Com movimento pouco expressivo, shoppings agora enfrentam desafio de recuperar tempo e dinheiro perdidos

Reabertos, shoppings de Goiânia têm movimento muito aquém do normal / Foto: Fernando Leite

A população goiana presenciou nos últimos dias a Justiça do Estado se transformar num verdadeiro campo de batalha. De um lado, a Prefeitura de Goiânia, lojistas e entidades representativas da classe pedindo a reabertura dos centros varejistas e shoppings. Do outro, órgãos como o Ministério Público de Goiás, avaliando os riscos da decisão diante da crise do coronavírus e pedindo a manutenção do fechamento dos comércios. A dor de cabeça foi grande, e a confusão gerada em decorrência das idas e vindas também.

Publicado no dia 19 deste mês, o decreto do prefeito Iris Rezende de nº 1.1187/2020 liberava a reabertura de estabelecimentos como shoppings, galerias comerciais, varejistas, atacadistas e espaços onde atuam os profissionais liberais a partir do dia 22 de junho. Conforme o decreto, todos os locais com liberação para funcionar deveriam adotar medidas de segurança como disponibilização de álcool em gel 70% para higienização das mãos; uso obrigatório de máscara, sob pena de multa, e limitação da entrada de pessoas nos locais. Entretanto, a euforia dos lojistas durou pouco.

Na noite de domingo, 21, um dia antes da reabertura prevista e quando os lojistas já ligavam seus motores para retomar o atendimento corpo a corpo, o juiz plantonista Claudiney Alves de Melo acatou um pedido do Ministério Público e suspendeu os efeitos do decreto municipal. A insatisfação dos representantes dos comerciários foi geral.

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Goiás (Acieg), Rubens Fileti, publicou um vídeo na ocasião afirmando que havia recebido a decisão de suspensão do decreto com “bastante estranheza”, uma vez que vinha conversando há mais de 40 dias com a prefeitura sobre a reabertura do comércio. Já o presidente da Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio), Marcelo Baiocchi, declarou que o setor foi “surpreendido” pela liminar expedida pelo juiz plantonista. A pressão pela reabertura falou mais alto, e numa guinada, o desembargador Luiz Eduardo de Sousa, em resposta a um pedido do Sindicato dos Condomínios e Imobiliárias de Goiás (Secovi), derrubou a liminar de Claudiney e devolveu ao decreto municipal seus efeitos de origem.

No dia 23, terça-feira, os lojistas puderam finalmente levantar as portas. Shoppings tradicionais da capital e bastante frequentados como o Bougainville, Goiânia Shopping, Passeio das Águas, Flamboyant e Orion reabriram após mais de três meses fechados em razão dos decretos publicados com medidas contra a propagação do coronavírus. Porém, o impacto foi imediatamente sentido.

Retorno morno foi sentida por lojistas

Os lojistas, que tiveram que fazer investimentos para as adequações necessárias para o funcionamento em época de pandemia – como compra de máscaras, placas de acrílico e dispensers de álcool em gel -, estão agora presenciando um movimento muito aquém do normal. E apesar de já esperado, o baixo faturamento tem gerado preocupação para alguns. É o caso de Juliana Martins, proprietária de um café localizado no Goiânia Shopping. A empresária relata que teve que segurar a barra durante o período em que precisou suspender as atividades de seu negócio ao ver seu faturamento literalmente zerar. Agora que as atividades foram retomadas, Juliana reconhece a necessidade do “novo normal” do comércio, mas desabafa: será um longo caminho até recuperar o tempo e dinheiro perdidos.

Antes lotados, shoppings agora veem seus corredores quase desertos / Foto: Fernando Leite

“Está bem abaixo, mas muito abaixo mesmo do normal. A gente entende que é até necessário, pra gente poder retomar de forma gradativa e mostrar que o shopping é seguro. Está ruim pra nós, até porque estamos praticamente pagando para trabalhar, para ficarmos abertos, mas ao mesmo tempo estamos mostrando que o shopping é diferente e que aos pouquinhos vai melhorando”, relata Juliana.

Raphael Costa, franqueado de uma loja de artigos para bebês no Shopping Flamboyant e também no Goiânia Shopping, confirma a baixa do movimento. O fluxo “está longe do faturamento médio de R$ 3 mil diários”. “No shopping do Setor Bueno recomeçamos vendendo trezentos reais apenas. Na loja do Jardim Goiás o movimento foi maior, mil e setecentos  Isso já era esperado, mas o importante era recomeçar”, diz.

Crise gerada pela pandemia tem efeitos a longo prazo

As dificuldades financeiras enfrentadas durante o período em que as atividades tiveram que ser suspensas fizeram com que alguns empresários baixassem suas portas de vez. A dificuldade de consequente não obtenção do acesso às linhas de crédito para pequenos empresários é um dos principais fatores causadores do problema.

Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o Sebrae entre os dias 30 de abril a 5 de maio, 29,3% dos pequenos empresários – maioria nos shoppings – precisariam entre R$ 5 e R$ 10 mil de ajuda financeira para não fechar de vez. 26,8% precisariam entre R$ 10 e R$ 30 mil e 24,9% precisariam de até R$ 5 mil.

Entretanto, dos 90,1% de pequenos empresários goianos que integraram o estudo e precisaram buscar empréstimos bancários, apenas 14,8% deles conseguiram.

Para Juliana, acúmulo de dificuldades e despesas prejudicou empresários nesta pandemia / Foto: arquivo pessoal

Juliana revela que presenciou colegas de comércio tendo que abrirem mão de suas lojas por não terem condições de tocar o negócio, e chama a atenção para a dificuldade de acesso ao crédito que poderia ajudar na recuperação. “Na verdade, o empresário não recebeu nada de crédito ainda, são só promessas. Então as pessoas estão tendo que arcar com muita coisa. A reabertura [do comércio] não é exatamente a solução, ela é só mais um desafio pra gente enfrentar”, avalia.

Para a empresária, o lojista conhecendo o caixa e o impacto que esses três meses de fechamento teve, “sabe que não vai ter fôlego para a reabertura”.

Baixo fluxo, altos investimentos: shoppings voltam com adaptações e mudanças contra o coronavírus

Buscando enquadramento nas exigências da Prefeitura de Goiânia, que recorreu ao embasamento de autoridades sanitárias, os shoppings da capital tiveram que fazer uma série de investimentos e adaptações para poderem funcionar neste período de pandemia.

O Shopping Flamboyant, por exemplo, investiu pesado em tecnologia. Além de tapetes higienizadores, uma novidade são duas câmeras termográficas de monitoramento com sensores de alta precisão para aferir a temperatura de quem entra no shopping num raio de até oito metros. O equipamento tem capacidade para monitorar até 10 pessoas simultaneamente em movimento e, caso localizado uma temperatura acima de 37,8 graus, um alarme é automaticamente emitido à central de operações, com informações para uma rápida localização e abordagem.

Mulher tem temperatura aferida por câmera especial antes de entrar em shopping de Goiânia / Foto: Fernando Leite

Além disso, por todo o empreendimento estão instalados displays com álcool em gel e comunicação que reforça medidas de prevenção (distanciamento nas escadas e outros locais, uso de máscaras, higienização das mãos, capacidade máxima de pessoas nos elevadores etc.) ou alerta para serviços suspensos.

Assim como o Flamboyant, o Goiânia Shopping também foi atrás das adequações. Conforme a assessoria do empreendimento, as áreas comuns foram desinfectadas antes da reabertura com produtos como o quaternário de amônia de 5º geração e a água ozonizada. O cuidado com a limpeza e a desinfecção, conforme o shopping, segue devidamente as normas sanitárias e de saúde determinadas pelo poder público.

As cancelas do estacionamento foram automatizadas para que o motorista não tenha contato físico com o equipamento de emissão do ticket. Além disso, foi feita a disposição de álcool em gel nos elevadores para limpeza das mãos após acionamento de botões, assim como de pias com água e sabão em todas as áreas do shopping.