Joesley Batista garante que JBS-Friboi não é de Lula nem de Lulinha. Iris Rezende não foi sócio oculto

11 fevereiro 2015 às 18h16

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Texto da revista Piauí sobre a JBS-Friboi é de alto nível. Parte parece ter sido escrita por Lombroso. Joesley e Wesley Batista apostam que o grupo vai crescer em 2015 e criticam a ministra Kátia Abreu. Publicidade com Roberto Carlos fracassou porque o público discutia o “rei” e não a carne do frigorífico. Empresa investe R$ 800 milhões de reais em publicidade por ano
(Joesley, Júnior Friboi e Wesley Batista. Na foto menor, Joesley com o pai José Mineiro)
“O Estouro da boiada” é uma reportagem primorosa de Consuelo Dieguez, da revista “Piauí”, sobre a JBS-Friboi, grupo criado e dirigido pela família Batista. O patriarca, José Batista Sobrinho, de 80 anos, é mineiro. Daí o apelido de Zé Mineiro. Os filhos — Joesley e Wesley Batista — que comandam as empresas, são goianos. José Batista Júnior, o Júnior Friboi, deixou a empresa e agora comprou o Frigorífico Mataboi e comanda a JBJ.
JBS significa, literalmente, José Batista Sobrinho — o nome completo do criador do Friboi. Em 2007, quando a família abriu o capital da empresa, a Friboi se tornou JBS (a Friboi passou a ser apenas uma empresa do grupo). No ano passado, o grupo faturou 116 bilhões de reais — “o que fez dela a maior companhia privada brasileira, à frente da mineradora Vale”. Em 2012, com nome derivado dos pais José e Flora, surgiu a holding J&F Investimentos. Além de carne, que exerce papel central no faturamento bilionário, os Batistas investem em papel e celulose, banco, usina de biodiesel, fábrica de xampu e sabão, pagam salários a 210 mil trabalhadores e têm negócios no Brasil, Argentina, Uruguai, Itália, México, Canadá, Estados Unidos e Austrália. “As coisa ‘foro aconteceno’ de forma natural”, conta, comendo o plural, Wesley. A repórter ressalta que se trata de uma maneira de falar dos goianos, quando, na verdade, é recorrente em vários Estados do país.
“Piauí”, como outras publicações patropis, atribui o crescimento da JBS à parceria com o governo federal, por intermédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), na sua política de incentivar a expansão capitalista local a partir dos chamados “campeões” (o que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pretende mudar). “Desde a abertura do capital, em 2007, o grupo passou a receber vultosos recursos do BNDES, mas não em forma de empréstimo, e sim de participação acionária. Ou seja, ao invés de financiar a companhia e cobrar juros pela operação — como faz um banco de investimento —, o banco federal colocou dinheiro no negócio para se tornar seu sócio.”
Consuelo Dieguez registra que, “entre 2007 e 2009, o BNDES despejou 8,3 bilhões de reais na JBS por meio de compra de ações, afora outros bilhões de reais em empréstimo. (…) Sua participação na companhia chegou a ser de 31%. O banco ficou tão exposto que o governo achou por bem transferir parte das operações para a Caixa Econômica, a fim de reduzir os riscos do BNDES e ajudar na capitalização da outra instituição. Hoje o BNDES é dono de 24,59% da empresa”. A repórter afirma que, no mercado, há quem chame o banco de JBNDES.
A “piada” é boa, sem dúvida. Porém, o BNDES financiou, ainda que não na mesma proporção, outros empreendimentos da área de carne, e eles fracassaram. Por quê? A “Piauí” não diz, mas possivelmente por não terem conseguido sobreviver num ambiente cada vez mais competitivo e por não terem adotado mecanismos de gestão mais rigorosos. Resta saber, no caso de outros frigoríficos, se, ao quebrarem as empresas, os proprietários também quebraram.
A revista ressalta que uma política correta deveria ter sido investir em setores que levassem a um crescimento global da economia. Porém, sob o comando do economista Luciano Coutinho, o BNDES optou por bancar a expansão de frigoríficos e empresas de papel e celulose, mineração, petróleo e petroquímica . Coutinho avaliou, anota Consuelo Dieguez, que tais setores “apresentavam mais condições de competir no exterior”.
Os críticos de Coutinho, por consequência da JBS, sugerem que o BNDES deveria ter investido em “empresas de alta tecnologia, como fizeram Japão e Coreia na década de 50, elevando a indústria desses países a outro patamar”. A cúpula do banco “errou” em bancar empresas da área de commodities. O banco também teria “errado” ao “aportar tanto dinheiro público em negócios que beneficiaram muito mais os controladores das empresas do que o país em sua totalidade, o que muitos entenderam como favorecimento”. Uma das fontes, Mansueto Almeida, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, sustenta: “Vender boi não vai impactar no bem-estar coletivo e nem modernizar a indústria nacional”.
Má vontade com a família Batista
Pode ser que, em parte, Mansueto Almeida esteja certo. Mas a reportagem não foi atrás da supostas empresas de tecnologia para certificar-se de que só não cresceram por falta de investimento do BNDES. Ora, se empresas de tecnologia do Japão e da Coreia cresceram ancoradas em suportes dados pelos governos, noutros países, como Estados Unidos, se expandiram à custa de investimento do mercado privado (leia-se bancos). O mais provável é que o BNDES bancou aqueles empresas que apresentaram projetos consistentes. A repórter deveria ter investigado quais os grandes projetos que, apresentados, não foram aprovados pelo BNDES. Se tivesse desviado um pouco o foco, talvez tivesse feito uma reportagem mais precisa sobre os laços do capitalismo com o setor público no Brasil. O economista não diz uma palavra sobre os negócios de Eike Batista. Nenhuma linha, nenhuma crítica. Adiante, sim, a revista menciona o empresário.
Há outro aparente equívoco, baseado na opinião de Mansueto Almeida. O economista sugere, e “Piauí” compra sua opinião — mais do que constatação — de que o investimento nas campeãs “pouco impactou no desenvolvimento da economia em geral, como teria ocorrido caso o dinheiro fosse investido em ampliação de linhas de metrô, estradas e hidrelétricas”. O investimento em frigoríficos e empresas de papel e celulose, e de mineração impediu o investimentos em outros setores? Não, e isto Mansueto Almeida não diz. As estradas de Goiás, por exemplo, foram recuperadas, em larga medida com dinheiro do governo federal. Há expansão de metrôs e VLTs no País. O VLT do Eixo Anhanguera, em Goiânia, está prestes a sair do papel. O “problema” de se construir hidrelétricas é mais a dificuldade de aprová-las, dadas a resistência geral dos defensores do meio ambiente e das investigações de vários setores, como Ministério Público, e menos da falta de dinheiro no mercado público ou privado.
As grandes reportagens contemplam a divergência e Consuelo Dieguez, ao apresentar as críticas à JBS, não deixa de expor as versões dos proprietários. Joesley Batista contrapõe: “É preciso que fique claro que o BNDES é acionista da JBS. Se ele não quiser mais as ações da empresa, pode vender no mercado a qualquer momento, e vai ganhar dinheiro porque comprou a 7 reais e agora vale quase 12 reais”.
Há uma certa má vontade com a JBS? A resposta é sim, porém, no lugar de “certa”, talvez seja possível pôr outra palavra, “muita”. A tese de Joesley Batista: “Acho que é porque nós somos jovens, de Goiás, não somos quatrocentões, não estudamos naquele colégio aqui de São Paulo que os filhos dos grandes empresários estudaram”. Pode não parecer, dada a falta de refinamento do discurso, mas é uma análise sociológica de como operam as elites sulistas, sempre tentando travar as elites emergentes de outros Estados. “Chega a ser engraçado. A gente vira polêmica e outras empresas que fazem coisas muito mais audaciosas do que a gente não viram. Não vejo falarem da Nestlé, de Unilever. (…) O banco nunca colocou dinheiro conosco em situação de crise. Sempre foi para expansão e não para salvamento.”
Comprando para crescer no país e no mercado externo
Um analista disse à “Piauí” que os Batistas forjaram “uma forma diferente de crescer nos negócios. Eles não expandiram para depois comprar. Eles foram comprando para se expandir”. Os empresários, sempre arrojados, compraram os frigoríficos Anglo, Bordon e a Swift Armour. “Todo mundo desconfia de nós porque dizem que crescemos muito rápido. Mas tem 25 anos que a gente cresce uma média de 30% ao ano. Quando começamos, éramos o menor de Goiás. A cada três anos nossa empresa dobrava de tamanho. E isso acontece até hoje.”
A história da JBS-Friboi, da origem até o momento, precisa ser estudada de maneira abrangente, com pesquisas de economistas e administradores de empresa. Ao contrário do que comumente se pensa, não basta ter dinheiro para crescer. Outras empresas receberam dinheiro do BNDES e quebraram. A JBS, tida como a mais favorecida, continua. Vale pesquisá-la para além do registro meramente jornalístico. Porque, de repente, pode ser um modelo de empresa de matiz novo, mas que está sendo estudada como uma empresa de caráter antigo.
Para Wesley, na grande expansão de 2017, quando a empresa abriu seu capital, “o mundo estava jorrando liquidez e fizemos o maior IPO (oferta pública inicial de ações) da Bolsa brasileira. Vendemos 20% da empresa por 800 milhões de reais”.
Em seguida, o J. P. Morgan, incumbido de vender a Swift americana, procurou os dirigentes da JBS. Os Batistas já eram donos da Swift argentina, “com 40% do valor da compra financiados pelo BNDES”, conta Consuelo Dieguez. A JBS valia 2 bilhões de dólares e pretendia adquirir uma companhia que de 10 bilhões de dólares. Parecia um negócio impossível.
A Swift não estava bem. “Não foi um movimento irresponsável. Nós estudamos a Swift e vimos que a crise da empresa não tinha a ver com o mercado americano. Era, na verdade, um problema de má gestão. Frigorífico é igual em tudo quanto é lugar do mundo. Matar boi é tudo igual. O que faz dar um bom resultado é a forma de administrar”, diz Wesley. A JBS queria “entrar no ramo de abate e processamento de carne suína”.
Porém, para entrar no mercado americano, a JBS precisava de capital. “Os 800 milhões de reais que haviam levantado na Bolsa não seriam suficientes. Foi então que o BNDES foi convocado a entrar no jogo como sócio. A JBS começava a se transformar no maior símbolo do projeto de campeões” do governo petista, sublinha Consuelo Dieguez.
As ofertas para comprar a Swift deveriam ser feitas por carta, mas os dirigentes da JBS pediram e conseguiram “uma conversa olho no olho”. “Eles ofereceram 1,3 bilhão de dólares; os vendedores pediram 1,7 bilhão.” Os negociadores chegaram ao valor de 1,525 bilhão. “Quando os vendedores aceitaram, eu agarrei a mão deles e falei ‘tá fechado’, para não ter risco de mudarem de ideia”, exulta Wesley. “O BNDES entrou com 750 milhões de dólares.”
Wesley percebeu que a Swift tinha dirigentes demais e “demitiu 50 vice-presidentes e diretores no primeiro dia”. Logo descobriu que os americanos eram mestres em desperdício. “Eles deixavam um monte de carne no osso. Eram toneladas que se perdiam por mês”, afirma o empresário. “Ele mesmo tratou de ensinar como se fazia.”
Com filiais na Austrália e no Canadá, a Swift controlada pelos Batistas “tem cerca de 90 mil funcionários e um faturamento anual na casa de 20 bilhões de dólares. Quando a compraram, ela dava prejuízo de 200 milhões. Dois anos depois, teve um lucro de 450 milhões”. Consuelo Dieguez expõe tudo, com precisão, sem comentários, como é típico do jornalismo “objetivo”. Mas vale um comentário, digamos subjetivo: brasileiros estão obtendo lucros numa empresa em que americanos, os capitalistas-exemplos mundiais, estavam fracassando! A exclamação é, sem dúvida, procedente.
Americanos aprovam rigor da JBS
Com aporte de 2,6 bilhões de reais do BNDES, a JBS adquiriu a Smithfield Beef Group, “outra gigante americana de carne”. Os Batista defenestraram 200 altos executivos e o custo caiu “em 45 milhões de dólares”. Os americanos estariam impressionados com seus métodos de gestão, que têm garantido mais eficiência, portanto competitividade. “Os americanos têm muito mais boa vontade com a gente do que os brasileiros. Eles nos respeitam muito mais”, garante Wesley.
Apesar de ganharem muito dinheiro, de terem aderido às técnicas modernas de gestão, que priorizam produtividade-competitividade, com custeio mais baixo da operação, os Batistas não se instruíram. “Não gostam de ler, de ir ao teatro ou ao cinema.” “O que a gente gosta mesmo é de trabalhar. Essa é a nossa grande diversão”, assegura Joesley.
O passo seguinte se deu em 2009, com a aquisição da Pilgrim’s Pride, “a maior empresa produtora de frango fresco e processado dos Estados Unidos”. A JBS também passou a controlar o frigorífico Bertin. Mais uma vez, o anjo da guarda da empresa reapareceu, com 3,5 bilhões de reais. O Gabriel dos Batistas é o BNDES, que se tornou sócio “do empreendimento”.
O blefe do ex-dono da Pilgrim’s
“Piauí” relata, com mestria, a negociação com a cúpula da Pilgrim’s Pride. Bo Pilgrim, de 80 anos, exigiu 2,88 bilhões de dólares. Wesley disse que não pagaria este valor e o dono da Pilgrim deixou a sala, “batendo a porta”. Porém, logo depois retornou. Estava blefando. “Ele me disse: ‘Você é difícil, eu queria saber até onde você ia’”, relata Wesley, que pagou 2,8 bilhões de dólares pela Pilgrim’s.
Incorporação do Frigorífico Bertin
Joesley, que havia ficado no Brasil, anunciou a incorporação do Bertin, “assumindo sua dívida de 4 bilhões de reais”. Consuelo Dieguez sugere que o apoio à compra da Pilgrim’s obteve apoio do BNDES com a condição de que a JBS “salvasse” o negócio do Bertin. “O BNDES topara entrar com capital na Pilgrim’s com a condição de empurrar o Bertin, à beira da falência, para a JBS.” O BNDES, com este negócio, livrou-se de um prejuízo de 2,5 bilhões de reais. Uma mão, enfim, lavava a outra. O BNDES salvava a JBS de um lado e a JBS salvava o BNDES do outro. Wesley contesta: “Você acredita que uma empresa do tamanho da nossa ia se submeter a essa exigência do BNDES. Nós assumimos o frigorífico porque fazia todo o sentido para a nossa operação”. Dada a dependência que a empresa tem do banco, é possível que a versão de Wesley seja imprecisa ou insuficiente.
Faltou à “Piauí” mencionar a “CartaCapital”, autora de uma reportagem contundente sobre a negociação entre a JBS e o Bertin. Há alguma coisa não devidamente esclarecida no negócio. Os empresários dos dois lados brigaram na Justiça e, depois, fizeram acordo — talvez sob pressão do longo braço do governo federal. Talvez.
A “Piauí” destaca que “o BNDES havia aportado quase 18 bilhões de reais aos frigoríficos eleitos e praticamente todas as operações estavam desmoronando”. O BNDES injetou 250 milhões de reais no Frigorífico Independência, mas, “três meses depois”, a empresa quebrou. O que sugere “dolo” de uma ou das duas partes — empresa e banco.
BNDES já está lucrando?
Uma informação curiosa é apresentada por um funcionário do BNDES à “Piauí”: o banco já estaria ganhando dinheiro com a parceria com a JBS. “Fizemos a conversão de debêntures em ação por 7 reais e ela está em mais de 11. Já ganhamos 520 milhões em prêmio.”
Rejeição dos produtores rurais
O sucesso da JBS não agrada a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). O economista Péricles Salazar diz que a parceria BNDES e JBS não é positiva para o mercado em geral. “O que se ganhou com isso? Uma concentração gigantesca, perda de competitividade dos frigoríficos que não receberam os mesmos benefícios do governo e pressão sobre o preço da carne.”
Péricles Salazar denuncia que a JBS dita “o preço da carne, a forma e as condições de compra. Isso afeta muito os produtores”. A revista acrescenta que, “dos 25 milhões de bois abatidos por ano com o Serviço de Inspeção Federal, 8 milhões são da JBS, que exporta metade desse total”.
“JBS não é só espuma”
Dada a ligação da JBS com o BNDES, sob condições privilegiadas, o setor financeiro sempre percebeu a empresa com relativa desconfiança, como se fosse um castelo de areia, que, como os negócios de Eike Batista, desmoronariam com um leve empurrão. Porém, segundo a “Piauí”, “o mercado financeiro começa a ver o grupo com mais boa vontade”. O analista de um grande banco de investimentos contou que, nos Estados Unidos, a imagem do grupo é mais bem positiva do que há alguns anos. “Os resultados da JBS no terceiro semestre do ano passado” melhoraram a percepção do mercado. “A empresa teve lucro de 1,1 bilhão de reais — embora insignificante comparado ao faturamento anual de 116 bilhões de reais, demonstrava que havia revertido a trajetória de perdas dos anos anteriores.” A revista sustenta que “as ações da JBS têm se valorizado nos últimos tempos”. A opinião do analista consultado pela “Piauí”: “… a expectativa é de que, com o fim das aquisições, a empresa passe a dar lucro e os ganhos dos acionistas tendam a aumentar. Apesar de a empresa estar muito endividada, a estratégia de aquisições foi acertada. A JBS não é só espuma, como o Eike Batista. Não é só exploração de subsídio. Essa é uma história muito menos maniqueísta”.
Em 2013, indicando que não para de crescer — teme-se, no mercado, um crescimento desmedido e, daí, uma queda rápida —, a JBS comprou a Seara, “a segunda maior empresa de alimentos processados do País” (perde só para a Brasil Foods, fusão da Perdigão com a Sadia). Além da Seara, a divisão JBS Foods adquiriu a Rezende, a Massa Leve, Doriana e Pena Branca.
Negócios que estão fracassando
Os negócios da JBS não voam apenas em céu de brigadeiro. Há problemas. A empresa Eldorado, de papel e celulose, não vai nada bem. As duas fábricas de Mato Grosso receberam 4 bilhões do BNDES, com aporte de “fundos de pensão das estatais, como o Petros, da Petrobrás”. Mas a empresa não decolou e se tornou um sorvedouro de dinheiro. Sua dívida chega a 6,7 bilhões de reais, mas o patrimônio da empresa é de apenas 886 milhões.
A Swift argentina “desmoronou”. O governo de Cristina Kirchner interferiu no mercado de carne e a “JBS fechou suas seis unidades por falta de condições operar no país”.
Grandes empresas tendem a criar seus próprios bancos, quando não se associa a alguma financeira de porte. A JBS criou o Banco Original, hoje um banco de negócios. Henrique Meirelles preside o Banco Original e a holding J&F.
A parceria de avô para neto entre o BNDES e a JBS parece que está quase no fim. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou que “o BNDES não” fará “mais grandes operações de expansão de crédito com dinheiro do Tesouro”. O economista Sérgio Lazzarini, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), e autor do livro “A Reinvenção do Capitalismo de Estado”, com Aldo Musacchio, comenta: “É realmente necessário que o Estado dê dinheiro para essas grandes empresas? Elas não poderiam andar pelas próprias pernas? Não é à toa que surgem suspeitas de favorecimento”.
Com ou sem BNDES, a JBS não para de crescer. A compra da Primo “fará da JBS a maior produtora de carne suína da Austrália”.
Joesley não quer saber de Kátia Abreu
Assim como a “Piauí” às vezes trata os irmãos Batista como se fossem exóticos homens de tanga que estão “comprando” o mundo (na área de carne, ao menos), Joesley comete uma indelicadeza com a ministra da Agricultura, Kátia Abreu: “Nós somos donos da maior empresa de carne do mundo, temos as maiores empresas dos Estados Unidos. Você acha que eu vou estar preocupado com o que pensa uma senadora do Tocantins? Não há nada que ela possa fazer contra nós. Nem negócios no Tocantins nós temos. Que ela seja feliz”.
Fracasso da publicidade com Roberto Carlos
A identificação do ator Tony Ramos com a carne do frigorírico Friboi deu certo. A publicidade ajudou a vender o produto e, sobretudo, a consolidar a imagem do grupo. Mas a publicidade com o cantor Roberto Carlos deu com os bois n’água. O rei foi superado pelo plebeu.
Joesley disse a Consuelo Dieguez que “a polêmica em torno do cantor, que se dizia vegetariano, ter ou não ter voltado a comer carne tinha muito mais força do que o anúncio, ofuscando-o. ‘Ninguém falava da Friboi, só do Roberto Carlos’”. A JBS investe 800 milhões de reais por ano em publicidade.
Doadores de campanhas políticas
Nas eleições de 2014, na qual a presidente Dilma Rousseff, do PT, foi reeleita, a JBS doou 366,8 milhões de reais para as campanhas dos políticos, em vários Estados. É a maior doadora do Brasil. Joesley diz que, como o grupo está instalado em 20 Estados, teve de fazer a contribuição. Sua explicação não parece tão plausível assim; fica-se com a impressão de que foi ensaiada com advogados: “Temos de participar da vida democrática. Não podemos nos recusar a ajudar os políticos das comunidades onde temos nossos interesses”. Nos negócios, e a política é um negócio, não há tanto altruísmo. “Piauí” nota que o valor doado representa “30% do lucro da empresa no último trimestre do ano”.
2015 será um ano ruim?
Joesley acredita que, apesar do noticiário falar apenas em crise, a JBS não será afetada. “Nós vamos continuar crescendo, como crescemos todos esses anos.”
Iris Rezende não foi sócio dos Batistas
[Júnior Friboi e Iris Rezende: parceiros inicialmente, agora são adversários e, até, inimigos]
A repórter investigou uma história falsa: “Chegou-se a dizer que [Iris] Rezende era o sócio oculto da Friboi em vários frigoríficos, entre eles o Anglo. Uma história nunca comprovada e sempre negada pelas partes envolvidas”. Tanto não é verdadeira que a família Batista e Iris Rezende não se toleram e sequer conversam. Os Batistas avaliam que Iris torpedeou a candidatura de Júnior Friboi ao governo de Goiás, em 2014. Quanto a Iris, governador de Goiás por dois mandatos, já disseram que era sócio da Arisco, TV Serra Dourada e TV Anhanguera.
(No caso específico dos negócios do Grupo Jaime Câmara, quando a família Marinho, dona da TV Globo, decidiu não renovar a concessão de sua programação à família Câmara, há vários anos, pouco mais de duas décadas, os empresários goianos recorreram aos préstimos de Iris. Amigo do chefão Roberto Marinho, Iris o procurou, no Rio de Janeiro, e o convenceu a receber Jaime Câmara Filho e sua mãe, Célia Câmara. Um filho do doutor Roberto resolveu o problema. O político goiano conseguiu a renovação da concessão e a TV Anhanguera continuou retransmitindo a programação da Globo. Numa entrevista ao Jornal Opção, Iris relatou a história e disse que, como uma espécie de presente, recebeu algumas ações da família Câmara e, mais tarde, as deu de presente de casamento para um amigo. A rigor, portanto, nunca foi sócio de verdade da família Câmara, tampouco de José Alves Queiroz na Arisco e na TV Serra Dourada. A vocação de Iris é política e, no máximo, cuidar de suas fazendas em Guapó e no Xingu.)
Joesley garante que Lula não é sócio da JBS
[Henrique Meirelles, Joesley Batista e Lula: o primeiro está na JBS. E Lula não tem sociedade]
Há também a história de que a JBS é do ex-presidente Lula da Silva e de seu filho Fábio Luís Lula da Silva, mais conhecido como Lulinha. Eles seriam sócios ocultos. “Essa é uma história sem pé nem cabeça”, resume Joesley. “A gente faz um esforço danado, para vir esses ‘filha da mãe’ dizer que a empresa é do Lulinha?”
Lula e Lulinha, profundamente irritados, ameaçam processar quem espalhar a história, que teria sido divulgada, entre outros, pelo site Observador Político, “que foi administrado pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso entre 2011 e 2013. O gerente do site é Daniel Graziano, filho de Xico Graziano, ex-ministro de FHC. Graziano pai trabalhou na campanha de Aécio Neves para presidente da República.
Momento antropológico e lombrosiano
Há momentos em que Consuelo Dieguez, repórter de texto fluente, ótima contadora de histórias, acima da média, às vezes passa a impressão de que é uma filha retardatária do italiano Cesare Lombroso (1835-1909) e do brasileiro Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) ao sugerir que Wesley Batista tem “fisionomia de matuto” (só faltou uma descrição detalhada de sua cabeça) e que Joesley assemelha-se a um índio (preconceito de origem dupla: contra Joesley, que não se parece com índio, e com os índios, que aparentemente são apresentados como não-modernos, portanto, superados). “Joesley tem 42 anos, cabelos castanhos e lisos, lábios finos e olhos levemente puxados, como os de um índio”, registra Consuelo “Nina Rodrigues” Dieguez.
A reportagem da “Piauí” é, talvez, a mais exaustiva sobre a JBS. E, surpreendentemente, superior às de jornais e revistas especializados em economia, como “Valor Econômico”, “Exame” e “Dinheiro”.