Assembleia Legislativa do Estado

A Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) registrou seu recorde de renovação para a próxima legislatura: 23 dos 41 deputados estaduais não ocupavam cargos antes das eleições. Do total da atual composição, 30 tentavam a reeleição. A proporção é de 56% de renovação e 44% de reeleitos. 

Entretanto, nem todos são novos na política. Lincoln Tejota (UB), por exemplo, já havia sido deputado estadual de 2011 a 2018 e atualmente atua como vice-governador. O médico Lucas do Vale (MDB) ocupa cargo na casa pela primeira vez, mas é figura conhecida por ser filho do prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale (UB).

Por isso, o cientista político e professor Guilherme Carvalho explica que a renovação no Legislativo Estadual é apenas relativa. “Embora a bancada goiana na Câmara Federal tenha tido uma renovação mais baixa, de apenas 47%, a mudança ali foi mais significativa, pois contou com novatos na política entre os mais bem votados e 35% de mulheres eleitas (porção ainda mais alta que a cota de 30% de candidaturas femininas exigida pela lei). Na Alego, isso não aconteceu.”

Guilherme Carvalho, cientista político | Foto: Reprodução

O perfil da maioria dos 41 deputados estaduais é o tradicional: homens brancos de idade madura. Guilherme Carvalho afirma que isso se deve a um descompasso entre os grupos políticos formados no interior do estado e as demandas dos tempos atuais. “As bases regionais oferecem poucos quadros modernos. As elites políticas mantêm a prática de escolher um perfil específico, porque é o que classicamente funcionou no estado.”

Para o cientista político, a principal surpresa foi o avanço do PT, que conquistou mais uma cadeira, e o avanço de outros representantes da esquerda. “A esquerda ganhou alguma força na Alego. Isso não significa que o bloco da oposição se fortalece – pelo contrário. Devido a decadência do PSDB, a oposição será formada praticamente apenas pelo grupo da esquerda, e não mais por uma composição da esquerda com o PSDB, como ocorria. Isso é muito ruim para a democracia, pois a oposição idealmente deve ser plural.”

Guilherme Carvalho afirma que, com a candidatura frustrada de Marconi Perillo (PSDB) ao Senado, o partido cometeu um erro estratégico grave que lhe custará as eleições municipais em 2024. “Como os recursos dos Fundo Partidário e Fundo Eleitoral dependem da representação do partido na Câmara, não fazia sentido para o PSDB lançar seu maior quadro ao Senado. Mesmo se Marconi ganhasse, isso não faria diferença para o financiamento das campanhas eleitorais de 2024. Com Marconi concorrendo à deputado federal, seu partido poderia ter garantido um outro representante além de Lêda Borges.”

Como consequência, Guilherme Carvalho diz que o PSDB corre o risco de se tornar irrelevante em 2024. “O grupo será incapaz de oferecer financiamento de campanhas e, portanto, não veremos a migração de volta ao PSDB dos políticos que deixaram a legenda em troca do UB, MDB, PL e outros.” 

Bruno Peixoto: campeão de votos na Alego de 2022 | Foto: Divulgação

Câmara federal

O índice de renovação na Câmara dos Deputados nesta eleição foi de 44,05%. Em números proporcionais, a renovação ficou dentro da média histórica de 45,78% das últimas seis eleições para a Câmara. Foram eleitos 226 deputados novos e reeleitos 287, de um total de 446 candidatos à reeleição. Ou seja, 64,34% dos deputados que se candidataram foram reeleitos.

Esses números, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), representam de forma geral um Congresso mais ideológico à direita, mais conservador e na defesa do Estado mínimo.

Apesar da maioria do novo Congresso Nacional defender pautas mais conservadoras, um eventual governo Lula tem chances de governabilidade, já que tem a seu favor existem 222 deputados. A coligação pró-Lula (PT, PC DO B, PV, PSOL, Rede, PSB, PROS, Avante, Solidariedade e Agir) tem 120 parlamentares; os com tendência pró-Lula (PSD, PDT e parte do MDB) somam 102, totalizando 222 parlamentares.

A oposição manteve praticamente o mesmo tamanho, mas o chamado “centrão” perdeu 18 cadeiras na Câmara: o pP do atual presidente da Casa, Arthur Lira, de 58 foi para 47 representantes com queda de 11 deputados. Os partidos pró-Bolsonaro (PTB, PSC e Patriota) têm 16 cadeiras. Sua coligação (PL, Republicanos e PP) tem 178 deputados, totalizando 194 – 28 a menos do que os pró-Lula. O PL foi o partido que mais cresceu, com 23 novos eleitos.

Esses números, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), representam de forma geral um Congresso mais ideológico à direita, mais conservador e na defesa do Estado mínimo. Entretanto, Guilherme Carvalho explica que nem todos os deputados que declararam apoio a Jair Bolsonaro são essencialmente bolsonaristas. “A maioria é de parlamentares dependentes das emendas orçamentárias e dispostos a articular em prol de suas bases.”

Enquanto os eleitores das capitais votam por preferência ideológica, no interior a prioridade é pragmática, diz Guilherme Carvalho. “Como o cálculo do quociente eleitoral faz com que os deputados dependam dos votos pragmáticos do interior, onde as públicas chegam com dificuldades, representantes dedicam emendas à manutenção de suas bases. A questão definidora são os serviços – asfalto na porta de casa. Por isso, um eventual governo Lula poderá ser capaz de construir alianças com antigos bolsonaristas, inclusive do próprio PL.” O movimento de aliança com bases de partidos opositores já começou a ser registrado, com prefeitos do UB aderindo à campanha do adversário.

Caso as pesquisas de intenção de voto se confirmem e Lula seja eleito, a tarefa de lidar com o Congresso ideologicamente adverso deverá consumir esforços do petista. Por isso, Guilherme Carvalho afirma não acreditar que Lula confrontará diretamente o orçamento secreto. Com a necessidade de uma coalizão de legendas no Congresso para governar confortavelmente, é mais provável que o orçamento secreto seja regulado, tornado mais transparente e destinado de forma diferente.

Silvye Alves: campeã de votos para a Câmara Federal por Goiás | Foto: Divulgação

“Silvye Alves foi a candidata do governador Ronaldo Caiado (UB), que circulou com ela, criando eixos de diálogo por todo o estado. Herdou as redes de apoio do governador enquanto, por ser novata, mantinha-se como alternativa para quem possui o sentimento antipolítica. Funcionou muito bem em sua primeira eleição; mas já não funcionará para a próxima eleição, quando ela deverá apresentar o que construiu se quiser se reeleger”. 

Já Gustavo Gayer chegou à disputa com redes amplas no ambiente digital. “É a figura mais bolsonarista em Goiás – até mais do que Vitor Hugo (PL), que foi líder do governo Bolsonaro na Câmara. Recebe a transferência de votos do bolsonarismo, que é a corrente majoritária em Goiás. Além disso, sua forte presença digital consegue se transferir para as ruas, diferentemente de outros candidatos fortes apenas no digital, como Matheus Ribeiro (PSDB).”

Senado

Nestas eleições, o Senado foi renovado em um terço, isto é, cada Estado e o Distrito Federal elegeram um representante para a câmara alta. Como resultado, o PL consagrou o maior número de senadores eleitos (oito, 30% das vagas), seguido pelo União Brasil (cinco ou 18,5%) e PT (quatro ou 15%). O resultado foi favorável aos partidos de direita e negativo para os partidos de centro.

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Wilder Morais | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

Em Goiás, a disputa foi marcada por um aparente imprevisto. A leitura superficial dos números das pesquisas indicavam 25,3% de intenções de voto em Marconi Perillo, o segundo lugar de Delegado Waldir (UB) e o terceiro lugar de Wilder Morais (PL), com apenas 11,1% de intenção de voto. O que ocorreu foi a vitória de Wilder Morais, com 25,5% dos votos válidos.

Entretanto, leitores mais atentos alertavam para a máxima da análise política: “pesquisa é foto, não é filme.” Em entrevista ao Jornal Opção, o professor de Ciência Política da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS-UFG), Pedro Santos Mundim, afirmou nas vésperas da eleição: “Muita coisa pode acontecer porque é normal que o número de indecisos ou de não-respostas (brancos, nulos e não vão votar) caia. Para o Senado, as pessoas se decidem apenas na reta final – às vezes no próprio dia da votação.”

Pesquisas

Pesquisas em nível nacional também erraram ao subestimar a intenção de votos em Jair Bolsonaro (PL). Segundo Adriano Oliveira, doutor em ciência política e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e fundador da Cenário Inteligência, o principal problema é o fato de os institutos e imprensa divulgarem a intenção de votos como previsão exata do que acontecerá no momento da apuração das urnas. 

Segundo a metodologia de Oliveira, a comunicação das respostas obtidas em pesquisas deve deixar claro que a intenção de voto retratada representa o grupo dos eleitores que já decidiram o seu voto; e que existe também outro grupo de eleitores indefinidos. No caso do voto para senador, esse grupo costuma ser a maior parte da população, e omitir esse fato torna as pesquisas enganadoras. Há ainda a questão do teto de crescimento de cada candidato, um potencial máximo de votos que depende de sua rejeição. Esse fator também determina a probabilidade de vitória de um candidato e não é bem representado quando se apresenta apenas a intenção de voto.