A luta econômica do ano que vem depende do avanço da imunização, da resposta da bolsa de valores às eleições e a discussão de investimentos e reformas

O Jornal Opção ouviu trabalhadores e empresários para compreender o que o mercado espera de 2022. Tanto líderes sindicais quanto os representantes patronais afirmam acreditar que as finanças brasileiras e goianas estão em um momento decisivo. Embora a alta do dólar, a inflação e as variantes de coronavírus batam à porta, os entrevistados responderam que é necessário começar 2022 com otimismo – não há outra alternativa e existe possibilidade real de reverter o quadro projetado de crescimento zero ou de recessão. 

Entretanto, a luta econômica do ano que vem será árdua, segundo os profissionais ouvidos, e depende de muitas incógnitas. O avanço da imunização, a resposta da bolsa de valores às eleições e a discussão de investimentos e reformas (fator atrapalhado pelo ano eleitoral) são algumas das condições que os entrevistados apontaram para a recuperação. Sem ingenuidade, porém, os especialistas admitem que o cenário certamente reserva surpresas. 

Thomaz Pina

Thomaz Pina Sócio-Fundador da Total Investimentos I Membro do Conselho Executivo da MetalForte

Diretor da metalúrgica Metalforte, de Aparecida de Goiânia.

“A expectativa para 2022 é de recessão. Todas as projeções indicam crescimento negativo ou muito pequeno –  uma estagflação, um dos piores cenários macroeconômicos. Além disso, existe toda volatilidade que acompanha as eleições. Contudo, nesse ano tivemos muitas obras iniciadas que serão concluídas em breve. É uma razão para não perder a confiança e serenidade.

“Em âmbito estadual, Goiás depende do RRF (Regime de Recuperação Fiscal). Ainda não sabemos qual será o impacto do plano e nem quando vamos sair dele. O atual governo está praticamente reeleito e já o conhecemos. Ronaldo Caiado (DEM) tem forte característica reformista: atacou problemas tributários, buscou recuperar as finanças, colocar a casa em ordem. Porém, não é um governo progressista e eu particularmente gostaria de ver mais investimentos em obras de infraestrutura, por exemplo. 

“O ano eleitoral é de turbulência e barulho, e isso é importante porque o dólar impacta nosso setor (indústria metalúrgica), mas não costuma ser um ano parado. Além disso, o empresário brasileiro aprendeu a tocar o seu negócio sem olhar para Brasília. As eleições obstruem reformas, mas ninguém espera muita coisa de toda forma. Precisamos muito das reformas, mas, francamente, não podemos depender disso. Somos obrigados a nos virar.”

Osvaldo Zilli  

Osvaldo Zilli | Foto: Reprodução

Presidente da Associação Comercial e Industrial de Apa­recida de Goiânia (Aciag) e dono da empresa de logística Transzilli

“Tenho um senso de esperança e de otimismo. Sabemos das dificuldades e das turbulências que a eleição trará, mas o empresário tem de se lembrar que a economia estava bastante represada e o país tende a crescer com a recuperação do consumo interno.  O agronegócio proporciona movimento constante em nossa área (logística) e em todo o estado. Injetando dinheiro no mercado e aumentando a renda das pessoas, o agronegócio representa para Goiás uma coluna de apoio.

“Devemos lutar para voltar à realidade que o Brasil merece. As turbulências políticas estão sempre iminentes – sobe e desce o dólar, cai e levanta a bolsa – mas o crescimento no fim das contas pode ser positivo, não existe nada que impeça o Brasil de avançar. Produzimos muito, temos um comércio forte e o setor da prestação de serviços avança. Com um time trabalhador, podemos ter um bom 2022.

“Goiás é um estado com vida própria que não depende tanto de Brasília. O que poderia ser feito para melhorar é a implementação de uma política fiscal que respeite mais o consumidor e as empresas. O maior peso em nossas contas está na parte tributária e o fisco deixa o empresário acuado para investir. A receita fazendária pode melhorar ao estimular a competitividade, ao invés de simplesmente judiar de quem gera impostos.”

Leandro Stival  

Leandro Stival | Foto: Reprodução / Sindiposto  

Presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado de Goiás (Sindicarne)

“Em 2021, tivemos inflação, dólar e juros altos, que impactaram na aquisição da matéria prima e nos custos de produção. Enxergamos 2022 seguindo o mesmo caminho. Com crescimento do PIB próximo de zero, o poder de compra da população deve ficar comprometido com as questões básicas – alimentação, moradia, contas. Há três anos o consumo de carne do brasileiro cai: foram 37 kg de carne por habitante em 2019; 30kg por habitante em 2020; e 2021 deverá fechar entre 22 e 24 kg de carne consumida por brasileiro.

“A redução do consumo se deve a alta do dólar, que faz com que o mercado externo puxe o preço da carne. No final desse ano já tivemos um mau prenúncio: houve redução de 10% no número nacional de abates, e Goiás deve ficar próximo disso. Então sofremos com a pandemia por pelo menos um semestre, mas os danos ao setor podem perdurar por até 5 anos. Temos de trabalhar com os pés no chão. Os produtores rurais também estão sentindo a crise e fazem investimentos comedidos, mantendo reservas de recursos e capital de giro. 

“Algo que eu gostaria de ver realizado em 2022 é a melhoria das nossas relações internacionais. Nosso setor de diplomacia tem atrapalhado. O caso do embargo da carne brasileira pela China é claramente um sintoma de relações abaladas, já que os casos espontâneos da doença da vaca louca não exigiam a interrupção do comércio, que foi o que aconteceu por muitos meses. 

“O nosso setor quer que a classe política ajude. Os comerciantes e produtores rurais nunca tiveram raiva de ninguém; não temos inimizade com cliente algum. Só queremos que tudo funcione de forma recíproca. Não existe razão para fazermos inimigos; o Brasil sempre foi um país de boas relações diplomáticas e deveríamos aproveitar essa vantagem para alcançar nossos objetivos.”

Márcio Martins 

Márcio Martins | Foto: Jornal Opção

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Goiás (Sindiposto)

“Depois de um 2021 que entrará para a história do nosso setor como um dos piores anos, temos a esperança de que em 2022 tenhamos pelo menos a estabilização dos preços. Muitos consumidores não sabem, mas o aumento no preço dos combustíveis é péssimo para quem os comercializa, pois donos de postos precisam investir mais em capital de giro, e neste momento os juros estão altos e o crédito difícil. Então estamos em situação muito delicada.

“O que queremos é estabilidade, para que o consumidor possa prever os preços, e para que possamos investir estrategicamente ao invés apenas sobreviver provisoriamente. 

“Em âmbito estadual, o que pode ser feito para nos ajudar é a intensificação da fiscalização contra a sonegação fiscal e desvios na qualidade dos produtos. Essas trapaças tiram competidores sérios do trabalho. Precisamos de fiscalização rígida. 

“O ano eleitoral costuma impactar muito em nosso setor, pois dependendo das pesquisas eleitorais, a resposta do mercado provoca valorização ou desvalorização da moeda, e todo o ramo depende do dólar. Só o que podemos fazer é torcer pela serenidade na decisão do pleito. 

“Nosso mercado é muito regulamentado, então gostaríamos de mais competitividade no refino, que hoje é quase exclusivo da Petrobrás. Houve alguns passos nesse sentido, com a autorização de que postos possam comprar direto da usina (isso ainda não se efetivou, mas o caminho foi aberto). Além de monopólio no refino, a cadeia de distribuição é concentrada nas mãos de poucos players. Se corrigirmos esses fatores, teremos combustíveis mais baratos para os consumidores e, consequentemente, uma economia mais aquecida.”

André Luiz Rocha 

Presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg), André Rocha

Presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool

“Com as chuvas de novembro e dezembro, existe a possibilidade de que 2021 seja o prenúncio de uma boa safra em 2022. Neste ano, tivemos colheitas castigadas por secas, geadas e incêndios. Só saberemos no final do verão (março) o que o ano novo nos reserva. Mas, de toda forma, nos preocupa muito a economia, pois o consumo de combustíveis está muito ligado ao dólar e ao poder de compra.

“A pandemia ainda não acabou e novas variantes podem impor a necessidade de paralisações, mas ainda assim, acredito que o brasileiro aprendeu a importância das vacinas e a tomar cuidados, como as máscaras PFF2. Entraremos no início de 2022 mais maduros, conscientes e imunizados do que entramos em 2021. Torcemos para que o impacto da pandemia seja menor. As doses de reforço estão contratadas e o cenário se desenha melhor do que o do ano que termina.

“É lógico que nos preocupa a taxa selic, o dólar, os juros, mas temos fé de que a discussão da reforma tributária e administrativa amadureça. Temos sempre de começar o ano com muita esperança, porque não temos a alternativa de desanimar. Geralmente, quando viramos a folha do calendário, criamos a esperança por coisas boas apesar dos obstáculos no horizonte. 

“Mesmo com as dificuldades, estamos animados para 2022 porque estamos desenvolvendo dois grandes estudos com a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Sebrae e Universidade Federal de Goiás (UFG), que devem ficar prontos no início do ano que vem. A intenção é entender como melhorar cadeias produtivas e agroindústria para podermos discutir com o poder público e outras entidades ações que avancem a indústria goiana. Queremos entender o que pode ser feito para aprimorar as condições de competitividade. 

“Outro estudo, liderado pela Associação pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial) e Fórum Empresarial vai levantar ações a serem executadas até 2030 com objetivo de estruturar, de maneira sustentável, avanços para geração de renda e emprego em todo território goiano. Já está em andamento – estamos ouvindo especialistas para ter elementos para solicitar políticas concretas que gerem renda, desenvolvimento, distribuição de riqueza e, enfim, melhorias de desenvolvimento para o nosso estado.”