Cansado de esperar pela prisão em Brasília, o deputado e mensaleiro João Paulo Cunha (PT) manteve a mala pronta e fechada, mas tomou o rumo de São Paulo no meio da semana. Preferiu esperar em casa, Osasco, a volta do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que decretou a sua prisão no último dia 6, mas saiu em férias com a chave da cadeia.
Se a ansiosa espera de Cunha pela ordem de prisão que lhe permitiria se apresentar à Polícia Federal saísse antes da viagem do presidente do Supremo à Europa nesta semana seria o fim de duas semanas de ansiedade pelas grades.
Enfim, o deputado, presidente da Câmara no primeiro governo Lula, poderia se incorporar aos companheiros mensaleiros que o aguardam no presídio da Papuda. Sem fazer barulho, Delúbio Soares já descolou autorização da Justiça para trabalhar na CUT a R$ 4,5 mil mensais de salário. Irá à prisão apenas para dormir. Mas Zé Dirceu continua lá.
A esperança de Cunha em ser preso logo cresceu diante do anúncio da assessoria do Supremo de que o ministro Barbosa interromperá as férias nesta semana antes de embarcar à Europa, onde tem compromissos a partir de quarta, em Paris. Depois, irá a Londres no dia 27. Volta para casa no dia 30. Se tivesse um tempinho antes de viajar, bem que poderia mandar prender Cunha.
Mas tudo era mistério. A divulgação da agenda europeia do ministro saiu apenas depois de um impacto inesperado. O repórter Felipe Recondo noticiou que Barbosa receberá do Supremo mais de R$ 14 mil em diárias durante a fase europeia das férias. Com precisão, serão R$ 14.142,60 em diárias. Participaria de eventos que não estavam em sua agenda de presidente.
Então, no mesmo dia, a assessoria anunciou que Joaquim Barbosa interromperia as férias antes de ir à Europa com compromissos oficiais. Por isso, a nova viagem seria a serviço. No outro dia, distribuiu a meticulosa programação do ministro durante a jornada europeia. Com a suspensão das férias, viriam as diárias, mas com passagens aéreas pagas pelos anfitriões estrangeiros.
Quem convida são as universidades de Sorbonne, em Paris, e King’s College, em Londres. Junta-se a ambas o Conselho Constitucional da França. Barbosa diz que realizará palestras e retribuirá visitas que recebeu em Brasília de representantes acadêmicos e jurídicos franceses e ingleses. Nada quanto ao que mais interessava a Cunha, a ordem de prisão na suspensão das férias.