“A Lei, dizem os jardineiros, é o sol,/ a Lei é aquele/ que todos os jardineiros obedecem:/amanhã, ontem, hoje”

Wystan Hugh Auden: poeta em York, na Inglaterra
A lei semelhante ao amor
W. H. Auden
A Lei, dizem os jardineiros, é o sol,
a Lei é aquele
que todos os jardineiros obedecem:
amanhã, ontem, hoje.
A Lei é a sabedoria dos mais velhos,
os débeis avós agudamente ralham;
os netos mostram a língua triplicada,
a Lei são os sentidos dos jovens.
A Lei, diz o padre com um olhar sacerdotal,
explicando para gente não sacerdotal,
a Lei são as palavras do meu livro sacerdotal,
a Lei é o meu púlpito e o meu campanário.
A Lei, diz o magistrado olhando a ponta do nariz,
falando claro e com rigor,
a Lei é, como eu já vos disse,
a Lei é, como suponho que sabeis,
a Lei é apenas, deixai-me esclarecê-lo uma vez mais,
a Lei é a Lei.
Mas escrevem os doutos, submissos à lei:
a Lei não é o erro nem o direito,
a Lei são apenas crimes
punidos conforme os lugares e tempos,
a Lei é a roupa que os homens trazem
em qualquer tempo, em qualquer lugar,
a Lei é o Bom dia e o Boa Noite.
Dizem outros, a Lei é o nosso Destino;
dizem outros, a Lei é o nosso Estado;
dizem outros, dizem outros,
a Lei já não existe,
a Lei se foi embora.
E sempre a multidão irada e clamorosa,
muito irada e muito clamorosa:
a Lei somos Nós,
e sempre o idiota de voz macia, maciamente: Eu.
Se nós, querida, sabemos que não sabemos mais
do que eles a propósito da Lei;
se eu não sei mais do que tu
o que devemos e o que não devemos fazer,
a não ser que todos concordam
com alegria ou tristeza
em que a Lei existe
e todos sabem disso;
se portanto, julgando absurdo
identificar a Lei com alguma outra palavra,
diversamente de tantos homens
eu não posso dizer que a Lei existe de novo,
não podemos reprimir mais do que eles
o universal desejo de conjeturar
ou de escapar de nossa posição
para uma condição de indiferença.
Embora eu possa pelo menos restringir
tua vaidade e a minha
a fixar timidamente
uma tímida semelhança,
blasonaremos de algum modo:
como o amor, digo eu.
Como o amor, que não sabemos onde ou por que,
como o amor, que não podemos obrigar ou fugir,
como o amor, que frequentemente choramos,
como o amor, que poucas vezes conservamos.
W. H. Auden (1907-1973) é poeta inglês. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos.
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