Quando tentam calar Marina, tentam calar todas nós
28 maio 2025 às 14h53

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Adriana Accorsi – Deputada Federal (PT/GO)
O episódio lamentável ocorrido no Senado Federal, envolvendo a Ministra, Marina Silva, não é um fato isolado; é um retrato cruel e, infelizmente, recorrente da violência política de gênero que atravessa os espaços de poder no Brasil.
Quando uma mulher é interrompida, deslegitimada, ironizada e constrangida no exercício legítimo de seu papel institucional, a violência deixa de ser apenas verbal. Ela se transforma em um instrumento de opressão, de tentativa de subjugação e, sobretudo, de silenciamento.
O que se tentou fazer com Marina Silva não é apenas um ataque a ela enquanto mulher, ministra ou liderança. É um ataque à democracia, ao meio ambiente e a todas as mulheres que ousam ocupar espaços de decisão e de poder.

A fala do senador Marcos Rogério — “Se ponha no seu lugar” — carrega séculos de opressão e ecoa a estrutura patriarcal que tenta, a todo custo, determinar qual deve ser o “lugar” da mulher. E Marina respondeu com a firmeza que lhe é própria: “Eu não sou uma mulher submissa”. E não é. Nunca foi.
Sua história é a própria síntese da resistência. Mulher, negra, seringueira, nascida no interior do Acre, superou a fome, o analfabetismo e inúmeras barreiras para se tornar uma das mais respeitadas vozes da luta ambiental no mundo. Marina não defende apenas a preservação da floresta; ela defende a vida, a soberania dos povos tradicionais, a justiça social e o futuro das próximas gerações. Sua trajetória é, por si só, uma lição de resiliência e de compromisso com a democracia e os direitos humanos.
Por isso, não é apenas Marina que estava ali sendo atacada. É cada mulher que ousa levantar a voz, questionar, discordar, propor. É cada mulher que resiste, que ocupa um espaço político, que enfrenta a violência simbólica — e, muitas vezes, física — de uma cultura que ainda tenta relegá-las à submissão ou ao silêncio.
A violência política de gênero não é uma abstração. Ela está presente nas interrupções constantes, no tom paternalista, nas tentativas de desqualificar, nos olhares que dizem “esse não é seu lugar”. Está presente quando se naturaliza que mulheres sejam tratadas com menos respeito, quando suas pautas são deslegitimadas, quando seus posicionamentos são ridicularizados ou ignorados.
Mas a verdade é que nós sabemos, e o Brasil sabe, qual é o nosso lugar: é onde quisermos estar. É nas cadeiras do Parlamento, nas mesas de negociação, nas secretarias, nos ministérios, nas ruas, nas universidades, nas lideranças comunitárias, nos movimentos sociais e, acima de tudo, no centro das decisões que constroem um país mais justo, mais igualitário, mais democrático e mais sustentável.
Marina Silva é símbolo dessa luta. Sua presença no Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima não é só técnica ou política, é civilizatória. Por isso, quando tentam calar Marina, tentam calar todas nós. Mas não conseguirão. Seguiremos de pé, firmes, construindo um país onde nenhuma mulher precise se levantar e ir embora de um espaço de poder por não ser respeitada. Onde nossa voz, nossa presença e nossa atuação sejam, de fato, respeitadas e reconhecidas.
A luta de Marina é nossa. E nós não seremos silenciadas. Jamais.
Adriana Accorsi é delegada, deputada federal e vice-presidente da Comissão dos Direitos da Mulher na Câmara Federal
