Substituição do líder de governo poderá entrar para lista de promessas não cumpridas de Iris
27 janeiro 2019 às 00h00
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Emedebista demostrou interesse em mexer na liderança da Câmara Municipal. Alguns duvidam e “favorito” demonstra pouco entusiasmo
Por meio de ofício, o prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB), anunciou em fevereiro do ano passado o nome de Tiãozinho Porto (Pros) como líder de governo da Câmara Municipal. Medida tomada tardiamente pelo emedebista, haja vista que Iris, à época, já havia assumido o cargo de prefeito há mais de um ano. Durante esse período, a Casa ficou sem liderança, ou seja, desprovida de um representante oficial do Paço no Parlamento e vice-versa. Para muitos, a morosidade de Iris ainda é tida como um ato de desrespeito.
“À época, ele [prefeito] chegou a dizer ‘vocês podem escolher [o líder] aí entre vocês mesmo’, o que, ao meu ver, demonstra absoluto desprezo para com a Câmara e com o processo democrático”, ressalta a vereadora Dra. Cristina Lopes (PSDB). A oposição, da qual Cristina faz parte, não deixou passar batido e fez duras críticas ao prefeito pela aparente repulsa na escolha do nome e, principalmente, pela demora na tomada da decisão.
Não há uma imposição legal para que o prefeito escolha quem será o elo entre o Executivo e o Legislativo durante sua gestão. Muito menos um prazo para que isso aconteça. Basta que chame um vereador e o aponte como seu representante na Casa. “Como um gesto de atenção e respeito ao Legislativo, o prefeito envia um ofício formalizando essa indicação”, explica o vereador e ex-presidente da Câmara, Andrey Azeredo (MDB).
O desafio para aquele que se dispõe a assumir o posto requer desenvoltura e muita articulação. “Não basta ter o nome de líder. A função exige autonomia. Qualquer vereador que o prefeito escolher, se não tiver autonomia para trabalhar, será só mais um nome sem o poder que a função demanda”, explica o deputado estadual eleito, Vinícius Cirqueira (Pros), que deixará a Câmara e assumirá cadeira na Assembleia Legislativa no dia 1º de fevereiro.
Com seu jeito próprio de fazer política, Iris já manifestou aos vereadores seu desejo em substituir o nome do atual líder. Ainda não se sabe quem irá exercer a nova função, nem mesmo as razões que o levaram a tomar essa decisão. A única certeza nessa história toda é que, se a primeira tacada do emedebista não surpreendeu boa parte dos vereadores — parlamentares tinham certeza de que o escolhido seria Tiãozinho —, desta vez é fator intrigante do primeiro ao último parlamentar.
Muitos, apesar de terem seus palpites, permanecem desprovidos da convicção que tiveram lá atrás. Há também quem cogite a possibilidade de o prefeito recuar e sequer alterar o nome, tendo em vista o trânsito facilitado de Tiãozinho entre os demais parlamentares. Seria esta apenas mais uma falácia da gestão Iris Rezende?
Atual liderança
Assim que assumiu o posto na Casa, Tiãozinho levantou a bandeira da humildade e se comprometeu a trabalhar de maneira respeitosa junto aos outros vereadores. Assim o fez, segundo todos entrevistados e, provavelmente, a maioria absoluta da Câmara.
“É um vereador extremamente educado com todos, muito democrático, busca sempre, com diálogo, convencer a todos daquilo que entende como correto”, destacou Azeredo. Para o emedebista, como líder, Tiãozinho se desdobrou ao máximo em busca de êxito nas votações de todas as matérias que tiveram importância e relevância para o Executivo.
Já a vereadora Sabrina Garcez (PTB) fundamenta seus argumentos pró-Tiãozinho ao recordar que, na época em que a prefeitura estava sem um líder, quase todos os vetos foram derrubados. “Depois que o Tiãozinho foi apontado, a prefeitura passou a ter várias vitórias. O vereador desempenhou um trabalho de convencimento importante, tendo obtido a aprovação de projetos polêmicos. Penso que tudo isso tenha ocorrido em função do trânsito do Tiãozinho tanto na base quando na oposição.”
Por sua vez, o vereador Rogério Cruz (PRB), além de reconhecer o trabalho prestado por Tiãozinho, não enxerga motivos para uma possível substituição. “Primeiro porque o prefeito demorou quase dois anos para escolher um líder. […] Segundo porque Tiãozinho é uma pessoa que tem conseguido se manter próxima de todos os vereadores. Infelizmente o que ele não conseguiu fazer não foi por culpa dele, e sim pela dificuldade em que a Câmara se encontra.”
A colocação de Rogério Cruz foi reforçada pelo vereador Welington Peixoto (MDB) ao dizer que Tiãozinho foi “no limite daquilo que poderia fazer”. “Ele não fez mais porque não deixaram. Faltou liberdade para exercer a liderança.”
E esta é uma reclamação comum entre a maioria dos vereadores. Principalmente os da “base” — frisa-se base pois ainda não se sabe com clareza quem compõe de fato essa bancada —, que reivindicam mais autonomia a quem quer que seja o líder.
Prova disso é que até mesmo o vereador Lucas Kitão (PSL), opositor voraz da gestão de Iris, reconhece o engessamento do líder: “Não sei se é a intenção do Iris trocar o Tiãozinho, tendo em vista que é um bom líder. […] O que faltou, talvez, foi a autonomia que um líder precisa para conduzir os trabalhos e interesses do governo na Casa”. “Não sei, inclusive, se essa autonomia viria com algum outro nome.”
Outras possibilidades
Cotado desde o final de 2017, Welington Peixoto tem, novamente, visto seu nome ventilar nos bastidores da política goianiense. Muitos vereadores o avaliam de maneira positiva tanto pelo trânsito no Legislativo e Executivo, quanto pela experiência.
O próprio líder levanta, com facilidade, as qualidades de Peixoto. “É um cara do bem. Transita muito bem na Casa e tem um bom relacionamento com todos nós. Se o prefeito chamar e Welington estiver interessado acho que seria um bom nome. […] Acredito que o vereador tem condições de ser um bom líder se assim desejar o prefeito.”
Dentre os possíveis nomes que poderiam substituí-lo na Câmara, Tiãozinho destaca ainda o do ex-presidente Andrey Azeredo, Clécio Alves (MDB), Juarez Lopes (PRTB) e Oséias Varão (PSB). E reforça: “Poderia citar mais uns dez nomes que são próximos ao prefeito e possuem competência para isso. Mas acredito que o prefeito tende a analisar individualmente cada um dos nomes. […] Iris é uma pessoa espetacular e sabe conduzir bem essa situação. Acredito que após o recesso o prefeito deva costurar algo nesse sentido e, se optar por um novo líder, tranquilo”.
Para Sabrina, Peixoto sempre defendeu o governo em momentos decisivos. “Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o vereador teve um papel importante em vários momentos, principalmente antes de o prefeito escolher Tiãozinho como líder. Nesse período em que a Casa não teve um nome, Welington Peixoto desempenhou muito bem o seu papel.”
Apesar da recepção positiva de seu nome por parte dos demais colegas da Casa, o vereador não demonstra tanto entusiasmo. “Não tenho um posicionamento sólido para dizer se eu aceito ou não. Se houver um diálogo com os vereadores, com o prefeito, se for bom para a Casa eu até poderia aceitar, mas não é algo que almejo.” E, mesmo sendo um possível “concorrente” de Tiãozinho, reconhece: “Acho que o prefeito poderia até manter o nome do atual líder, tendo em vista que o vereador tem desempenhado seu papel muito bem. O que Tiãozinho precisa é de mais autonomia”.
Questionado se houve algum encontro com o prefeito ou se Iris teria feito algum contato na tentativa de estreitar as relações e fomentar a ideia, Peixoto ressaltou que “depois que o prefeito anunciou que Tiãozinho seria substituído, estive com o vereador em três oportunidades”. “Em nenhuma delas ele tocou nesse assunto.”
Já a tucana Dra. Crisitna aposta que a devoção do vereador Andrey Azeredo em relação à prefeitura poderá ser um fator definitivo para a escolha de Iris. “É uma pessoa totalmente leal ao prefeito. Em muitos momentos Andrey colocou a Câmara em segundo plano e priorizou a prefeitura. Foi um soldado do Iris dentro da Casa. Ele não foi leal com a Câmara nem com a população. Já com o prefeito, isso ninguém pode negar.”
Por fim, Rogério Cruz disse acreditar que o prefeito deva escolher uma pessoa mais ligada a ele do que a atual liderança. “Dentro dessa condição, creio que possa ser o Carlin Café (PPS) o escolhido. É um parlamentar assíduo, atuante, e tem defendido muito o prefeito. Ao ser questionado sobre Welington, Cruz afirmou que, apesar de conversarem muito, nunca o viu “demonstrar interesse” em tal posição.
Descompasso
A Prefeitura de Goiânia não tem tido um bom relacionamento com a Câmara Municipal, especialmente nos últimos dois anos. Muitos vereadores têm se queixado da postura de Iris, considerando-o insensível ou até desrespeitoso com as demandas da Casa.
Independente dos nomes ventilados nos bastidores da política local, o fato é que a maioria absoluta dos vereadores se queixa dos limites atribuídos à figura do líder. Os parlamentares defendem que o escolhido pelo prefeito tenha mais autonomia, o que poderia estreitar a relação entre os Poderes. Muitos vereadores até cogitam que mudar o líder não fará diferença se o prefeito não encarar a Câmara com outros olhos. É o caso do vereador Lucas Kitão, por exemplo.
“Tudo vai depender da boa vontade do prefeito. Se Iris não estiver disposto a ouvir a Câmara, o líder nunca terá seu papel integralmente cumprido. Discutir estes nomes não fará a menor diferença se o prefeito não passar a ouvir as reivindicações da Casa”, destaca o vereador.
Sabrina reforça a reflexão de Kitão ao destacar o “descaso pessoal” do prefeito com os vereadores. “Independentemente de quem seja o líder, esta relação enfraquece qualquer tipo de articulação. Essa não é uma posição só do prefeito, mas também de todos seus auxiliares que tentam desmoralizar os vereadores. […] Não adianta que haja uma articulação por parte do líder, nem que ouça as demandas se, ao chegar no prefeito, Iris simplesmente ignorar a vontade do Parlamento.”
Ao ser questionada, Sabrina não soube dizer quais razões poderiam ter levado o prefeito a aderir essa postura, vista pela parlamentar como “antidemocrática”. A vereadora justificou a avaliação ao dizer que os parlamentares não são ouvidos. “Infelizmente o prefeito e seus secretários não têm tido um comportamento republicano com os vereadores e têm dado à Câmara um tratamento muito desrespeitoso.”
Não obstante, Rogério Cruz também se queixa da relação do prefeito com os vereadores e define: “Mais parece uma queda de braço”. “Iris é um político experiente, mas não sei onde quer chegar com as medidas que tem adotado nos últimos anos. Infelizmente, essa relação se torna um fardo para alguns vereadores. Acreditamos que o prefeito nem chegue a ler alguns dos projetos que encaminhamos para o Executivo. Iris tem experiência e gostaríamos de contar com esse conhecimento para o lado bom da coisa.”
Vinícius Cirqueira, que deixará a Câmara em breve, lamenta a maneira com que sai do parlamento. “Foi um ano em que o Legislativo foi desrespeitado por parte do secretariado. Tanto que a insatisfação coletiva fez com que a Casa escolhesse um nome autônomo na eleição da mesa”, considera ao se referir à eleição de Romário Policarpo (Pros) como novo presidente.
Mesmo ao não ocupar mais uma cadeira no Legislativo municipal, Cirqueira vislumbra um novo horizonte para a segunda metade do mandato de Iris. “Repetir os mesmo erros não convém. Tem de haver um novo cenário. Principalmente diante da nova postura da Câmara. Isso fará com que o Executivo ouça, por bem ou por mal, os 35 melhores assessores do prefeito que são os vereadores, aqueles que sabem realmente o que a população precisa.”
Mas há quem avalie bem a relação de Iris com a Câmara. É o caso do ex-presidente Andrey Azeredo, que afirmou ao Jornal Opção que durante seu mandato como líder maior da Casa teve “o melhor relacionamento institucional possível”. “Como gestor da Câmara não tenho o que dizer dessa relação. Fizemos uma gestão austera, transparente, que colocou o Legislativo numa posição de protagonismo no cenário político goianiense. Enquanto presidente ou vereador, não tenho o que reclamar da gestão de Iris Rezende”, pontua. Procurada, a Prefeitura de Goiânia não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.