Novo HC será o maior hospital público do Centro-Oeste
23 fevereiro 2020 às 00h00
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Após 20 anos de construção, UFG inaugurará o novo hospital, que será o maior federal do Brasil e atenderá todo Centro-Oeste
O Hospital das Clínicas de Goiânia (HC) está em um antigo prédio de três andares. Nascido na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG) há mais de 60 anos, o órgão formou gerações de médicos, que estudam no local como internos e frequentemente retornam como residentes para se especializarem – além de produzir incontáveis outros profissionais da saúde. Agora, após 20 anos da concepção de um novo HC, a instituição está em vésperas de mudança.
A importância do HC não cabe em seus atuais 328 leitos. Por fazer parte da Universidade, o órgão é um grande laboratório de pesquisa científica e, por isso, tem vocação para tratamentos de alta complexidade e medicina de ponta. No Estado, a única outra instituição focada na atenção terciária (procedimentos em que predominam conhecimento e técnicas especializadas) é o Hospital Geral de Goiânia Dr. Alberto Rassi (HGG), mas este não possui todos os ramos que são cobertos no HC:
Cirurgias de pequeno, médio e grande porte. Exames de diagnóstico: imagenologia, laboratoriais, métodos gráficos, hemodinâmica. Emergência. Quimioterapia. Terapia Renal Substitutiva. Unidade de Terapia Intensiva: clínica, cirúrgica e neonatal. Desenvolve um trabalho de assistência à saúde, atendendo a população em procedimentos de alta complexidade, como cirurgias cardíacas, ortopédicas, transplantes de medula óssea e renal, neurocirurgias.
Por isso, a aguardada ampliação do hospital foi descrita por Sérgio Baiocchi, novo presidente da Unimed, como “de impacto total.” Atualmente, além de Goiás e Tocantins, o hospital atende o sul do Pará, Maranhão, Bahia, Amazonas, norte de Minas Gerais e outros. O superintendente do HC e professor da Faculdade de Medicina, José Garcia Neto, afirma que a expectativa é que, após a mudança de edifício, gradualmente se aumentem as operações até alcançar a capacidade total – 600 leitos.
“O que combinamos com o Governo Federal foi que, com a melhora da condição econômica, o Ministério da Educação irá suprir em quatro anos o necessário para funcionarmos com força total”, diz José Garcia. “Será o maior hospital público do Centro Oeste e o maior hospital federal do Brasil.”
A mudança em números
Quantidade de Leitos
De 328 para 600 leitos
De 3 para 20 andares
70 enfermarias por andar
2 leitos por enfermaria, que pode ser isolada a qualquer momento
Radioterapia será implantada até julho
4 andares para garagem, equipamentos de manutenção, administração, área técnica e informática.
16 andares hospitalares destinados a atendimento, laboratórios, capela, necrópsia e estudo de óbitos, diagnóstico, internação, transplante e UTI
Novo edifício receberá as internações eletivas
José Garcia explica que todas as internações eletivas irão para o novo prédio, enquanto as de urgência ficarão no pronto-socorro. As salas emergenciais se ampliarão para todo o “antigo” prédio, passando de 20 para 100 ou 150, ainda não se sabe ao certo. Este edifício continuará hospedando laboratório, ambulatório, consultório e pesquisa.
Quanto ao perfil dos pacientes, este não deve mudar, embora haja incerteza. “Penso que continuaremos atendendo os mesmos pacientes – casos graves e pelo SUS. O cenário é indefinido com o programa Future-se; não sabemos exatamente como funcionaria e em quais vias poderia lançar um hospital como o nosso, mas não temos nenhum direcionamento oficial ainda”.
José Garcia conta que o general Oswaldo Ferreira, presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que gerencia o HC, considera que mesmo com ajustes fiscais não haverá grandes mudanças na administração dos mais de 40 hospitais universitários. A Ebserh é pública de direito privado e foi criada pelo Congresso Nacional em 2011. O HC atende exclusivamente pacientes pelo SUS e tem seus recursos destinados pelo Ministério da Educação e Cultura.
Após a inauguração do novo edifício, os leitos do prédio atual serão desativados e transferidos. Entretanto, não serão realizados novos concursos para médicos, professores ou abertas vagas para residência à princípio. José Garcia afirma que espera-se que o edifício atinja funcionamento completo quatro anos depois de sua inauguração.
“O impacto será total”, afirma Sérgio Baiocchi, novo presidente da Unimed. “Os médicos e enfermeiras vão trabalhar felizes, em um lugar novo e bonito, com todas as ferramentas para tratar os pacientes. E o paciente se sentirá bem”. Sérgio Baiocchi foi professor no HC, de 1991 até 2016, além de ter se formado pela Faculdade de Medicina da UFG.
Ele afirma que já conheceu o novo prédio: “A nova estrutura é de excelência. Vai agregar demais à cidade e à Universidade em termos de produção científica e de ter um lugar para internar as pessoas. A vida da cidade vai ser muito influenciada positivamente com esses 600 leitos. Não tenho dúvida alguma”.
Obra foi feita exclusivamente com emendas parlamentares
O reitor da UFG, Edward Madureira, relata a luta da instituição para construir o novo prédio, que se arrasta desde 1999. “O projeto inicial e o primeiro arranque foram sob a gestão da reitora Milka Severino. Ela conseguiu algo como R$ 3 milhões para o início do projeto, mas a construção só se iniciou de fato em 2002”. O reitor diz que a obra demorou em ser concluída porque foi feita inteiramente com verbas de emenda de bancada no Congresso Nacional.
“Todos os anos nós batalhávamos para articular junto aos deputados federais goianos verba para avançar a obra. Não houve um financiamento confiável e previsível; os recursos nem sempre eram liberados, pois estávamos sujeitos às intempéries econômicas. Por isso, rompemos o contrato diversas vezes. Ao todo, quatro empresas trabalharam na construção do novo HC – uma fez a fundação, outra o esqueleto do prédio, outra a metade de cima e por último a de baixo”, conta Edward Madureira.
Edward Madureira afirma que apenas a última destinação de verbas ultrapassou a quantia de R$ 80 milhões, mas que a maioria das emendas foi de valor relativamente baixo. Ao todo, mais de 100 deputados federais assinaram repasses para a realização do hospital, que atravessou a gestão de três reitores.
O que muda para um residente
Gabriel Alvarenga Santos está no HC há sete anos. Graduado em medicina pela UFG, o residente está concluindo seu primeiro na especialização em clínica médica e relata o cotidiano de alunos internos, professores e funcionários no antigo prédio, bem como o que esperam encontrar no novo edifício do Hospital das Clínicas.
Quais as condições do prédio atual do HC?
É um prédio muito antigo, com muitos defeitos de manutenção. Considero que o principal problema é a dificuldade de locomoção de pacientes com necessidades especiais. O prédio foi recebendo acréscimos à medida que foi construído; a gente brinca que tem vários puxadinhos. No ambulatório não há rede elétrica suficiente para suportar ar-condicionados, então todos sofrem na época do calor.
Qual o problema de se trabalhar em um prédio com seis décadas?
Não há computadores para todos os consultórios e os prontuários são de papel, isso atrasa o atendimento. O local destinado a guardar todas as informações anotadas em papel é enorme porque há muitos pacientes e qualquer busca é muito difícil. Nem sempre encontramos prontuários extra.
Atualmente o HC não é informatizado. Nosso sistema eletrônico para visualizar aos exames é digital, mas muito antigo, então não conseguimos ver uma lista de todos os exames que o paciente fez, por exemplo – temos de procurar um exame de cada vez. Para ver um exame de imagem, um raio-x, por exemplo, temos de ir até o setor de radiografia e pegar a imagem grava em CD.
O que deverá mudar com a troca de edifícios?
O novo prédio virá com um sistema informatizado integrado, com prontuário eletrônico que pode ser acessado de qualquer computador, bem como o histório do paciente. Tudo passará a ser por digital. Nossa expectativa é de que isso melhore bastante nossa prática. Nós tendemos a prestar um atendimento melhor, mais seguro, e mais rápido com mais informações. Apesar de ter começado a ser construído em 2002, o novo prédio será bem melhor que o atual.
Qual importância o HC teve na sua formação?
Foi essencial. Apesar de todos os problemas físicos e estruturais que mencionei, os recursos humanos do HC são excelentes, e esse é o principal. Os melhores profissionais de pesquisa e publicação científica estão lá; são pessoas à frente das principais sociedades de suas especialidades – pessoas que são referências internacionais. Os mesmos profissionais que você encontra nos melhores hospitais particulares de Goiânia estão atendendo pelo sistema público no HC.
O que faz esse hospital ser importante para Goiás?
É um hospital de atenção terciária. Lá, há a riqueza de pacientes com as mais raras e complexas patologias, que não se encontram em outro hospital. No HC um aluno de medicina pode conhecer situações de difícil manejo, comorbidades, situações avançadas de oncologia, hematologia, cirurgia. É essencial que um médico tenha contato com isso em sua formação pois garante uma formação profunda.