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Diferente das frases críticas, comuns da fase adulta, crianças e adolescentes respondem palavras de carinho
Anderson Fonseca
Especial para o Jornal Opção
“Qual é o poder de uma palavra?” Foi com essa pergunta que iniciei minha aula de Língua Portuguesa nos 2º e 3º anos do Ensino Médio de uma escola pública da qual sou professor. As respostas foram muitas, das transformações sócio-políticas às mudanças de temperamento e as relações afetivas; raras as que se voltaram para a poesia.
O substantivo “poder” foi o gatilho para focar-me nos sentimentos e no quanto as palavras alimentam as emoções e os julgamentos do homem. Nossa ótica está limitada às palavras que conhecemos e é a partir desse universo linguístico que definimos os sentimentos, as relações afetivas e a nós mesmos.
As palavras que usamos representam nosso universo interior. Como diziam nossos avós, “a boca fala do que o coração está cheio”. Se estiver cheio de rancor, as palavras sairão ásperas; se estiver cheio de dor, sairão pesadas de tristeza; se alegre, exultantes; se pacificado, sairão suaves. Mas esse coração, antes, foi cultivado com esse universo de palavras. Elas germinaram, e o fruto colhido foi uma boca repleta delas.
Depois de ter-lhes dito isso, expliquei a importância das palavras na formação do sujeito e a necessidade de, nas relações humanas, praticarmos o ato de dizer palavras que levem a boas ações. Lamentei, como adulto, o quanto em minha idade elas fazem falta. Quando a infância é abandonada e devemos carregar o fardo da responsabilidade por nossas escolhas, as palavras que geralmente ouvimos são de natureza crítica. Nenhuma de carinho, consolo, motivacional. Nenhum sorriso. O tempo é escasso, não sobra, às vezes, sequer para ouvirmos, quanto mais dizermos. A consequência é óbvia: um espaço preenchido por pessoas, contudo, ausente de palavras. E se saem palavras, estão cheias de vazio.
O verdadeiro, aquela que gostaríamos de ouvir, encontra-se distante, em uma região utópica. Assim que terminei de falar, pedi aos alunos que escrevessem no caderno a seguinte pergunta: “Quais palavras você gostaria de ouvir?”. Pedi que fossem sinceros. Depois de 15 minutos, recolhi os textos. De 173 alunos, as respostas se repetiram mostrando o quanto todos apresentavam a mesma necessidade. Estas são as palavras que meus alunos gostariam de ouvir:
- Você é muito especial para mim.
- Pode contar comigo.
- Você é capaz.
- Nunca desista de seus sonhos.
- Nossa! Como você faz falta.
- Não se preocupe. Tudo irá ficar bem.
- Você é forte.
- Você não é um fracasso.
- Me dê um abraço.
- Parabéns.
- Obrigado!
- Você conseguiu!
- Você me faz bem.
- Não me importa o que você é, e sim, o que me transmite.
- Vá em frente, você consegue.
- Boa sorte.
- Sempre estarei ao seu lado.
- Diga a verdade.
- Eu te compreendo.
- Me abrace forte.
- Eu te perdoo.
- Tenho orgulho de você.
- Acredite em si mesmo.
- Achei em você o que faltava em mim.
- Te adoro!
- Você é um bom amigo.
- Desculpe.
- Seja feliz.
- Eu quero te ouvir.
- Senti sua falta.
- Você faz toda a diferença.
- Sorria!
- Não se abale!
- Bom trabalho!
- Eu te admiro.
- Você pode chegar aonde quiser.
- Você é um grande amigo.
- Você é o melhor filho do mundo.
- Você ganhou um ano de pizza grátis!
- Eu acredito em você.
- O som do silêncio.
- Que me entendessem, pois penso diferente dos outros.
- Chuva, depois o som do violoncelo.
- Que todas as pessoas do mundo são boas.
- Nossa! Você é engraçado.
- Gosto muito de você.
- Você é único. Jamais haverá alguém como você.
- Você não pode consertar o mundo, mas pode consertar sua vida.
- Está tudo bem.
- Eu te amo.
Ao lê-las fiquei emocionado com a sinceridade, eram frases que eles não escutavam de seus pais, seus amigos; frases que dizem a si quando desejam escutá-las. Outro dia compartilhei com todos e eu vi nos olhos a faísca de emoção humana ser resgatada. Desde então, tenho visto cultivarem boas palavras uns com os outros. Mas a experiência me levou a pensar o quanto seria bom que todos dissessem ao outro as palavras que ele mesmo gostaria de ouvir.