*Artigo escrito por Fred Le Blue Assis

O movimento “Goiânia, Capital de 2030” é um projeto de reposicionamento da identidade urbana de Goiânia por meio de educação e comunicação social, ambiental, museológica e patrimonial. Visa autenticar o imaginário e a memória coletiva da cidade, enquanto capital planejada, símbolo do urbanismo e ambientalismo moderno e da Revolução de 30, na iminência dos 100 anos dos antecedentes históricos e utópicos de 1930, que culminaram com a viabilidade política de sua construção em 1933. Ideários que foram relativamente comprometidos com o aumento da expansão urbana desordenada com a desafetação de inúmeras áreas públicas verdes.

Por isso, em prol de uma cidadania goianiense e goiana participativa e responsiva, signatária do Direito à Cidade e, doravante, da Agenda 2030, o Grupo de Trabalho intitulado “Goiânia 2030” está unindo os pontos dos 17 Objetos de Desenvolvimento Sustentável. A proposta é tecer uma Agenda 2030 municipal, com ênfase na defesa do bioma Cerrado, da segurança climática e da economia circular, que possa, a partir da centralidade da capital, ecoar no Estado do agronegócio, uma cultura de sustentabilidade ecológica, econômica e equitativa. Agir local c/ a aldeia global p/ pensar global na realidade local.

O movimento surgiu da triste constatação de que Goiânia pós moderna ocultava sua identidade moderna, em termos arquitetônicos, urbanísticos, paisagísticos e ecológicos. A iminência dos 100 anos da Revolução de 30, que culminaram com um sopro de renovação urbana e política em Goiás, materializada pela criação e transferência de capital para Goiânia sob a liderança de Pedro Ludovico, me fez refletir sobre o paradoxo da identidade anticoronelista subjacente ao fato-mito de origem Goiânia, tendo como governador um membro da estirpe contra a qual, a nova capital era apresentada como fortaleza impenetrável.

A implosão do edifício conceitual dos pilares morais da construção da cidade já havia ocorrido, na verdade, pelo próprio Ludovico, bem como, outros players políticos, que insistem em se tornar palacianos mandonistas, quando morando na suntuosa Casa Verde da Praça Cívica, que deveriam o inspirarem a lutar pelo meio ambiente e não o contrário. O centenário da Revolução de 30 ter como mesma data o ano limite para conter o aquecimento global, por meio de uma agenda socioambiental responsável, é uma sincronicidade que aponta para uma janela histórica de repescagem, que pode permitir uma autentiticação do imaginário urbano goianiense. Cada vez mais dependente da cultura, política e economia do interior de Estado, que tem se apresentado, por sua vez, como lugarejos bucólicos, porém cosmopolitas, negociando em dolar tratores chineses, a capital perdeu sua centralidade, por ser incapaz de ser um vórtice vanguardístico exemplar.

A possibilidade de revisitar o protagonismo moderno anticoronelista e ambientalista de Goiânia, para ser um fio condutor do Estado rumo a uma perspectiva descentralizadora de rentabilidade da economia verde e agricultura (indústria) sustentável, com baixa emissão de carbono (carbono zero) e resíduos sólidos (lixo zero), é uma das metas de longo prazo do GYN 2030. Afinal, se os recursos são finitos, as soluções de modelos de gestão de recursos naturais e matrizes energéticas devem ser infinitas. Enquanto iniciativa de educação patrimonial, há que salientar o seu caráter intertemporal, por não só despertar uma internalização da história do urbanismo em Goiânia, mas também da memória do futuro que queremos ter para nossa cidade.

Mas esse elo simbólico do passado de 1930 com o futuro de 2030, só terá efeitos psicossociais salutares no presente, de fato, se modificarmos nossa relações inconscientes e conspícuas de produção, consumo e descarte. Racionar, repensar e reciclar (reusar) são também formas de luta contra o coronelismo racista e machista tricentenário goiano, pois parte da perspectiva de que a natureza não é uma fazenda de porteira fechada, imune as vicissitudes climáticas e legislações de seu tempo. Nesse sentido, vale a pena solicitar as crianças que nasceram e ainda vão nascer, que reflorestem com 50 tons de verde a paisagem natural no brasão de Goiás, cujas árvores não representam nem os míseros 20% de cobertura vegetal nativa previstos por lei, pois os adultos daqui, tementes aos terratenentes (hiluxtenentes), ainda não parecem capazes de fazê-lo. Para voltar a ser a capital mais ecologicamente correta do mundo, alcunha que Goiânia ostentara no passado sem alarde público, talvez por ausência de um fervor localista, ou até mesmo, consciência histórica, os moradores da capital do agronegócio, altamente, mecanizado terão que dialogar com os da cidade do verde, altamente, humanizante. Pois a “ecologia da mente” é feita dos mesmos fluxos, processos e ordens do ambiente, essa inteligência cósmica universal que governa todos os seres e ceres.