Quatro nigerianos viajaram clandestinamente no leme de um navio cargueiro até o Espírito Santo. Durante os 14 dias em alto-mar, eles compartilharam um espaço de aproximadamente dois metros cúbicos. Ficaram duas semanas sem poder tomar banho ou ter um local adequado para dormir, além de enfrentarem escassez de água e comida.

Os últimos três dias da viagem foram particularmente dramáticos, pois já não havia mais nada para comer ou beber. À noite, a temperatura caía para 10 graus e a escuridão intensificava o perigo de caírem no oceano a cada movimento da embarcação.

Esses imigrantes ilegais partiram do porto de Lagos, na Nigéria, e foram resgatados pela Polícia Federal (PF) no Espírito Santo. Acredita-se que o grupo tenha entrado no navio errado, pois é comum que, nessas circunstâncias, eles embarquem escondidos sem saber o destino da embarcação.

Rogério Lages, agente da Polícia Federal, participou do resgate e foi um dos primeiros policiais a conversar com os nigerianos. Ele relata que o espaço em que viajaram era tão reduzido que pelo menos uma pessoa precisava ficar do lado de fora, sobre o leme, enfrentando o perigo iminente de cair no mar aberto.

“Uma embarcação de apoio marítimo da Polícia Federal circulava pela área onde os navios ficam fundeados na região portuária de Vitória quando os tripulantes viram os imigrantes sentados no leme e comunicaram o caso ao Sistema de Gerenciamento e Informação do Tráfego de Embarcações do Porto de Vitória. A Polícia Federal foi acionada e, ao chegar ao local, a equipe de resgate encontrou dois imigrantes”, explicou.

“Em nenhum momento conseguimos ver todos os imigrantes dentro da caixa de leme. Pelo menos um deles sempre ficava do lado de fora, no leme do navio. Então é possível que eles fizeram um certo revezamento para ter um pouco mais de conforto, porque certamente não cabiam os quatro dentro dessa estrutura”, completou.

O resgate teve duração de aproximadamente trinta minutos, durante os quais os policiais puderam conversar com os imigrantes e verificar suas condições básicas de saúde. Dois dos indivíduos não sabiam nadar e precisaram receber boias para chegar à lancha da Polícia Federal. Os quatro homens afirmaram ser provenientes da Nigéria, porém estavam desprovidos de documentos. O agente Lages relata que todas as suas roupas estavam armazenadas em uma única mochila.

“Cada um usava pelo menos três peças de roupa, um por cima da outra, o que demonstra que passaram frio principalmente durante a madrugada”, conta.

O policial explica que a caixa do leme está localizada no casco do navio e existe a possibilidade de o compartimento ficar submerso. “Pelo que relataram, a caixa de mar não chegou a ficar submersa, mas pode acontecer e a pessoa pode morrer afogada. É um local úmido, frio, apertado e cheio de ferrugem”, descreve.

Um dos nigerianos relatou que os últimos três dias foram os mais difíceis, especialmente quando a água se esgotou. “Eles estavam desidratados e fracos. Alguns desceram cambaleando e, ao chegarem em terra firme, todos beberam uma grande quantidade de água, o que significa que a sede dos dias sem água foram mais mais difíceis”, afirma o policial.

Os imigrantes não tiveram necessidade de receber cuidados hospitalares, uma vez que estão alojados em um hotel em Vitória, cujas despesas são cobertas pela empresa seguradora do navio. A companhia firmou um acordo com a Polícia Federal e tem um prazo de 25 dias para regularizar a documentação e providenciar o retorno dos imigrantes ao país de origem.

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