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Mad Max ou Star Wars: qual será o melhor blockbuster do ano?

[caption id="attachment_55182" align="alignright" width="620"]Rey, de “Star Wars”: de fato a protagonista da nova trilogia Rey, de “Star Wars”: de fato a protagonista da nova trilogia[/caption] Marcos Nunes Carreiro “Mad Max: Estrada da Fúria” foi eleito por grande parte das associações de cinema do mundo como o melhor filme do ano. Entre os blockbusters — aqueles distantes do chamado “cinema de verdade” —, levados em consideração para esse tipo de votação, é muito bom, realmente. Porém, agora precisa disputar lugar com “Star Wars – O Despertar da Força”. A verdade é que as duas produções apresentam semelhanças, a começar pela fidelidade às tramas que dão seguimento. Para os fãs de Star Wars, que acompanharam até a “indigna” trilogia dos episódios I, II e II, fidelidade é fundamental. Mas há outra palavra que agrada tanto aos fãs quanto a quem nunca havia assistido a saga e que foi ao cinema apenas com algumas informações coletadas do Wikipédia: equilíbrio. A direção de J.J. Abrams mostra um extremo equilíbrio e apresenta ao público um filme que é fiel à trilogia original — “Uma Nova Esperança” (1977), “O Império Contra-Ataca” (1980) e “O Retorno de Jedi” (1983) —, mas não deixa de fora os três episódios lançados por último — “A Ameaça Fantasma” (1999), “Ataque dos Clones” (2002) e “A Vingança dos Sith” (2005). Há uma nova Estrela da Morte, um novo Darth Vader, um novo Palpatine, um novo Império, uma nova Aliança Rebelde. Há até um novo R2-D2. Isso tudo é importante para manter o status quo original da saga. O grande feeling de Abrams foi fazer isso garantindo a coerência interna — assim como George Miller em “Mad Max”. Na verdade, é possível dizer que “O Despertar da Força” amarra bem todas as pontas deixadas por George Lucas, abrindo ainda o campo para a continuação da saga, que deverá ir até o episódio IX. Porém, o filme não se sustentaria apenas dando continuidade à saga ou apenas devolvendo a dignidade que Lucas a fez perder. “O Despertar da Força” traz dois fatos importantes e que provocam certa reviravolta: a não presença do protagonista original e a presença intensa das mulheres — tal como “Mad Max” —, a começar por Léia, agora general da Resistência. Mas ela não é a mais importante. Rey é o fator de maior abrangência do filme. A garota é forte desde o início da trama, quando aparece tentando sobreviver em um inóspito planeta — Jakku, a nova Tatooine — e ganha espaço à medida que descobre que a Força é grande nela. E, se todos esperam que Luke Skywalker chegue para salvar o dia, Rey mostra que, na verdade, ela é quem salvará Luke (e o que faz a Furiosa de Charlize Theron com o Max de Tom Hardy, em “Mad Max”?). Nesse ponto, a não presença de Luke é de suma importância. Veja que “não presença” é diferente de “ausência”. Luke nunca está ausente do filme, uma vez que, embora não apareça, sua presença é constante. A trama só é possível por causa dele e o episódio só pode acabar quando ele é mostrado na tela, algo que só acontece porque Rey leva toda a história até ele. [caption id="attachment_55181" align="alignright" width="620"]Furiosa, de “Mad Max”: forte não apenas no nome, a personagem assumiu o filme Furiosa, de “Mad Max”: forte não apenas no nome, a personagem assumiu o filme[/caption] Então, se Luke é tão importante, por que sua não presença é essencial? Para não esvaziar a trama. Se Luke aparece para salvar o dia, a própria Rey seria esvaziada, afinal Luke é central na saga. A responsabilidade de Rey, que precisa descobrir sozinha como se desenvolver como Jedi, a fortalece como personagem. E mais, dá fôlego ao mistério principal da nova trilogia. Qual a sua origem? Será ela filha de Luke? Tudo sugere que sim. A visão que Rey tem ao pegar o sabre que pertenceu a Anakin e Luke Skywalker, por exemplo, é o motivo perfeito para mostrar que ela é, de fato e de direito, a heroína da nova trilogia. Em poucos segundos, em um fluxo de consciência intenso, há o resumo dos seis episódios anteriores. A visão também mostra porque Luke partiu para o autoexílio, fazendo uma excelente ligação entre o antigo vilão, Darth Vader, e o novo, afinal Kylo Ren não é apenas neto de Vader, mas segue seus passos; quer ter sua grandeza e terminar o que ele começou. Con­tudo, Kylo é imaturo, embora forte. E não apenas: mesmo que tenha sido treinado por Luke, seu treinamento no Lado Negro da Força não foi completado, o que faz com que ele seja mais fraco que seu avô, Anakin/Vader, e também que a própria Rey [Sky­walker?], que nada sabia a respeito da Força. Fora isso, ele vive um conflito deveras diferente do de seu avô. Anakin/Vader era um Jedi tentado pelo Lado Negro; Kylo é um Sith tentado pela Luz. Isso faz dele uma poderosa incógnita, embora um fraco vilão. Talvez por isso ele tenha sido o personagem favorito de George Lucas, que — obrigado, Disney! — só viu o filme junto com o restante do público. Um adendo em defesa de Kylo: ele é jovem e o que mostra o filme é justamente seu caminho para o amadurecimento. Isto é, o que Abrams e os roteiristas quiseram mostrar foi justamente que ele não está pronto para ser o vilão, mas sendo formado para. E esta é uma das maiores expectativas para o próximo filme. Mas voltemos à pergunta: se “Mad Max” e “O Despertar da Força” são semelhantes em suas propostas, o que os diferenciará como melhor filme do ano? Quem escolherá. Os conservadores preferirão o primeiro, pois a trama utiliza pouquíssimo o recurso da computação gráfica, algo que é inevitável em “Star Wars”. Particularmente, passando ao largo dessa discussão gráfica, prefiro “Star Wars”. Pelo tom, pelos temas e, claro, pelo respeito à história da saga que praticamente fundou o conceito de blockbusters.