Bolsonaro articula com Vitor Hugo e Mendanha, mas quer aliança é com Caiado

20 março 2022 às 00h01

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De olho nas pesquisas, o presidente sabe que Ronaldo Caiado é favorito na disputa da reeleição. E há entre os dois identidade ideológica
Dadas suas explosões cotidianas, o presidente Jair Bolsonaro é tido como um político meramente “emocional” ou “passional”. Ledo engano. Há muito de teatral nos gestos do presidente, que, no fundo, é um político racional e mais frio do que parece.
A aliança com o Centrão do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, mostra que Bolsonaro é de um pragmatismo absoluto. Noutras palavras, fez o que era preciso fazer, para governar, e não exatamente o queria fazer.
Outra característica de Bolsonaro é a lealdade. Claro que não sacrifica seu mandato por causa de amigos que cometerem malfeitos, mas, desde que seja possível, mantém-se ao lado deles.

Bolsonaro sabe que a eleição deste ano pode ser decidida por um “beicinho de pulga”. Para evitar que Lula da Silva, do PT, seja eleito no primeiro turno, o presidente vai precisar de cada votinho nos Estados, independentemente se tem muitos (caso de São Paulo) ou poucos votos (caso de Goiás — com seus 4 milhões de eleitores). Aquele candidato que não menosprezar nenhum eleitor, consequentemente nenhum Estado, poderá usar a faixa presidencial no dia 1º de janeiro de 2023.
Sabendo da importância de cada voto — numa eleição que vai se acirrar a partir de agosto —, Bolsonaro está examinando pesquisas de intenção de voto de todos os Estados. Consta que, para vê-las melhor, usa até lupa — metaforicamente ou não.
Em Goiás, no momento, por uma questão de lealdade, Bolsonaro apoia a pré-candidatura do deputado federal Major Vitor Hugo a governador de Goiás. Não só. O presidente está garantindo um partido, o PL, para o aliado disputar.
Por examinar as pesquisas, Bolsonaro sabe que as chances de Major Vitor Hugo ser eleito são mínimas, mas pelo menos, durante a campanha, irá lhe garantir um palanque nas cidades e na televisão. A “função”, digamos assim, do parlamentar seria “lembrar” e “reafirmar”, para os eleitores goianos, que Bolsonaro é candidato. O deputado não é candidato para “ganhar”, mas sim candidato para ajudar Bolsonaro a tentar ganhar.
O prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, flertou com o PT de Lula da Silva — tanto que levou ao seu gabinete os deputados estaduais Antônio Gomide e Adriana Accorsi. Porém, barrado por um grupo de pastores da Assembleia de Deus, parou as conversações com os reds. Bolsonaro não gostou de saber que o mentor intelectual de Mendanha é o petista Ozéias Laurentino, seu secretário de Comunicação. “Bolsonaro jamais daria o cargo de assessor de imprensa ou ministro das Comunicações a um petista”, afirma um deputado.
Depois, Mendanha flertou com o Podemos de Sergio Moro. Ele estava tão empolgado que esteve na casa da presidente nacional do Podemos, deputada federal Renata Abreu, para hipotecar apoio ao ex-magistrado e pedir o seu apoio. Como se sabe, Bolsonaro se tornou inimigo figadal de seu ex-ministro da Justiça.

Agora, como não conseguiu se filiar em nenhum partido de expressão — que tenha tempo de televisão e recursos financeiros do Fundo Eleitoral —, Mendanha decidiu procurar Bolsonaro para lhe pedir apoio e para retirar Major Vito Hugo do páreo. Aceitaria até colocar o deputado como seu vice, ou como postulante a senador, desde que lhe este lhe repasse o PL. O presidente, que mal sabe quem é Mendanha (mas, de fato, tem apreço pela deputada federal Magda Mofatto, a chefona do PL em Goiás) — chegou a chamá-lo de “Maudanha”, segundo um deputado estadual —, decidiu a ouvi-lo. Mas nada ficou acertado a respeito de apoio. “Mendanha perdeu o timing”, afiança um aliado de Bolsonaro.
Bolsonaro fechou com Major Vitor Hugo para governador e, no caso de ele não se tornar viável, poderá bancar o senador Vanderlan Cardoso (PSD) para governador.
Mas, dada sua frieza e os olhos fixados nas pesquisas de intenção de voto, o que Bolsonaro quer mesmo é o apoio do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, para sua reeleição — e já no primeiro turno. Há identidade ideológica entre os dois políticos e o presidente aprecia a firmeza do político goiano.
Para ir para o segundo turno, e não muito mal, Bolsonaro precisa crescer, reforçando sua musculatura. Por isso, precisa do apoio de um político de expressão como Ronaldo Caiado e, claro, do União Brasil, partido que pode ser o fiel da balança no pleito deste ano.
Mas o que é melhor para Ronaldo Caiado? Talvez ficar neutro no primeiro turno, com o objetivo de conquistar votos dos eleitores que não votam em Bolsonaro, mas podem votar nele, Ronaldo Caiado Por exemplo: o Podemos de Sergio Moro não lançará candidato a governador em Goiás. Seus eleitores possivelmente poderão voltar no postulante do União Brasil para governador.
A Bolsonaro não interessa uma crise com Ronaldo Caiado, mesmo que não obtenha seu apoio no primeiro turno, porque, no segundo turno, vai precisar de ser apoio para tentar superar Lula da Silva.
Em suma, Bolsonaro quer aliança com Ronaldo Caiado. Major Vitor Hugo e Vanderlan Cardoso, embora políticos importantes, são peões de seu jogo político. Eles entraram no jogo muito para pressionar o governador goiano a apoiar o presidente já no primeiro turno do que realmente para disputar o governo do Estado.