Anápolis regulariza aterro sanitário e se prepara para se tornar referência em gestão de resíduos

08 julho 2025 às 17h24

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O município de Anápolis superou entraves históricos e regularizou a situação do aterro sanitário, que estava sob risco de ter o licenciamento ambiental suspenso. A informação é do secretário municipal de Obras, Habitação, Planejamento Urbano e Meio Ambiente, Thiago de Sá. Segundo ele, a gestão atual montou um plano de ação em resposta às notificações da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad), responsável pelo licenciamento da área.

“Na verdade, já há alguns meses o município vinha sendo notificado, com risco muito grande de não ter mais a possibilidade de licenciamento daquele aterro”, afirma Thiago. “Havia problemas estruturais sérios, desde a acomodação do lixo até a drenagem e o tratamento do chorume nas lagoas. Isso já vinha se arrastando há muito tempo.”
De acordo com o secretário, a Prefeitura agiu com medidas emergenciais e estruturantes. Entre as ações, está a instalação de uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) para o chorume, que antes era apenas recirculado no próprio aterro. “Essa era a última pendência. Agora foi instalada uma estação de tratamento de chorume, com investimento alto feito pelo município, que garante a adequação à legislação”, explicou.
Além da ETE, o plano de reestruturação incluiu o recobrimento diário das células de resíduos, a revisão completa dos sistemas de drenagem pluvial e de metano, o reparo das canaletas e a revitalização do cinturão verde com roçagem e replantio. A gestão também passou a realizar análises de emissão atmosférica e de solo, e padronizou as autorizações ambientais.
“Em um cenário onde a destinação correta do lixo urbano se tornou desafio em muitas cidades, Anápolis mostra que gestão ambiental exige rotina e fiscalização técnica”, pontua Thiago.
Atualmente, o aterro recebe resíduos de cinco municípios vizinhos: Goianápolis, Teresópolis, Abadiânia, Campo Limpo e Ouro Verde de Goiás. “Antes eram três, e neste ano mais dois municípios passaram a ser autorizados. Isso mostra a importância regional do aterro e o impacto positivo no meio ambiente, já que esses municípios não tinham local adequado para destinação dos resíduos”, comentou o secretário.

Os investimentos totalizam cerca de R$ 15 milhões. Parte dos recursos veio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com a empresa responsável anteriormente pela operação do aterro. “O município constatou dificuldades da empresa contratada e, após notificações, firmamos um TAC que viabilizou parte dos investimentos. Antes, o chorume era enviado para tratamento externo, o que já não era adequado segundo as novas normas ambientais”, explicou.
Thiago destaca que a estação de tratamento está superdimensionada para o volume atual de resíduos e preparada para aumento da demanda no período chuvoso. “Hoje está solucionado o problema do aterro sanitário. Claro que os volumes variam, mas acreditamos que os investimentos nos garantem condições de manter a licença ambiental válida.”
A nova estrutura também gera economia. “O fato de tratarmos o chorume dentro do aterro elimina o custo de transporte e reduz a praticamente zero o risco ambiental, já que há um plano de contingência que impede o lançamento do chorume na natureza”, acrescentou.
Reciclagem e ampliação da política ambiental
Outro projeto em andamento é a construção de uma usina de reciclagem de resíduos da construção civil ao lado do aterro. “Todo o material que entrar será reutilizado, seja na construção civil ou por meio da reciclagem. Isso vai reduzir significativamente o volume que chega ao aterro”, explica o secretário.

Segundo ele, Anápolis quer ir além das exigências legais. “Já estamos agendando visitas a municípios do Sul do Brasil e do interior de São Paulo para conhecer tecnologias capazes de transformar o lixo em energia. Estamos dentro da legislação, mas queremos ir além, pensando nas futuras gerações.”
O município também fortaleceu ações como a criação de uma nova legislação sobre descarte de entulho por caçambeiros. “Antes, muito resíduo era descartado de forma irregular. Agora, os caçambeiros levam os materiais para o aterro. E cada cidadão pode levar uma tonelada por dia, por CPF.”
A gestão ambiental inclui ainda um novo plano de arborização urbana, reflorestamento e desassoreamento de rios. “Com dificuldade fiscal, mesmo assim estamos investindo em ações ambientais porque acreditamos que isso é garantia de qualidade de vida no futuro”, disse Thiago.
Infraestrutura e futuro da gestão
Sobre o acesso ao aterro, o secretário confirmou que há projeto de pavimentação. “Já há um plano para pavimentar toda a região do bairro Primavera, segunda etapa. O acesso principal ao aterro também será asfaltado. No período chuvoso, tivemos problema com caminhões atolando e reflexos na coleta por mais de uma semana.”

Quanto à possibilidade de terceirização da gestão do aterro, Thiago pondera: “É fato que a iniciativa privada tem mais agilidade e melhores controles. Mas considero perfeitamente possível esse serviço ser executado pelo município. Estamos dando demonstração disso.”
Mesmo assim, ele não descarta uma concessão futura. “Antes de pensar em concessão, é necessário deixar o aterro licenciado e funcionando plenamente. Se, no futuro, a demanda aumentar, talvez faça sentido contratar uma empresa. Mas hoje, a ideia é manter sob a tutela do município.”
Os municípios atendidos atualmente pagam por tonelada de resíduo descartado. “Cada cidade tem caminhões próprios, coleta o lixo e traz para o aterro, pagando pelo peso. Isso gera uma receita para Anápolis”, destacou.
Por fim, o secretário reforça que o objetivo da gestão é manter o aterro como referência estadual. “Temos visto muitos problemas em outros municípios e estamos trabalhando para manter Anápolis na vanguarda da gestão de resíduos.”
Aterro sanitário se torna exemplo
O aterro sanitário passou por uma reestruturação completa e agora segue os padrões exigidos pela nova lei do saneamento. A mudança é conduzida pela atual gestão da zeladoria pública.

“Agora a gente também tem a nossa estação de tratamento de efluentes”, afirma Paulo Vargas, gerente de zeladoria pública e gestão de resíduos. “Todo o caminhão de coleta domiciliar chega, vai para a célula adequada, e é feita a cobertura diária do resíduo. Isso ocorre todos os dias, o tempo inteiro.”
Segundo ele, essa rotina reduz significativamente a proliferação de urubus e o mau cheiro. “Você vê uma linha mínima de resíduo exposta, apenas aquela que está sendo trabalhada no momento.”
Além da célula para resíduos domiciliares, o local conta com uma área destinada aos entulhos da construção civil. “Todo o material que vem das obras, seja de empresas ou de particulares, passa por triagem. O que não pode ser usado, é devolvido.”
Controle ambiental e combate ao descarte irregular
Um dos grandes avanços, segundo Vargas, é o controle sobre o descarte irregular. “Antes, muitas empresas estavam jogando resíduos industriais na célula de construção civil. Revisamos toda a documentação e mudamos as práticas ambientais para coibir isso.”

A prefeitura permite que moradores descartem até uma tonelada por dia de entulho de forma gratuita. “Qualquer cidadão pode vir seis dias por semana e fazer seu descarte corretamente, sem custo. Isso evita o descarte indevido nas ruas.”
Já prestadores de serviços e empresas precisam de autorização. “Eles fazem uma solicitação e pagam por tonelada. O prazo de resposta da prefeitura é de cerca de 48 horas.”
Lagoa de chorume e uso da água tratada
Uma das situações mais críticas herdadas da gestão anterior era a falta de tratamento do chorume. “A lagoa não tinha tratamento. Agora está tudo ok, sem vazamentos, com estação de tratamento funcionando normalmente.”
De acordo com Vargas, o efluente tratado é reutilizado no próprio aterro. “Utilizamos a água para molhar as vias internas e evitar poeira, além de irrigar nosso cinturão verde.”
Além disso, o município realiza análises constantes para garantir a segurança ambiental. “Fazemos análises do solo, da água subterrânea e da qualidade do ar. As últimas amostras não apontaram contaminação.”

Capacidade e futuro do aterro
O aterro de Anápolis recebe cerca de 400 toneladas de lixo domiciliar por dia, além de até 300 toneladas de entulho de construção civil. A vida útil estimada da área é de mais 30 anos. “Toda essa área que vai até a entrada do AP é usada. É muito grande.”
Apesar da capacidade, a prefeitura já estuda alternativas ao modelo atual. “O aterro sanitário é uma tecnologia que, embora segura, já está ultrapassada. Estamos acompanhando estudos estaduais que preveem incineração, trituração ou outras soluções para o futuro.”
Reestruturação e fiscalização
Segundo Paulo Vargas, a situação encontrada no início da atual gestão era crítica. “Não havia cobertura diária, as canaletas de drenagem estavam danificadas, não havia estação de tratamento de efluente, e os controles operacionais eram ineficientes.”

Após notificação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad), foram dados 60 dias para ajustes. “Cumprimos todas as exigências. Na última vistoria, a Semad reconheceu que tivemos uma grande evolução operacional.”
O aterro segue licenciado pelo órgão estadual e aguarda parecer final para a emissão da licença definitiva. “Estamos com uma licença corretiva da gestão anterior. Desde o começo do ano, essa é uma das nossas principais prioridades.”
Reciclagem e cooperativas

A cidade conta com duas cooperativas de catadores – a Coper e a Can Sólido –, responsáveis pela triagem e envio dos recicláveis para a indústria. “Temos seis rotas diárias de coleta seletiva, e todo o material vai para essas cooperativas, que funcionam fora do aterro.”
O município também oferece o serviço do Catatreco, para coleta de móveis e eletroeletrônicos inservíveis. “Esse material é avaliado. Se puder ser reaproveitado, é destinado a parceiros. Caso contrário, segue para descarte adequado.”
Usuários do aterro aprovam a gestão
José Adriano, 23 anos, natural do estado do Pará, mas morador de Anápolis há mais de dez anos, diz que o aterro de Anápolis hoje é uma referência. Ele estava no aterro deixando um resto de entulho de construção. “Se não tivesse isso aqui, não teríamos onde deixar esse material. Às vezes, essa situação gera até brigas entre vizinhos, pois alguns jogam em terrenos baldios ao lado ou na porta dos outros”, afirmou.

José ressalta que a gestão da cidade está de parabéns. “Eu não tinha costume de ver uma cidade tão bem cuidada assim, porque lá no meu estado é tudo lixão. Lá, os prefeitos não estão nem aí para a população, mas aqui eu vi que esse prefeito pensa diferente”, declarou.
José Adriano se refere a uma lei municipal que permite a cada morador da cidade descartar até uma tonelada de entulho por dia no aterro.
Renato Gomes, 41 anos, carpinteiro e morador de Anápolis, avaliou que o aterro da cidade está dentro das normas legais. “Toda vez que venho aqui, nem sinto mau cheiro, como ocorre em outros aterros; aqui nem urubu tem. Essa gestão é diferenciada. Eu nunca vi um aterro assim”, disse.
Renato usa o local para destinar restos de madeira provenientes do seu trabalho.

Semad
Em resposta às informações solicitadas pelo Jornal Opção, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável informa que realizou uma vistoria no aterro sanitário de Anápolis em março, quando foram constatadas inconformidades. Foi concedido prazo para que o município realizasse as adequações necessárias.
O município solicitou a licença corretiva dentro do prazo estabelecido e apresentou evidências das correções realizadas. Atualmente, o processo está em análise no Instituto de Planejamento Ambiental (Ipê).
A Secretaria ressalta que o aterro de Anápolis está considerado regular até a conclusão da análise, seja pelo deferimento ou indeferimento do pedido.
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