É provável que o petista seja afastado do páreo pela Justiça, o que fortalecerá os políticos de centro e um de direita

Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles, Jair Bolsonaro e Lula | Fotos: Reprodução

O Brasil parece estar diante de mais uma década perdida. Essa futurologia — que espero, se veja frustrada — está se desenhando em letras nítidas nas eleições presidenciais do ano que vem. A ressureição da reeleição presidencial, por obra e graça da vaidade de Fernando Henrique Cardoso, somada à força que tem aqui um presidente da República, praticamente garante, a quem se elege, oito anos de mandato.

Se a petista Dilma Rousseff foi reeleita, acontecerá com qualquer um, por mais ignorante e incompetente que seja. Logo, quem suceder ao presidente Michel Temer estará no comando por quase uma década, para o bem ou para o mal.

Volta de Lula
Imaginemos alguns cenários, ainda que só especulativos. Sabemos da precariedade da astrologia política. Um destes cenários seria uma eleição de Lula da Silva (PT), hoje o primeiro nas pesquisas, apesar da roubalheira e de sua indiscutível responsabilidade na eleição de Dilma Rousseff, que quase nos leva ao abismo.

Uma volta de Lula à Presidência da República seria o pior cenário, com um retorno e logo um aprofundamento da corrupção, do “politicamente correto”, e da ideologia de esquerda na administração pública, significando o avanço do Estado na economia, a redução das liberdades democráticas e a internacionalização equivocada que nos aproximou da Bolívia, de Cuba e da Venezuela, já com tantos prejuízos. Nossa recessão interna se aprofundaria, o desemprego cresceria (menos para os “esquerdistas”), o cartorialismo empresarial aumentaria, o déficit público iria a níveis insuportáveis e nossa inserção no mercado externo seria dificultada pela falta de competitividade. Cairia a classificação internacional do país e desapareceria a poupança externa, de que dependemos para crescer. Depois disso tudo, só o dilúvio.

Ao que parece, tal cenário estaria afastado pela condenação do apocalíptico em segunda instância. Mas a influência lulista nas eleições será grande, sem dúvida, o que pode levar a um segundo turno o candidato das esquerdas, seja Ciro Gomes, Jacques Wagner ou outra figura ungida pelo lulismo. Não parece, no momento, haver lugar para as outras esquerdas que não as do petismo lulista ou a ela ligadas.

Manoela D’Ávila, do PCdoB, é mais uma brincadeira e uma baliza para marcar posição do partido.

Marina Silva (Rede) é e será apenas a “fada da floresta”, com suas propostas etéreas.
A eleição de outro candidato empurrado por Lula da Silva significaria uma volta atenuada de Dilma Rousseff ao governo. Atenuada, pois nem Ciro Gomes nem Jacques Wagner são tão despreparados quanto ela. Embora Ciro Gomes seja até mais prepotente e ignorante.

Nome do PSDB
Outro cenário seria o da eleição de um candidato do PSDB. Como o PSDB não é um partido, mas uma miscelânea de crenças, vontades e vaidades, sem nenhuma consistência interna, só individualizando, para se enxergar algo em termos de perspectiva eleitoral.

Para não complicar mais nossas divagações, já tão fluidas e impalpáveis, fiquemos com o candidato mais provável, Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo. João Doria, o prefeito de São Paulo, já parece ter aterrissado de seu voo de pato. O senador Aécio Neves fraturou-se nos escorregões éticos e José Serra, além dos problemas de saúde, também não consegue explicar bem a origem de certos dinheiros surgidos em suas campanhas. Fernando Henrique bem que gostaria de voltar ao governo, mas entre idade e vaidade, a primeira se impõe (87 anos em 2018).

Não se discute sobre as qualidades de Alckmin: governou por três mandatos o Estado de São Paulo, que é meio Brasil; tem boa formação cristã; passou imune pelos terremotos da corrupção política; é de uma discrição e seriedade admiráveis. Sua fragilidade não está em sua pessoa, mas na sua circunstância. E como dizia Ortega y Gasset, eu sou eu e o que me cerca.

Um Alckmin presidente teria que ceder às exigências de seus companheiros de partido, entre os quais vamos encontrar as mesmas distorções que encontramos entre os petistas. PSDB e PT são quase “farinha do mesmo saco”. Mais precisamente, são a mesma farinha em sacos diferentes. Um de sisal, outro de seda. Esquerdistas ambos os partidos, um saiu do sindicalismo, outro da universidade. Um tem gente que estudou, e se julga superior por isso; outro tem gente que não estudou e disso se vangloria. Os filiados ao PSDB gostam de uísque e champanhe; os filiados ao PT, de uma boa cachaça e, depois de tantos anos de poder, vinho. Tucanos adoram Paris, petistas se contentam com uma boa praia brasileira (apartamento no Guarujá) e um isopor cheio de cerveja. Corrupção, encontramos nos dois partidos. Há apenas uma pequena diferença de competência entre quem estudou, mas é preguiçoso e delega, e quem nunca leu nada e se acha formado na “universidade da vida”, e se mete a fazer o que não entende, embora seja também preguiçoso.

Geraldo Alckmin tem tudo, pessoalmente, para ser um bom presidente. Falta a ele apenas uma pequena dose de carisma. Mas como ser um bom presidente tendo que abrigar no governo (e terá que fazê-lo) figuras como José Gregori, José Serra, Aécio Neves, Aloysio Nunes?

Jair Bolsonaro
Outro cenário é o do presidenciável que desponta em segundo lugar em todas as pesquisas: Jair Bolsonaro. Resiste a uma artilharia de toda a imprensa, que sabemos 95% esquerdista. É inevitável a comparação com Donald Trump em sua eleição, que mobilizou toda a imprensa e o meio artístico dos EUA contra. Guardadas as devidas proporções, o ódio da esquerda americana surgiu em sua verdadeira grandeza contra Trump como surge aqui o da esquerda brasileira contra Bolsonaro. Eu diria que isso conta a seu favor.

É o único candidato que promete remover o “entulho petista”, presente na segurança pública, um dos grandes males a nos afligir, e que mais e mais se agrava. Não tem qualquer envolvimento com a corrupção, por outro lado. É prejudicado mais por suas qualidades do que por seus defeitos. Odiado pelas esquerdas por combater o controle social que vem sendo implantado desde a Constituição de 1988, como censura da imprensa (não implantada, mas tentada e substituída pelo patrulhamento), desarmamento (totalmente implantado), abortismo, desencarceramento, menoridade penal, avanço do Estado na economia e o “politicamente correto” gramcista, é o único candidato que promete tomar medidas necessárias.

Jair Bolsonaro diz, com todas as letras, que movimentos marginais como o MST devem ser combatidos, que bandidos e menores delinquentes devem ficar atrás das grades para não roubar e matar inocentes e que mandar dinheiro do BNDES (logo, dos pobres brasileiros) para Cuba ou Nicarágua é crime e deve ser punido. Que Bolsa Família é para quem precisa e deve ser temporária, substituída por trabalho digno. Que empresas estatais são cabides de emprego e fábricas de corrupção.

Acontece que o eleitor menos esclarecido (e há uma grande massa deles) prefere quem fale mentiras agradáveis do que verdades incômodas. Não há como ser otimista se pensarmos em Bolsonaro eleito e suas relações com o Congresso Nacional que temos. Nem se pensarmos em suas relações com a imprensa, esquerdista e acostumada às mamadeiras oficiais.

A maioria dos congressistas atuais, que têm a boca torta pelo mau uso do cachimbo, será (infelizmente) reeleita. E a imprensa continuará de esquerda, talvez por séculos.

Henrique Meirelles
Há, finalmente, Henrique Meire­les (PSD), a disputar os votos de centro com Geraldo Alkmin, mas com experiência política e bagagem eleitoral bem mais reduzidas. Enfim, devemos ter, ao final, três candidatos representativos: um da direita (Bolsonaro), um da esquerda (Lula, Ciro Gomes — mais provavelmente — ou outro nome petista, como Fernando Haddad), e um de centro (Alckmin ou Henrique Meirelles).

Num segundo turno entre Bolsonaro e Ciro Gomes, o candidato de centro deve apoiar Ciro — e o desastre é visível.

Num segundo turno entre Bol­sonaro e Alckmin, Ciro Gomes, com toda a esquerdalha, morrerá de trabalhar pelo governador de São Paulo.

Se sobrarem para a disputa final Ciro Gomes e Alckmin, o apoio de Bolsonaro será tão óbvio, que pouco terá que ser cortejado para apoiar o tucano. Ainda assim, terá voz para obter algumas promessas do apoiado, o que sem dúvida significará algum progresso na remoção do petismo, que resiste em muitos bolsões do serviço público. Isso apesar da reação da esquerdalha do PSDB, que preferirá perder eleição a ter o apoio de Bolsonaro. Mas tudo isso são conjecturas, e poderão todas não passar de fumaça. Que surja então uma melhor, esperemos. l