O que empreendedores e sindicalistas esperam de 2022

26 dezembro 2021 às 00h00

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A luta econômica do ano que vem depende do avanço da imunização, da resposta da bolsa de valores às eleições e a discussão de investimentos e reformas
O Jornal Opção ouviu trabalhadores e empresários para compreender o que o mercado espera de 2022. Tanto líderes sindicais quanto os representantes patronais afirmam acreditar que as finanças brasileiras e goianas estão em um momento decisivo. Embora a alta do dólar, a inflação e as variantes de coronavírus batam à porta, os entrevistados responderam que é necessário começar 2022 com otimismo – não há outra alternativa e existe possibilidade real de reverter o quadro projetado de crescimento zero ou de recessão.
Entretanto, a luta econômica do ano que vem será árdua, segundo os profissionais ouvidos, e depende de muitas incógnitas. O avanço da imunização, a resposta da bolsa de valores às eleições e a discussão de investimentos e reformas (fator atrapalhado pelo ano eleitoral) são algumas das condições que os entrevistados apontaram para a recuperação. Sem ingenuidade, porém, os especialistas admitem que o cenário certamente reserva surpresas.
Thomaz Pina

Diretor da metalúrgica Metalforte, de Aparecida de Goiânia.
“A expectativa para 2022 é de recessão. Todas as projeções indicam crescimento negativo ou muito pequeno – uma estagflação, um dos piores cenários macroeconômicos. Além disso, existe toda volatilidade que acompanha as eleições. Contudo, nesse ano tivemos muitas obras iniciadas que serão concluídas em breve. É uma razão para não perder a confiança e serenidade.
“Em âmbito estadual, Goiás depende do RRF (Regime de Recuperação Fiscal). Ainda não sabemos qual será o impacto do plano e nem quando vamos sair dele. O atual governo está praticamente reeleito e já o conhecemos. Ronaldo Caiado (DEM) tem forte característica reformista: atacou problemas tributários, buscou recuperar as finanças, colocar a casa em ordem. Porém, não é um governo progressista e eu particularmente gostaria de ver mais investimentos em obras de infraestrutura, por exemplo.
“O ano eleitoral é de turbulência e barulho, e isso é importante porque o dólar impacta nosso setor (indústria metalúrgica), mas não costuma ser um ano parado. Além disso, o empresário brasileiro aprendeu a tocar o seu negócio sem olhar para Brasília. As eleições obstruem reformas, mas ninguém espera muita coisa de toda forma. Precisamos muito das reformas, mas, francamente, não podemos depender disso. Somos obrigados a nos virar.”
Osvaldo Zilli

Presidente da Associação Comercial e Industrial de Aparecida de Goiânia (Aciag) e dono da empresa de logística Transzilli
“Tenho um senso de esperança e de otimismo. Sabemos das dificuldades e das turbulências que a eleição trará, mas o empresário tem de se lembrar que a economia estava bastante represada e o país tende a crescer com a recuperação do consumo interno. O agronegócio proporciona movimento constante em nossa área (logística) e em todo o estado. Injetando dinheiro no mercado e aumentando a renda das pessoas, o agronegócio representa para Goiás uma coluna de apoio.
“Devemos lutar para voltar à realidade que o Brasil merece. As turbulências políticas estão sempre iminentes – sobe e desce o dólar, cai e levanta a bolsa – mas o crescimento no fim das contas pode ser positivo, não existe nada que impeça o Brasil de avançar. Produzimos muito, temos um comércio forte e o setor da prestação de serviços avança. Com um time trabalhador, podemos ter um bom 2022.
“Goiás é um estado com vida própria que não depende tanto de Brasília. O que poderia ser feito para melhorar é a implementação de uma política fiscal que respeite mais o consumidor e as empresas. O maior peso em nossas contas está na parte tributária e o fisco deixa o empresário acuado para investir. A receita fazendária pode melhorar ao estimular a competitividade, ao invés de simplesmente judiar de quem gera impostos.”
Leandro Stival

Presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado de Goiás (Sindicarne)
“Em 2021, tivemos inflação, dólar e juros altos, que impactaram na aquisição da matéria prima e nos custos de produção. Enxergamos 2022 seguindo o mesmo caminho. Com crescimento do PIB próximo de zero, o poder de compra da população deve ficar comprometido com as questões básicas – alimentação, moradia, contas. Há três anos o consumo de carne do brasileiro cai: foram 37 kg de carne por habitante em 2019; 30kg por habitante em 2020; e 2021 deverá fechar entre 22 e 24 kg de carne consumida por brasileiro.
“A redução do consumo se deve a alta do dólar, que faz com que o mercado externo puxe o preço da carne. No final desse ano já tivemos um mau prenúncio: houve redução de 10% no número nacional de abates, e Goiás deve ficar próximo disso. Então sofremos com a pandemia por pelo menos um semestre, mas os danos ao setor podem perdurar por até 5 anos. Temos de trabalhar com os pés no chão. Os produtores rurais também estão sentindo a crise e fazem investimentos comedidos, mantendo reservas de recursos e capital de giro.
“Algo que eu gostaria de ver realizado em 2022 é a melhoria das nossas relações internacionais. Nosso setor de diplomacia tem atrapalhado. O caso do embargo da carne brasileira pela China é claramente um sintoma de relações abaladas, já que os casos espontâneos da doença da vaca louca não exigiam a interrupção do comércio, que foi o que aconteceu por muitos meses.
“O nosso setor quer que a classe política ajude. Os comerciantes e produtores rurais nunca tiveram raiva de ninguém; não temos inimizade com cliente algum. Só queremos que tudo funcione de forma recíproca. Não existe razão para fazermos inimigos; o Brasil sempre foi um país de boas relações diplomáticas e deveríamos aproveitar essa vantagem para alcançar nossos objetivos.”
Márcio Martins

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Goiás (Sindiposto)
“Depois de um 2021 que entrará para a história do nosso setor como um dos piores anos, temos a esperança de que em 2022 tenhamos pelo menos a estabilização dos preços. Muitos consumidores não sabem, mas o aumento no preço dos combustíveis é péssimo para quem os comercializa, pois donos de postos precisam investir mais em capital de giro, e neste momento os juros estão altos e o crédito difícil. Então estamos em situação muito delicada.
“O que queremos é estabilidade, para que o consumidor possa prever os preços, e para que possamos investir estrategicamente ao invés apenas sobreviver provisoriamente.
“Em âmbito estadual, o que pode ser feito para nos ajudar é a intensificação da fiscalização contra a sonegação fiscal e desvios na qualidade dos produtos. Essas trapaças tiram competidores sérios do trabalho. Precisamos de fiscalização rígida.
“O ano eleitoral costuma impactar muito em nosso setor, pois dependendo das pesquisas eleitorais, a resposta do mercado provoca valorização ou desvalorização da moeda, e todo o ramo depende do dólar. Só o que podemos fazer é torcer pela serenidade na decisão do pleito.
“Nosso mercado é muito regulamentado, então gostaríamos de mais competitividade no refino, que hoje é quase exclusivo da Petrobrás. Houve alguns passos nesse sentido, com a autorização de que postos possam comprar direto da usina (isso ainda não se efetivou, mas o caminho foi aberto). Além de monopólio no refino, a cadeia de distribuição é concentrada nas mãos de poucos players. Se corrigirmos esses fatores, teremos combustíveis mais baratos para os consumidores e, consequentemente, uma economia mais aquecida.”
André Luiz Rocha

Presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool
“Com as chuvas de novembro e dezembro, existe a possibilidade de que 2021 seja o prenúncio de uma boa safra em 2022. Neste ano, tivemos colheitas castigadas por secas, geadas e incêndios. Só saberemos no final do verão (março) o que o ano novo nos reserva. Mas, de toda forma, nos preocupa muito a economia, pois o consumo de combustíveis está muito ligado ao dólar e ao poder de compra.
“A pandemia ainda não acabou e novas variantes podem impor a necessidade de paralisações, mas ainda assim, acredito que o brasileiro aprendeu a importância das vacinas e a tomar cuidados, como as máscaras PFF2. Entraremos no início de 2022 mais maduros, conscientes e imunizados do que entramos em 2021. Torcemos para que o impacto da pandemia seja menor. As doses de reforço estão contratadas e o cenário se desenha melhor do que o do ano que termina.
“É lógico que nos preocupa a taxa selic, o dólar, os juros, mas temos fé de que a discussão da reforma tributária e administrativa amadureça. Temos sempre de começar o ano com muita esperança, porque não temos a alternativa de desanimar. Geralmente, quando viramos a folha do calendário, criamos a esperança por coisas boas apesar dos obstáculos no horizonte.
“Mesmo com as dificuldades, estamos animados para 2022 porque estamos desenvolvendo dois grandes estudos com a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Sebrae e Universidade Federal de Goiás (UFG), que devem ficar prontos no início do ano que vem. A intenção é entender como melhorar cadeias produtivas e agroindústria para podermos discutir com o poder público e outras entidades ações que avancem a indústria goiana. Queremos entender o que pode ser feito para aprimorar as condições de competitividade.
“Outro estudo, liderado pela Associação pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial) e Fórum Empresarial vai levantar ações a serem executadas até 2030 com objetivo de estruturar, de maneira sustentável, avanços para geração de renda e emprego em todo território goiano. Já está em andamento – estamos ouvindo especialistas para ter elementos para solicitar políticas concretas que gerem renda, desenvolvimento, distribuição de riqueza e, enfim, melhorias de desenvolvimento para o nosso estado.”