Pela deputada Adrianna Accorsi, especial para o Jornal Opção*

Nesta semana, o Brasil ficou mais uma vez escandalizado diante de uma nova denúncia envolvendo o governo Bolsonaro. Em áudio vazado, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que o governo federal “prioriza prefeituras” cujos pedidos de liberação de verba foram negociados por pastores de um apontado “gabinete paralelo” do MEC. Como se não bastasse, um prefeito do Maranhão revelou que um dos pastores que ficam a cargo de “negociar” repasses de recursos federais para prefeituras chegou a exigir 1kg de ouro para liberar verbas para a cidade.

O prefeito de Bonfinópolis, Kelton Pinheiro, foi outro a relatar ter recebido a proposta do pastor de pagar R$ 15 mil para intermediar a transferências de recursos para a educação.

A fala do ministro e a revelação dos prefeitos, caso se confirmem, desrespeitam não só a Constituição Federal e o povo evangélico, ao indicar que a fé das pessoas pode estar sendo usada como moeda de troca em negociatas escusas, mas toda a população brasileira. É ultrajante e absurdo, mas não é surpresa, uma vez que a educação e a comunidade a ela ligada nunca foram tão atacadas e desvalorizadas como agora.

Dados oficiais do orçamento do governo federal, divulgados pelo O Globo no final do ano passado, apontam para uma queda de 13% nos recursos destinados a investimento na educação básica (ensino fundamental e médio), que passou de R$ 6,9 bilhões em 2020 para R$ 6 bilhões este ano. De acordo com o levantamento do O Globo, os maiores cortes se deram na educação de jovens e adultos (EJA), cujo valor empenhado passou de R$ 76 milhões, em 2018, para inacreditáveis R$ 4 milhões em 2021: uma queda acumulada de 94%

Os cortes na educação básica ocorrem ao mesmo tempo em que o governo federal deixa claro como a luz do sol que o ensino superior precisa ser “para poucos” – palavras do próprio ministro Ribeiro, que disse em entrevista à TV Brasil, em agosto do ano passado, que “universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade”.

O contraste das realidades é estarrecedor, quando levamos em conta que nos governos Lula e Dilma o orçamento da área saltou de R$ 18 bilhões, em 2002, para R$ 115 bilhões, em 2014.

Não é acidente que a educação esteja sofrendo cortes históricos; que o homem cuja função constitucional é cuidar para que haja educação para todos e todas com qualidade e igualdade seja suspeito de dar a um gabinete paralelo a autoridade de escolher ‘quem recebe investimentos e quem não’; que o brasileiro esteja tão infeliz e tão insatisfeito com a qualidade do nosso ensino. Isso não é acidente, é um projeto deste governo que diz: se quer educação, tem de pagar em ouro.

*Adriana Accorsi é deputada estadual na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, pelo PT