COMPARTILHAR

Como o jornalismo deve lidar com pesquisas de intenção de voto? Primeiro, percebendo, e dizendo isto aos eleitores, que são retratos de um momento dado. Como se sabe, a realidade política vai, aos poucos, mudando — dependendo da campanha eleitoral, da obtenção de mais informações.

Segundo, as primeiras pesquisas refletem, por vezes, mais conhecimento do que apoio efetivo.

A pesquisa Genial/Quaest (Quaest, latim, significa pergunta) apresenta um quadro dos mais interessantes a respeito da disputa pelo governo de Goiás em 2026.

O vice-governador Daniel Vilela, pré-candidato a governador pelo MDB, aparece em primeiro lugar, com 26%. Seguido do pré-candidato do PSDB, Marconi Perillo, com 22%. O senador Wilder Morais, pré-candidato do PL, aparece em terceiro lugar, bem distante, com 10%.

Por que a pesquisa é mais positiva para Daniel Vilela do que para Marconi Perillo e Wilder Morais?

Primeiro, porque Daniel Vilela aparece em primeiro lugar, mesmo não sendo o mais conhecido dos postulantes. Vice-governador não aparece — é uma regra da política. Quem aparece, no caso, é o governador Ronaldo Caiado, do União Brasil.

Marconi Perillo: o político que governou Goiás por quase 16 anos | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Segundo, o mais conhecido dos pré-candidatos é Marconi Perillo, que foi deputado estadual, deputado federal, governador por quatro mandatos — quase 16 anos de poder.

Ainda que seja o mais conhecido, Marconi Perillo não aparece em primeiro lugar. Ressalve-se: não está mal posicionado, pois tem 22% e aparece na frente de um bolsonarista, Wilder Morais.

Mas é preciso insistir num ponto: o fato de ter ficado no poder quase 16 anos deveria ter catapultado Marconi Perillo para um percentual mais elevado. Ficar atrás de Daniel Vilela, 21 anos mais novo e menos conhecido, não é um bom sinal.

Os 22% de Marconi Perillo pode significar “teto”, que não consegue descolar? Trata-se de uma pergunta pertinente, mas cuja resposta não é fácil. De fato, o percentual pode ser seu limite. Vale lembrar que, nas duas disputas para senador, começou bem e terminou mal. Perdeu tanto em 2018 — para Vanderlan Cardoso (PSD) e Jorge Kajuru (PSB) — quanto em 2022, quando perdeu para Wilder Morais.

Uma campanha para senador, sabe-se, não é tão difícil quanto a de governador, que é mais polarizada e crítica.

Wilder Morais, senador pelo PL: candidato do quase ou do se | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Marconi Perillo tem falado de seu passado positivo, e é fato que fez coisas boas para Goiás. Mas, quando se fica quase 16 anos no poder, acumula-se vastos desgastes. Seus aliados avaliam que sua imagem está sendo, aos poucos, restaurada. Mas resistirá a uma campanha acirrada, como as lembranças das denúncias? É um risco que terá de correr. O resultado das disputas de 2018 e 2022 são alertas candentes.

Falta a Marconi Perillo estrutura partidária (com que ele irá conversar no interior de Goiás e na capital?). O PSDB virou pó em Goiás e no país.

Numa eleição para governador, que, insistamos, é pesada, é preciso contar com um base ampla. Dirão: em 1998, quando Marconi Perillo derrotou Iris Rezende pela primeira, era um jovem anódino, com pouco mais de 30 anos. Mas convém lembrar: sua campanha foi amparada, desde o começo, por líderes do porte de Ronaldo Caiado (então deputado federal), Nion Albernaz (era prefeito de Goiânia), Otávio Lage (ex-governador de Goiás) e Roberto Balestra (deputado federal). A história do moço da camisa azul é puro mito. Uma estrutura tradicional (como os cheques de Otávio Lage) alavancou sua campanha.

Em 2026, com qual estrutura Marconi Perillo contará para a disputa do governo — se é que será candidato (há quem especule que, na hora agá, sairá do páreo, indo a deputado federal, e abrirá espaço para a vereadora Aava Santiago, do PSDB do PT)?

Nenhuma estrutura, ou melhor, a estrutura bancada pelo fundo eleitoral do PSDB e de aliados. No interior, o PSDB praticamente não existe mais. Virou pó.

Daniel Vilela, pelo contrário, contará no mínimo com seis coisas fundamentais.

1

Terá o apoio de Ronaldo Caiado — que é aprovado por 88% dos goianos (trata-se do governador mais bem avaliado do país) — e de um exército de prefeitos. E há o fato que, durante a disputa, estará no governo. Ou seja, será governador.

Daniel Vilela e Ronaldo Caiado Foto Divulgação Secom GO 2
Daniel Vilela e Ronaldo Caiado: uma parceria que tende a render votos para o primeiro | Foto: Divulgação

Neste momento (agosto de 2025) — repetindo, há um ano e um mês das eleições —, os eleitores estão poucos focados em disputas eleitorais. Mas, com o passar do tempo, ao perceberem com nitidez que Daniel Vilela é o candidato de Ronaldo Caiado — o gestor que resolveu o problema da segurança pública em Goiás —, o quadro, que já é bom, possivelmente deve melhorar para o jovem emedebista.

Frise-se: há nomes postos, mas ainda não há campanha, nem mesmo pré-campanha. Mas a identificação de Daniel Vilela, uma associação política e em termos de gestão, e Ronaldo Caiado, o principal general eleitoral de Goiás, será muito positiva para o emedebista.

O cientista político Alberto Carlos Almeida, autor dos seminais livros “A Cabeça do Eleitor” e “A Cabeça do Brasileiro”, afirma que candidato apoiado por governador bem avaliado, como Ronaldo Caiado — insistindo: 88% de aprovação —, dificilmente perde eleição.

2

O exército de prefeitos — mais de 200 (são 246 municípios) — certamente também fará a diferença. Quando saírem às ruas, apresentando Daniel Vilela para os eleitores e pedindo voto, a frente do emedebista tende a subir.

3

No dia 4 de abril de 2026, daqui a sete meses, Daniel Vilela assumirá o governo de Goiás, com a desincompatibilização de Ronaldo Caiado — que irá disputar a Presidência da República.

Assumir o comando de um governo bem avaliado, e com a possibilidade de imprimir sua própria marca, é outro fator positivo para Daniel Vilela.

4

Além dos prefeitos, Daniel Vilela conta com o apoio de partidos sólidos em Goiás: o MDB, seu partido, o União Brasil de Ronaldo Caiado, o pP de Adriano do Baldy Avelar, o Republicanos de Roberto Naves, o Podemos de Glaustin da Focus, o PDT de Flávia Morais, o PSB de Elias Vaz, entre outros.

O PL de Wilder Morais é uma incógnita. Dependendo do quadro nacional, da articulação de Ronaldo Caiado com o bolsonarismo, o PL poderá apoiar Daniel Vilela para governador e indicar Gustavo Gayer para senador, ao lado de Gracinha Caiado, do União Brasil.

Candidato que “depende” de alguma coisa, ou de alguém, é muito difícil de se firmar. 98% dos prefeitos do PL, dada a inconstância do senador, já estão apoiando a postulação do emedebista.

5

Líderes evangélicos, como o bispo Oídes José do Carmo e o pastar Josué Gouveia, assim como duas lideranças políticas evangélicas importantes — o deputado federal Glaustin da Fokus, o ex-deputado federal João Campos (vice-prefeito de Aparecida de Goiânia), o deputado Henrique César e o prefeito de Bela Vista de Goiás, Eurípedes José do Carmo, o ex-deputado estadual Lívio Luciano — já declararam que irão apoiar Daniel Vilela para governador.

6

Há, por fim, outra informação relevante: não já nenhum sentimento de mudança em Goiás. A Quaest, ainda que seja preliminar, sugere que os eleitores querem continuidade. Sim, continuidade dos métodos administrativos e políticos do governador Ronaldo Caiado. Acrescente-se que o discurso de renovação não cola na boca de Marconi Perillo.

Por tudo que foi dito acima é que o diretor do instituto Quaest, Felipe Nunes, postula que Daniel Vilela é o pré-candidato com maior potencial de crescimento.

Então, é possível que, nas próximas pesquisas, Daniel Vilela supere 30% (a expectativa de poder e de vitória está em suas mãos) e Marconi Perillo não saia dos 22%, com a possibilidade de cair. E Wilder Morais? É cada vez menos pré-candidato. Candidato de si mesmo, não é, no momento, o postulante do PL. É o candidato do “se”. (E.F.B.)