Desde 2010, pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) desenvolvem uma tecnologia simples e de baixo custo voltada à dessalinização da água salobra no semiárido nordestino. O objetivo é garantir acesso à água potável para moradores e produtores rurais do sertão paraibano durante períodos de seca extrema.

Na região, a água captada em poços artesianos apresenta altos índices de salinidade, frequentemente acima de 5 gramas de sal por litro, o que inviabiliza o consumo humano.

O projeto é coordenado pelo pesquisador Francisco José Loureiro Marinho, do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA) da UEPB, no município de Lagoa Seca, e já atende mais de 100 famílias em diferentes localidades do Nordeste.

A técnica, conhecida como dessalinizador solar, utiliza uma estufa artesanal construída com vidro, cimento e lonas. Por meio do calor do sol, a água passa por um processo de evaporação e condensação, permitindo a produção diária de mais de 16 litros de água potável. O sal residual se deposita na lona e é retirado periodicamente, possibilitando novas purificações.

Segundo Marinho, o sistema foi projetado para ser instalado de forma simples, sem a necessidade de equipamentos sofisticados ou insumos caros. Cada unidade custa, em média, R$ 3 mil, valor que pode variar conforme o preço dos materiais em cada região.

A pesquisa teve como ponto de partida um equipamento desenvolvido por Irmão Urbano, frade redentorista e conhecido do pesquisador, inicialmente voltado apenas para irrigação de hortaliças. Ao identificar o potencial da tecnologia, Marinho ampliou sua aplicação para o consumo humano.

“A princípio, o objetivo era apenas dessalinizar a água para canteiros econômicos, destinados à produção de hortaliças. Nós percebemos que o sistema poderia retirar o sal de águas ainda mais salgadas que a do mar”, explicou o pesquisador.

Segundo ele, a decisão de levar o projeto à universidade foi motivada pelo impacto social da iniciativa.

“Acreditávamos que essa tecnologia poderia ser aplicada na zona rural e transformar a vida de pessoas que necessitam de água potável”, afirmou.

Com o avanço da pesquisa, o projeto passou a contar com o apoio da Associação de Profissionais em Agroecologia (APA), organização não governamental criada por Marinho e ex-alunos, responsável por expandir a implantação das unidades em outras regiões do Nordeste.

Atualmente, os dessalinizadores estão distribuídos nos municípios de Remígio (10 unidades), São Vicente do Seridó (10), Cubatí (4), Pedra Lavrada (4), Caraúbas (70), Monteiro (10), Camalaú (30), Santa Luzia (24), Soledade (10), Cuité (20), Campina Grande (5), Caturité (5), além de Sanharó, em Pernambuco (5), e Icapuí, no Ceará (5).

Além da UEPB, o projeto recebeu investimentos do Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Banco Itaú.

Com informações da UEPB

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