Ameaça de suspensão de crédito do BB já inibe produtores rurais em recuperação judicial, alerta especialista
29 outubro 2025 às 16h18

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A declaração do vice-presidente do Banco do Brasil, Felipe Prince, sobre a paralisação de concessão de crédito para produtores rurais em recuperação já provoca efeitos em pecuaristas que buscam o dispositivo legal. Segundo o advogado especialista em recuperação judicial, Eliseu Silveira, a fala desestimula os produtores a buscar a recuperação com medo de perder linhas de crédito com o banco.
“O banco fala como se a recuperação judicial fosse um calote, um problema ou má fé. Mas, na verdade, não é. Com a recuperação judicial todos os credores se reúnem e votam, inclusive os bancos”, explica. Ele comenta, no entanto, que o dispositivo reduz a força de pressão das instituições bancárias, que precisam “sentar no banco” de espera junto aos demais credores.

Principal agente financiador do agronegócio brasileiro, o Banco do Brasil gerencia cerca de um terço dos recursos do Plano Safra. Segundo o advogado, a taxa de inadimplência dos produtores em recuperação judicial é de aproximadamente 0,9% a 1,1%. “O Banco do Brasil empresta em torno de R$ 400 a R$ 500 bilhões por ano, e essa inadimplência é de apenas R$ 5 bilhões. Mesmo com a inadimplência, a taxa de lucro segue alta”, conta.
Para o advogado, o posicionamento do Banco do Brasil marca uma inflexão importante na política de crédito rural. “O que está em jogo não é apenas o financiamento, mas a confiança. Quando uma instituição desse porte decide se afastar de produtores em recuperação, sinaliza que o risco ultrapassou o limite tolerável. Isso reforça a necessidade de uma gestão financeira transparente, com governança sólida e estratégias de reestruturação bem definidas”, avalia.
Silveira destaca que a nova postura do banco impõe um desafio adicional aos empresários rurais: “Além de administrar dívidas e passivos em um ambiente de custos crescentes, será preciso demonstrar credibilidade e capacidade de execução perante o mercado. A recuperação judicial é um instrumento legítimo e previsto em lei, mas ela exige um plano realista, sustentável e bem comunicado aos credores. Sem isso, o produtor compromete o próprio futuro financeiro.”
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