Tendo “estudado” na Harvard da esperteza, o presidente mostra a aliados que foi eleito para mandar e trocar quem quiser

Há uma confusão no Brasil entre “cultura” e “inteligência”. O ex-presidente Lula da Silva e o presidente Jair Messias Bolsonaro, tidos como incultos, são considerados, por vezes, como pouco inteligentes. O petista chegou a ser chamado de “apedeuta”, o que, claro, não é. Os dois políticos são, pelo contrário, inteligentes e raposas. Ninguém que tenha passado quase 30 anos na Câmara dos Deputados — a Harvard em que se faz pós-doutorado em esperteza — pode ser considerado um néscio em termos de política. Bolsonaro é espertíssimo.

Jair Bolsonaro, na foto com Roberto Naves, prefeito de Anápolis, e com Ronaldo Caiado, governador de Goiás, é espertíssimo | Foto: Reprodução/Instagram

Recentemente, Bolsonaro demitiu três ministros militares — inclusive o seriíssimo e competente Santos Cruz. Jornalistas ficaram “intrigados”. Afinal, o presidente não era refém dos militares que levou para o governo? Não eram eles que decidiam e o gestor principal obedecia? O “Mito” provou que não é bem assim.

Bolsonaro mostrou que, apesar de respeitar os militares, é o dono da “caneta” — aquele que nomeia e exonera. Sim, demite qualquer um, dos amigos aos generais. O recado recente foi para os militares, algo do tipo: vocês estão no governo, mas quem manda sou eu, o presidente. Não há intocáveis — exceto Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão, o vice-presidente. Os demais, qualquer que seja a patente e não tendo patente, podem ser trocados. Os ministros Sergio Fernando Moro e Paulo Guedes, que já foram gigantes, não se tornaram anões, mas estão menores. Eles têm a, digamos, “força”, mas não, por assim dizer, a “caneta”. Podem dormir ministros e acordar desempregados.

Se Abraham Lincoln montou um time de rivais na sua gestão presidencial, Bolsonaro não faz diferente. Ele gere uma equipe de contrários, mas está buscando ajustá-la. Ele é nacionalista e tem um ministro da Economia neoliberal. Por enquanto, mesmo sem entendê-la direito, segue a cartilha do chicago-sênior. Amanhã, dependendo das circunstâncias, pode retomar o desenvolvimentismo nacionalista — o do general-presidente Ernesto Geisel e do tucanato-petismo. Na Ministério da Justiça, havia um deus, Sergio Moro; agora, no máximo, um semideus. Ao vestir a camisa do Flamengo, no estádio de Brasília, tornou-se mais um mané e deixou de ser um pouco Garrincha, quer dizer, vestiu, na verdade, a camisa de Bolsonaro. Depois do Interceptgate, ficou menor. Pode até ficar maior amanhã, mas, no momento, está na defensiva — o que agrada o crime organizadíssimo, tanto o do colarinho branco quanto o da turma do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV).

Há quem acredite, quiçá por desconhecer o que é a prática política e o que é o idealismo político, que Bolsonaro, por meio do filho Carlos Bolsonaro, é comandado, desde a Virgínia, pelo filósofo Olavo de Carvalho. Na verdade, apesar de não ter a cultura do pensador patropi radicado na terra de Donald Trump, Bolsonaro está “mexendo” os cordões de suas marionetes. O mais provável é que Olavo de Carvalho tenha se tornado um peão do jogo do espertíssimo Bolsonaro — que, de bobo, só tem a fala atropelada.