rio de Janeiro | Foto: Agência Brasil

Então, como não apoiará o governador de Minas Gerais, Romeu Zema — porque o considera pouco ideológico, ou seja, seria de uma direita festiva, mas não efetiva —, Jair Bolsonaro poderá apoiar Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná, ou Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás.

Frise-se que, na semana passada, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, defendeu Ratinho Júnior para presidente da República — descartando, de cara, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, igualmente do PSD. Acrescente-se que se trata de outro sinal de que Tarcísio de Freitas tende a ficar em São Paulo.

Um marqueteiro paulista diz que o nome Ratinho não ajuda. “Todos sabem que Ratinho Júnior é um político popular, ao menos no Paraná, e é decente. Mas, durante a campanha, vão perguntar: ‘Sabe por que Ratinho é candidato a presidente?’ E vão responder: ‘Para virar Ratão’. É a maldade típica da política, mas pode virar um meme destrutivo.”

Ratinho Júnior Foto Divulgação
Ratinho Júnior tem o apreço de Bolsonaro mas não entusiasma o bolsonarismo | Foto: Divulgação

Já Ronaldo Caiado cada dia cai mais nas graças da família Bolsonaro. De acordo com um bolsonarista do Rio de Janeiro, Eduardo Bolsonaro não se entusiasma com Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e Romeu Zema. Porque não nota firmeza em suas posições. O governador de Goiás tem defendido Jair Bolsonaro, independentemente de isto ser positivo ou não em termos eleitorais para ele.

Entretanto, o posicionamento firme de Ronaldo Caiado entusiasma Eduardo Bolsonaro, de acordo com a fonte carioca. Caiado é um quadro da direita ideológica. Sempre foi. Não é um político de direita por causa da ocasião. A família Bolsonaro aprecia isto. Por isso, não será nenhuma surpresa se começar 2026 como candidato a presidente apoiado pelo bolsonarismo.

Flávio Bolsonaro: o senador está fora do jogo presidencial | Foto: Reprodução/Youtube

A bandeira da segurança, firme e sem negociação, encampada por Ronaldo Caiado, é outra questão que o bolsonarismo aprova.

(Numa conversa com três bolsonaristas, recolheu-se uma informação que não aparece na imprensa brasileira: Jair Bolsonaro e o bolsonarismo não quer Ciro Nogueira, do pP, na chapa majoritária, ou seja, como vice. Porque, de acordo com as fontes, o PT reuniu um pacotão de denúncias contra o senador do Piauí. Numa campanha, o candidato a presidente não pode ficar explicando os possíveis malfeitos do vice. Bets e CBF, para citar dois problemas, são questões que podem inviabilizar Ciro Nogueira.)

O senador Flávio Bolsonaro é uma alternativa? Não é. Porque Jair Bolsonaro estaria sugerindo que sua família vai priorizar o Senado: Flávio Bolsonaro (no Rio de Janeiro), Carlos Bolsonaro (em Santa Catarina) e Michelle Bolsonaro (no Distrito Federal). O ex-presidente, tudo indica, quer retirar o foco — e o fogo — de cima de seus familiares. Ao mesmo tempo, quer ter o controle do Senado.

Por isso, a tendência é apoiar um candidato de fora da família, como Ratinho Júnior, Ronaldo Caiado ou o recalcitrante Tarcísio de Freitas. (E.F.B.)