Como Ronaldo Caiado se tornou um dos mais relevantes políticos do País
16 maio 2015 às 20h08
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Um “passeio” pelos corredores do Congresso mostra o porquê do senador goiano ser uma das grandes forças nacionais. E se engana quem pensa que só a oposição lhe dá ouvidos: PMDB, PSD e até o próprio PT apostam no democrata
São 13h45 da quinta-feira (14/5) e Ronaldo Caiado acaba de sair da Comissão de Relações Exteriores. Após horas sabatinando os então candidatos a representantes do Brasil na França e na Organização de Estados Americanos (OEA), o goiano segue para o gabinete de número 21.
Ao contrário da maioria dos senadores que participou da sabatina, Caiado foi um dos únicos que permaneceu na sala durante todo o tempo. Enquanto Gleisi Hoffmann (PT-PR) insistia para que a votação acontecesse logo e Edison Lobão (PMDB-MA) conversava com aliados, o líder do Democratas questionava a atuação do Itamaraty durante os 12 anos do governo do PT e punha em xeque as credenciais de um dos sabatinados.
Após o fim da comissão — quando os nomes foram aprovados –, Caiado recebe informações de alguns assessores e vai almoçar. Nada de restaurante, o prato é servido no gabinete mesmo, onde o senador recebeu a redação do Jornal Opção Online. Visivelmente cansado, ele se desculpa pelo pouco tempo e explica que voltaria para Goiânia ainda naquele dia para participar da Exposição Agropecuária da capital.
Sobre a mesa, abarrotada de processos e documentos, também era possível ver o fatídico livro do ex-presidente Uruguaio, Pepe Mujica — no qual este sugere que Lula (PT) tinha conhecimento do Mensalão. Já no sofá, o democrata começa a entrevista falando sobre os compromissos em Goiás, que estão atrasados. “Como a sobrecarga aqui em Brasília está muito grande, e a crise tem piorado a cada dia, este momento tem exigido muito da oposição. E como somos poucos ante a base do governo, trabalhamos sobrecarregados”, justifica.
Para tentar barrar o poder do Palácio do Planalto no Congresso, Caiado conta que os oposicionistas têm que se desdobrar para conseguir estar em todas as comissões. “Como várias matérias são terminativas nas próprias comissões, a carga de trabalho é muito maior do que na Câmara, por exemplo”, conta. Nos pouco mais de dois meses de Senado, o goiano tem se destacado nacionalmente pelas duras críticas ao governo Dilma Rousseff (PT) e pelos posicionamentos firmes. Não raro vê-lo rodeado de repórteres nacionais.
Mesmo com a postura oposicionista firme — tida, inclusive, como a mais coerente entre os colegas –, Caiado mantém boa relação com parlamentares de partidos aliados ao Planalto, como o PSD, o PP e o PMDB. “Ele não leva nada para o lado pessoal. Combate o bom combate no campo das ideias, mas fora da tribuna é respeitoso com os pares”, confidenciou um senador do PDT.
Atualmente, o goiano anda bem próximo da senadora Ana Amélia (PP-RS), dos tucanos Aloysio Nunes (SP) e Aécio Neves (MG), do pedetista Reguffe (DF) e do pessebista Romário (RJ) — por quem é chamado constantemente de “peixe” e de quem recebe várias relatorias pelo carinho mútuo –, além de estar sempre articulando com o companheiro de partido, o goiano Wilder de Morais, e ser amigo do peemedebista Moka (MS) e do petista Jorge Viana (AC) — com os quais está sempre “quebrando o pau”.
Influências
Para Caiado, a relação da presidente Dilma com o Poder Legislativo está cada vez mais distante. Na Câmara Federal, a petista coleciona derrotas em projetos importantes para o governo. No Senado, Caiado acredita que há chances dos insucessos se repetirem. “Nós vamos testar o tamanho da base na votação das Medidas Provisórias 665 e 664 na próxima semana. Até então não tivemos como balizar a capacidade do governo. Vamos ver se os senadores de partidos que são rotulados como ‘governistas’ vão querer convalidar o estelionato eleitoral de Dilma”, alfineta ele.
Embora reconheça que a força do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB), seja responsável pelos maiores entraves do governo federal naquela Casa, o senador sugere que há um fator que está cada vez mais evidente e orientador das votações: as redes sociais. “A influência das ferramentas no voto dos parlamentares tem sido decisiva. O que é muito positivo, pois confere ao Congresso uma maior participatividade do povo. É de se aplaudir”, sustenta.
De fato, o senador goiano sabe bem o poder das redes sociais. Em sua conta no Facebook, possui 305 mil fãs — que o fazem o político de Goiás mais “famoso” no universo on-line. Um post da página não recebe menos de 3 mil curtidas e outros mil compartilhamentos. Nos comentários, usuários de todo o Brasil elogiando a atuação de Caiado e avalizando seu mandato no Senado.
A força de Ronaldo Caiado já deixou a “porteira” de Goiás. Recentes pesquisas realizadas no Distrito Federal e no Rio de Janeiro mostram o senador goiano variando entre 5% e 10% das menções do eleitorado para Presidência da República. A quatro anos do pleito, os números são comemorados por aliados, mas recebidos apenas como “elogios” pelo senador. “Quero deixar claro que sou representante de Goiás. Vou, em primeiro lugar, prestar resposta e satisfação ao povo do meu Estado, esta é a credencial que recebi. Me comprometi a defender os goianos”, respondeu ele às pesquisas.
Para tanto, o senador garante que não fará oposição ao Governo de Goiás. Embora tenha sido eleito pela chapa adversária em 2014 — sendo, inclusive, o primeiro senador oposicionista a ser eleito em mais de 20 anos –, sua relação com o governador Marconi Perillo (PSDB) não afetará no trabalho que quer desenvolver. “Independente da minha relação política com o governador, qualquer matéria que seja aqui colocada de interesse de Goiás, eu trabalharei a favor”, afiançou.
Ao fazer um balanço do começo do mandato, Caiado diz que está cumprindo sua obrigação de se dedicar exclusivamente ao trabalho no Senado. Lembra, ainda, que tem viajado muito para todos os Estados para participar de movimentos sociais. “Ser reconhecido além das fronteiras de Goiás só aumenta minha responsabilidade”, completa.
Críticas
Sempre posicionado contra o governo do PT, o senador fez questão de destacar a crise séria pela qual o País atravessa. Segundo ele, a presidente Dilma perdeu a credibilidade e a capacidade de interlocução com a população brasileira. “Nós temos a responsabilidade de dar manutenção ao processo democrático para que amanhã não venhamos a conviver com um processo de desobediência civil instalada no País”, alerta ele.
“O problema maior não é o governo. É a governante. O fundamental para que se supere uma crise é a credibilidade. É insustentável uma chefe de estado ter dito à população há quatro meses que nada do que está acontecendo iria ocorrer. Dizer que o País ia bem, estava tranquilo, sem inflação, sem aumento de tributos, que não seriam necessários ajustes e, de repente, o que o brasileiro vive é uma outra realidade”, argumenta.
Líder do Democratas no Senado, Caiado acusa as medidas da presidente de serem desumanas, pois estão diretamente ligadas aos momentos mais frágeis da vida do trabalhador: “O governo resolveu fazer o ajuste fiscal não cortando a estrutura da administração, demitindo funcionários e reduzindo a máquina pública, dando, assim, o bom exemplo. Preferiu atingir quem? O cidadão que está desempregado — cortando benefícios do seguro-desemprego –, o cidadão que acaba de perder um ente — reajustando a pensão — e o cidadão que está com problemas de saúde — cortando a licença médica”.
Para Caiado, o ajuste fiscal de Dilma atinge cidadãos desprotegidos. “Não ataca o processo de corrupção, não ataca o gigantismo da máquina pública, não propõe uma ação de contenção real de gastos”, lamenta ele. Dessa forma, a sociedade não aceita o que está sendo proposto, pois, segundo ele, a presidente, quando candidata, mentiu. “‘Por que eu vou contribuir com um processo que eu não fui determinante nele? Pelo contrário… Me induziram a comprar, a fazer dívida, a tirar crédito consignado e, de repente, estou falido e sem condições de seguir com minha vida’… É isso que o cidadão pensa”, conclui.
Em face das últimas notícias envolvendo escândalos no BNDES, o senador goiano se mostra confiante: “Estou otimista e acredito que conseguiremos abrir a CPI do BNDES”. “Da primeira vez não foi possível porque houve retirada de assinaturas, mas agora acho que será diferente. Vamos ver… Tenho 27. Estou no limite, mas confiante”, descontrai ele.
PTB + DEM
Ao que tudo indica, Caiado conseguirá evitar a fusão dos dois partidos. De acordo com ele — que tem trabalhado incansavelmente para esvaziar o discurso dos que pregam a união –, o cenário atual comprova o que havia sido alertado anteriormente.
Oito deputados do Democratas votaram apoiando a base do governo (a favor da Medida Provisória 665), em total divergência com a decisão do partido. “Com isso, provo que o interesse que move um grupo é poder se juntar ao PT e a fusão seria o meio de justificar o ganho de facilidades futuras”, explicou.
No entanto, o fato mais relevante levantado pelo senador é que a votação pela executiva do partido para dar início à fusão deveria, pelo estatuto, ter sido feita inicialmente na convenção nacional para que, só então, a executiva fosse credenciada para avançar o processo. “Já recorremos desta decisão, impetrando várias ações em vários municípios para que juridicamente consigamos evitar a fusão”.
Além disso, Caiado acredita que a fusão não consiga ser viabilizada até outubro deste ano — prazo para que haja tempo hábil para mudança de partido aos que desejam concorrer às eleições de 2016.
“Não vamos permitir que tentem acabar com a oposição no País”, finaliza ele. Com certeza, no que depender do senador Ronaldo Caiado, a oposição no Congresso estará mais viva do que nunca.