Milho é armazenado a céu aberto; déficit de armazenagem preocupa produtores

05 julho 2025 às 15h25

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A colheita da segunda safra de milho, a principal do calendário agrícola brasileiro, avança em ritmo mais acelerado após semanas de lentidão causada por adversidades climáticas. No entanto, imagens de grãos armazenados a céu aberto voltam a se repetir nas principais regiões produtoras, especialmente no Centro-Oeste, evidenciando mais uma vez os gargalos logísticos do setor.
A falta de estrutura adequada para estocagem tem preocupado produtores e especialistas. Segundo levantamento do portal Notícias Agrícolas, o déficit de armazenagem no Brasil já alcança 120 milhões de toneladas. O cenário acende um alerta no setor, que teme prejuízos bilionários. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que a capacidade estática de armazenagem do país é de aproximadamente 198 milhões de toneladas, insuficiente frente à produção total de grãos, que pode ultrapassar 320 milhões de toneladas em 2024/25.
O problema se agrava diante da taxa de juros definida para o Programa para Construção de Armazéns (PCA), incluído no Plano Safra 2025/2026, anunciado pelo governo federal na última terça-feira, 1º. A linha chegou com juros de 8,5% ao ano, considerada elevada por entidades do setor, dificultando novos investimentos em infraestrutura.
“Estamos vivendo um ciclo de perdas recorrentes, mesmo com um potencial fantástico de produção. Com os silos ainda cheios de soja, o milho da segunda safra acaba sendo armazenado a céu aberto, correndo riscos ainda maiores com a ocorrência de chuvas”, afirma Paulo Bertolini, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Estudo do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) reforça o cenário: cerca de 35% do milho da segunda safra do estado ainda está sem local adequado de armazenamento, forçando muitos produtores a optarem por soluções improvisadas, como os silo bags. Além do risco climático, há o impacto direto sobre a renda. “Sem armazéns disponíveis, a indústria precisa assumir o estoque, o que não é o foco do seu negócio. Para justificar esse custo, ela compra o milho por valores mais baixos, enquanto arca com juros elevados, de no mínimo 13,75%, valor atual da Selic”, explica Bertolini.
No mercado interno, especialmente no interior do país, os negócios seguem lentos e com preços retraídos. Apesar de alguma recuperação pontual na quinta-feira, 3, os valores ainda estão abaixo do ideal. Cotações para setembro giram entre R$ 43,00 e R$ 44,00, influenciadas pela referência da exportação, segundo dados do Cepea/Esalq-USP. A diferença no custo do frete entre o momento atual e os próximos meses também mantém o mercado em alerta.
Em Mato Grosso, muitos produtores já comercializaram entre 50% e 60% da safra. O restante da produção tem sido estocado em silo bags como alternativa ao armazenamento convencional. Isso porque, no mercado spot, o milho a R$ 40,00/t exige gastos adicionais com recepção e estocagem em armazéns, reduzindo a margem do agricultor.
A logística, já pressionada, começa a impactar também o mercado da soja. Em Rondonópolis (MT), uma empresa que opera no terminal local suspendeu temporariamente as cotas de soja para priorizar o escoamento do milho. Com isso, os fretes começam a subir. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de Mato Grosso (Sindmat), os custos logísticos aumentaram 12% apenas nas últimas duas semanas.
Com espaço nos armazéns cada vez mais disputado, produtores que necessitam de fluxo de caixa imediato estão optando por vender agora. Já a maioria, que fechou contratos em momentos mais favoráveis do mercado, cumpre as entregas e aguarda para decidir os próximos passos.
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